• Prisão de Ronaldinho tem criminosos famosos e foi palco de torturas na ditadura

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  • 09/03/2020 08:02

    Narcotraficantes, terroristas, políticos e dirigentes de futebol processados por lavagem de dinheiro. Uma população diversa está abrigada na Agrupação Especializada de Assunção, a prisão em que Ronaldinho Gaúcho está preso.

    O astro e seu irmão Assis passaram no domingo a terceira noite reclusos no local. Lá, os ex-jogadores são vizinhos de criminosos de todo tipo de periculosidade: de traficantes de drogas e membros do Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho a políticos detidos por enriquecimento ilícito.

    A Agrupação Especializada da Polícia está localizada no bairro de Tacumbú, em Assunção, não muito longe da maior cadeia da capital do Paraguai: a Penitenciária de Tacumbú. De fato, o local não é uma prisão, mas um quartel da Polícia Nacional – no entanto, tem sido usado como espaço para receber detentos há anos.

    Durante o período da ditadura militar de Alfredo Stroessner, a Agrupação Especializada era conhecido como Agrupação de Segurança. Lá, presos políticos foram torturados, mortos e até enterrados durante os anos mais duros de repressão do regime. Até hoje é possível ver os lugares onde parentes das vítimas realizaram escavações em busca de valas comuns para tentar encontrar restos dos desaparecidos com base em relatos escritos e orais daqueles que viram os perseguidos chegarem e morrerem naquele local.

    Com a chegada da democracia, o lugar tornou-se a sede da Agrupação Especializada. Segundo um levantamento feito anos atrás pelo jornal ABC Color, esta é uma unidade de elite que apoia os trabalhos da Polícia Nacional. O quartel possui cinco companhias de suboficiais e dois grupos da polícia de choque de 150 agentes, que prestam serviços por turno. A segurança do local é composto por 18 policiais.

    Além da guarda permanente, existem 24 câmeras de segurança localizadas nos pavilhões, assim como dentro e fora das instalações. Os policiais monitoram tudo de uma sala.

    NÃO É UMA PRISÃO – Toda autoridade que assume o Ministério do Interior insiste que o Agrupamento Especializado não é uma prisão. “Esta não é uma penitenciária, é um instituto da Polícia Nacional, mas, para uma questão excepcional, pode ser usada. Não é para prisioneiros, é para policiais”, disse o atual ministro do Interior, Euclides Acevedo, há semanas.

    No entanto, continua a abrigar presos. O quartel funciona de maneira improvisada como um local de prisão de criminosos considerados altamente perigosos ou abriga pessoas que, por algum motivo, não são consideradas prudentes de serem enviadas para prisões comuns. Por exemplo, todos os policiais que devem cumprir uma pena disciplinar são encaminhados para a sede do Agrupamento Especializado.

    As salas ou celas destinadas a policiais que prestam seus serviços ou a pessoas indisciplinadas passaram a ser ocupadas por criminosos de alto risco, como sequestradores, homicidas e narcotraficantes.

    VIZINHO DE DPUTADOS – Ronaldinho ocupa uma sala em um setor do Agrupamento Especializado que não vinha sendo usada como local de confinamento, sendo designada para funções administrativas.

    Como resultado da recente alta da demanda por vagas onde “presos especiais” não se juntam aos perigosos, esse espaço foi novamente reajustado para funcionar como celas. Há pessoas como o deputado Miguel Cuevas, membro do movimento “Colorado Añetete”, ao qual pertence o atual presidente da República, Mario Abdo Benítez. Cuevas está no local desde a semana passada e cumpre prisão preventiva, acusado de enriquecimento ilícito, tráfico de influência e declarações falsas.

    Ramón González Daher, vice-presidente da Associação Paraguaia de Futebol e do Comitê Olímpico do Paraguai, e irmão do ex-senador pelo Partido Colorado Óscar González Daher, também está lá. Ambos são processados por crimes como suposta lavagem de dinheiro e usura. Segundo a Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro, a família Gonzalez Daher movimentou em cinco anos cerca de US$ 1,6 bilhão (aproximadamente R$ 7,4 bilhões).

    NARCOTRAFICANTES E CRIMINOSOS PERIGOGOS – Mas nem todos os vizinhos de Ronaldinho são criminosos de “colarinho branco”, também existem alguns perigosos no local. Embora ele não esteja mais por lá, durante anos Pablo Vera Esteche esteve no mesmo quartel – ele confessou ser o assassino do vice-presidente Luis María Argaña, morto em março de 1999.

    Também abriga o fundador e líder do autodenominado Exército do Povo Paraguaio (PPE), Alcides Oviedo Brítez. O PPE é um grupo terrorista que baseia suas ações em guerrilhas como as FARC, da Colômbia. Outros membros do grupo criminoso estão lá, como Aldo Meza, Anastacio Mieres e Vaciano Acosta.

    Vários membros dos grupos criminosos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho também estão detidos lá. Por exemplo, foi o local em que o narcotraficante Luis Henrique Boscatto ficou preso antes de ser extraditado para o Brasil há algumas semanas. Estima-se que 147 criminosos estejam detidos no local.

    CENÁRIO DE ASSASSINATO – O momento mais crítico do Grupamento Especializado provavelmente ocorreu em abril do ano passado, quando o narcotraficante brasileiro Marcelo Pinheiro, conhecido como Marcelo Piloto, assassinou em sua própria cela uma mulher de 18 anos, identificada como Lídia Meza. Aparentemente, esse crime foi praticado como uma medida extrema para ser julgado no Paraguai, evitando ser extraditado.

    Assim, entre traficantes de drogas, terroristas e políticos, se desenvolve a vida de Ronaldinho em uma prisão no Paraguai, onde ele chegou para lançar um livro e participar da abertura de um cassino, mas agora é investigado pela acusação de uso de documentos falsos, que poderia ser estendida à lavagem de dinheiro e outros crimes.

     

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