Problemas no transporte escolar deixam alunos da zona rural a pé na volta às aulas

Alunos da Escola Municipalizada Avelino de Carvalho, na Posse, ficaram a pé nesta sexta-feira. O único ônibus que atende cerca de 60 estudantes deu pane mecânica logo na primeira viagem pela manhã. Pais e responsáveis dizem que esse é o menor dos problemas, com apenas um ônibus para atender a pelo menos seis estradas, as crianças têm saído de casa entre 5h e 5h30 para esperar o ônibus, o turno na escola só começa às 7h. 

A Tribuna ouviu um dos pais dos alunos que disse que está preocupado com a filha de 5 anos. Ela embarca no ônibus às 5h30, e fica horas dentro do coletivo que precisa passar por outros locais para buscar as demais crianças. Isso, nas estradas onde o ônibus consegue acessar. 

Flávio Gonçalves de Mello, presidente da Associação de Moradores do Brejal, conta que o ônibus não consegue acessar todas as estradas devido à situação de manutenção e por se tratar de um veículo inapropriado. Em trechos onde o ônibus não consegue prosseguir viagem, os alunos já embarcados ficam dentro do coletivo com um monitor enquanto a motorista sai para ir a pé, caminha por mais de 500 metros, e conduz os demais alunos até o ônibus. 

O único veículo acomoda três crianças em cada assento, mas, ainda assim, algumas crianças viajam em pé, explica Flávio. Por causa dos vários trajetos, as crianças da manhã acordam 4h45 para embarcar no ônibus entre 5h e 5h30 e só retornam para casa às 14h. “A gente mora há 3,5 km do Colégio, nem é tão longe assim”, comenta.

Flávio disse que já falou pessoalmente com a secretária de Educação, Adriana de Paula, e que em resposta, ela disse que o serviço de transporte escolar foi licitado. Mas Flávio acredita que  o resultado da licitação já é o ônibus que está em circulação. “A gente não acredita que vá mudar muita coisa disso”, disse. 

“Imagina quando começar a chover, essas subidas e descidas com um ônibus grande que é um ônibus para andar no asfalto, não é um ônibus para andar na roça, imagina como vai ficar? Os pais não vão saber se o ônibus vai conseguir trazer as crianças, se as crianças estão no caminho, se teve algum acidente”, disse, preocupado. 

Na primeira semana de aula, em fevereiro, ainda não havia certeza sobre o transporte escolar na região. Na ocasião, a Prefeitura disse que naquela semana o problema seria resolvido com a contratação emergencial de mais ônibus. Após dois anos de suspensão das aulas presenciais por causa da pandemia, esse é mais um ônus que os estudantes da área rural estão tendo que suportar. 

O que diz a Prefeitura:

Em resposta à Tribuna, a Secretaria de Educação informou que o veículo que atende a comunidade citada na reportagem apresentou uma pane mecânica e que o ônibus foi substituído em seguida. No total, seis ônibus atendem a comunidade do Brejal, no distrito da Posse e a previsão é que ainda este mês, mais dois entrarão em operação.

Segundo a Prefeitura, os veículos 4×4 (marruá) dos sete, recebidos no ano passado, dois estão em manutenção e o restante atende as escolas Hildebrando de Carvalho, Theófilo Machado, Paulo Freire e Paula Buarque, além do Centro de Educação Infantil (CEI) Graça Costa.

O governo municipal informou ainda que antes do retorno das aulas, em fevereiro, a Secretaria de Educação abriu licitação para contratar a empresa que fará o transporte complementar. Enquanto isso, segundo a Prefeitura, um contrato emergencial foi assinado para garantir o serviço nessas regiões de difícil acesso. O mesmo foi feito com o serviço de manutenção dos 48 ônibus do Programa Caminhos da Escola, que também atendem as escolas da rede municipal.

Ao todo, alunos de 36 escolas da rede municipal de ensino de Petrópolis são atendidos pelo transporte escolar, seja pelos ônibus do Caminhos da Escola ou pelo transporte complementar, informou a Prefeitura. 

O que diz a empresa:

Após a publicação da matéria, a Viação Cedro se posicionou sobre o ocorrido, segue a nota de esclarecimento:

“Não houve pane mecânica em nenhum de nossos veículos no decorrer da prestação dos serviços. O atraso verificado no dia 11 de Março no 1° horário da manhã, aconteceu por precaução por parte de nossa motorista, que ao notar uma luz de advertência no painel eletrônico do veículo, preferiu acionar a equipe de manutenção da Empresa a fim de não ocasionar danos ao veículo.  Neste particular, as crianças foram transportadas em outros dois veículos direcionados pela Empresa. O serviço foi normalizado já a partir da segunda viagem/horário. Todo e qualquer veículo de nossa Empresa está em total acordo, seja em questões mecânicas ou documentais, com as exigências contratuais; Informamos que o quantitativo de veículos disponibilizados à comunidade do Brejal não é estabelecido por nossa Empresa e sim pela Municipalidade. Vale salientar que a Comunidade do Brejal é atendida por 06 veículos atualmente; Os horários de embarque e desembarque dos alunos são definidos pelas Escolas e demais órgãos competentes; A fim de atender a todos os alunos, nossos colaboradores, gentil e espontaneamente, exercem atividades que extrapolam as funções para as quais foram contratados, inclusive direcionando as crianças de sua residência até o coletivo, em locais impossibilitados de trafegar com ônibus; Questões relativas à manutenção viária, que geram atrasos e demandam outros tipos de cuidados, devem ser tratadas com a Municipalidade; A Prefeitura de Petrópolis já deu início aos serviços de recuperação das vias, e acreditamos e confiamos que, em breve, essa questão será resolvida. A Cedro Locadora reiterando o compromisso em prestar seus serviços sempre de maneira transparente, íntegra, pontual e com qualidade, se coloca à disposição para esclarecer eventuais dúvidas dos moradores e/ou responsáveis para que, informações imprecisas e desassociadas dos fatos, não venham a ferir a imagem de nossa Empresa”.

*Matéria atualizada em 19/03, às 20h10.