Professores por um fio
Não há dúvidas de que o desenvolvimento socioeconômico de qualquer país depende de uma educação de qualidade. Para que a realidade social do país seja transformada, mostra-se fundamental o trabalho dos professores, que deveriam ser devidamente valorizados pelo essencial papel que prestam na difícil construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
O que ocorre, no entanto, é exatamente o oposto. Os profissionais da educação estão diariamente expostos a condições extremamente precárias para o exercício de suas atividades, sofrem todos os tipos de pressão em ambientes muitas vezes inseguros e violentos, assim como enfrentam as dificuldades da baixíssima remuneração, que traz consigo a necessidade de trabalhar em diversas instituições, com uma jornada de trabalho exaustiva e incontáveis trajetos estressantes.
Nesse contexto, não é por acaso que o número de professores afastados por transtornos psíquicos quase dobrou em 2016 em São Paulo. Até setembro deste ano, 27 mil docentes se afastaram do trabalho por questões comportamentais.
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgados no relatório sobre educação de 2014, deixam evidente a fatigante rotina dos educadores no país. Apenas 40% dos docentes que atuam nos primeiros anos de ensino têm dedicação exclusiva, ou seja, os demais precisam se deslocar entre pelo menos duas instituições para garantir sua renda mensal. Sem contar o tempo para planejamento de aula, correção de provas, elaboração de trabalhos, qualificação profissional, entre outros elementos fundamentais para o exercício da atividade.
Recentemente, portanto, educadores de vários estados se reuniram na Uerj para discutir essa conjuntura. Dentre os temas abordados estava a Síndrome de Burnout, caracterizada pela tensão emocional crônica provocada pelo trabalho estressante e de intensas interações. A síndrome tem início com sintomas de desânimo e desmotivação com o trabalho, culminando em doenças psicossomáticas, afastamento temporário da atividade ou aposentadoria por invalidez.
Nesse sentido, enquanto a educação, os profissionais da área, os estudantes e suas famílias não forem prioridade, não há como falarmos em qualquer perspectiva não só de desenvolvimento econômico, mas principalmente de garantia da dignidade, rumo à superação das desigualdades sociais para que os sonhos finalmente sejam possíveis aos que os cultivam.