Em janeiro, quando foi publicado o decreto que determina o retorno das aulas presenciais em modelo híbrido, no dia 5 de abril, o cenário não estava nem perto do que o município está vivenciando hoje – quase 90% dos leitos de UTI covid-19 ocupados e os números de contaminados subindo dia após dia. Com o quadro atual, pais e responsáveis se mostram contrários à retomada das aulas neste momento, e o Sindicato dos Professores de Petrópolis e Região (Sinpro) alerta que, devido ao agravamento da situação, esse não é o momento para o retorno às salas de aula.
“A nosso ver, tudo é desfavorável, não só em termos de Petrópolis, mas no estado do Rio e no Brasil de um modo geral. Nós viemos verificando um agravamento das condições sanitárias referentes à covid-19 e, para nós que, torcíamos para que a situação se tornasse mais favorável, infelizmente, o país caminhou para o contrário, para o agravamento”, disse o diretor do Sinpro, Frederico Fadini.
O Sinpro pretende se reunir novamente com a Comissão da Educação da Câmara Municipal, com o Sepe Petrópolis e com a Secretaria de Educação para novamente discutir a data para a retomada as aulas presenciais.
Na última semana, a Secretaria de Educação enviou um comunicado aos responsáveis dos alunos com comorbidades solicitando o envio de atestados ou laudos médicos das crianças com comorbidades, até a última sexta-feira (12). O pedido alertou os responsáveis e também gerou preocupação com a possibilidade do retorno às salas de aula das crianças que são do grupo vulnerável à doença.
“Além do curtíssimo prazo, inúmeros responsáveis estão relutantes em tirar suas crianças de casa no auge da pandemia no município, com o sistema de saúde à beira do colapso, expondo os pequenos e familiares ao risco de se contaminarem em filas nas unidades de saúde para comprovar uma patologia que já fora entregue em anos anteriores nas próprias escolas”, disse a mãe de um aluno, que preferiu não ser identificada.
O infectologista Antônio Luiz Chaves Gonçalvez, que é professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis e também integra o Sinpro, disse que é radicalmente contra o retorno neste momento, embora a Sociedade Brasileira de Pediatria seja favorável.
“A gente está vendo que a situação da covid saiu do controle. A gente esta vendo agora no Brasil uma disseminação e um colapso de estruturas hospitalares. E isso vai acontecer em Petrópolis. Nós não sabemos o que vai acontecer nos próximos meses, nas próximas semanas, ainda não tem controle, não tem vacina”, alerta.
De acordo com o infectologista, expor crianças e profissionais da educação – o que envolve, além de professores, merendeiras, inspetores, entre outros – vai ajudar a disseminar o vírus. Para o médico, sem o avanço da vacinação para o público de 60 a 74 anos, não há o que se discutir em relação a retomada das aulas presenciais. “Essa discussão está fora da realidade. Estamos no momento de fazer isolamento social sério. Estamos em um momento epidemiológico caótico”, disse.
De acordo com o decreto municipal, só poderão voltar as aulas presenciais as escolas que tiverem o selo Escola Segura, que garante que a unidade escolar, seja pública ou privada, vai oferecer as condições de higienização e prevenção a contaminação pelo coronavírus. A Tribuna questionou a Prefeitura sobre quais escolas já tem o selo.
O que diz a Prefeitura:
Em relação ao laudo solicitado aos responsáveis, a Secretaria de Educação informou que fez a solicitação do laudo dos alunos com comorbidades para que a equipe do Departamento de Educação Especial possa registrar e documentar cada caso, possibilitando uma programação específica de atendimento para cada aluno quando as aulas retornarem no formato híbrido. Alunos com comorbidades deverão manter o atendimento online. E disse que é importante salientar que as escolas já possuem, em muitos casos, esses laudos, que são válidos (não havendo, portanto, necessidade de apresentação de novo documento).
Segundo a Prefeitura, esse levantamento é importante para fortalecer o acompanhamento de cada aluno. Sobre o prazo para entrega dos documentos, o mesmo será ampliado. Cabe lembrar que a entrega do documento deve ser feita na escola, conforme informado no ofício, e não na secretaria. A data inicial para entrega apenas serve para nortear o trabalho.
Sobre o plano de retorno e a certificação de escolas com o selo Escola Segura, a Prefeitura informou que todas as unidades escolares que estiverem preparadas, seguindo as orientações de retorno conforme determinado pela Secretaria de Saúde e Vigilância Sanitária receberão o selo. O plano prevê retorno com ensino híbrido, metodologia que combina aprendizagem presencial e remota. No plano de retorno há previsão de retorno gradual, escalonado, e opcional.
Sobre o retorno das aulas, o governo municipal interino informou que está monitorando os dados de covid-19 permanentemente, em conjunto com a Secretaria de Saúde e Vigilância Sanitária, para que possa definir as próximas ações tanto em relação a novas medidas restritivas quanto ao plano de retorno de volta às aulas no sistema híbrido.