• Pressionado, Fed deve fazer primeiro corte de juros desde dezembro

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  • 17/set 08:30
    Por Aline Bronzati, correspondente / Estadão

    O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve cortar os juros pela primeira vez desde dezembro do ano passado na reunião que começou ontem e termina hoje. Mesmo com a inflação ainda fora da meta e que pode piorar em razão do tarifaço do presidente Donald Trump, a autoridade monetária terá o desafio de calibrar a política monetária sem causar danos à economia dos EUA, que tem dado sinais de desaceleração, com a criação cada vez menor de empregos. A reunião marca a estreia do indicado de Trump no Fed, o economista Stephen Miran.

    Em Wall Street, a aposta quase geral – por volta de 96% dos analistas consultados – é de que o Fed começará o afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto porcentual, segundo a plataforma CME Group. Se o movimento se confirmar, os juros americanos passarão para o intervalo de 4% a 4,25% ao ano, após cinco reuniões consecutivas nas quais as taxas permaneceram inalteradas.

    A grande mudança desde a última decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) foi o sinal mais forte de esfriamento do mercado de trabalho nos EUA, o que elevou o desemprego no país. O primeiro alerta veio em julho, quando o país criou 73 mil novas vagas, ante expectativas que apontavam para 101 mil. Além disso, os dados de maio e junho foram revisados, o que resultou em uma baixa de 258 mil postos. Agosto chancelou a expectativa de corte de juros pelo Fed após os EUA criarem 22 mil empregos no mês, muito aquém dos 76 mil previstos.

    “Resguardar o mercado de trabalho se tornou a principal prioridade do Fed, e é muito provável que isso leve a um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa de juros nesta semana”, diz o time de economistas do Goldman Sachs liderado por Jan Hatzius.

    PREÇOS. Por sua vez, a inflação americana continua distante da meta do Fed, mas acelera praticamente em linha com as expectativas. Os recentes índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) mostram que o impacto das tarifas de Trump se espalha pela economia, mas ainda de maneira limitada.

    Casas como o Bank of America (BofA) e o Morgan Stanley, que descartavam cortes nos juros neste ano, mudaram de ideia diante da deterioração do mercado de trabalho nos EUA. Nas últimas semanas, também ganhou força a aposta em um Fed mais agressivo na primeira tacada do ano, podendo cortar os juros em até 0,5 ponto porcentual. É o que esperam o britânico Standard Chartered e o francês Société Générale.

    Trump voltou a pressionar o presidente do Fed, Jerome Powell, pela queda das taxas no país. “‘O muito atrasado’ apelido que Trump usa ao falar de Powell precisa cortar as taxas de juros agora, e com redução maior do que tinha em mente”, escreveu ele na segunda-feira, em postagem na Truth Social. Ontem, ele voltou a tratar do assunto. “A taxa de juros deveria ser muito menor”, disse Trump. Questionado sobre a independência do Fed, ele respondeu: “Eles deveriam ouvir pessoas inteligentes como eu”.

    MAIS INFLUÊNCIA. Na reunião desta semana, Trump passa a ter mais influência sobre a autoridade monetária americana. O Senado dos EUA aprovou na segunda-feira o nome do seu indicado, o economista Stephen Miran, para um assento na diretoria do BC americano. É a primeira vez, desde a criação do Fed moderno na década de 1930, que um membro em exercício do Poder Executivo também servirá no banco central, segundo o The Wall Street Journal. Miran ocupa cargo como um dos principais conselheiros econômicos da Casa Branca.

    Com sua chegada, alguns operadores preveem chances de até três votos dissidentes a favor de um corte maior, de 0,5 ponto porcentual. Além de Miran, os diretores Christopher Waller e Michelle Bowman poderiam defender uma tesourada maior, repetindo o que fizeram na reunião de julho. O feito seria inédito na história do Fed. “Seria a primeira vez na história que três membros do conselho de governadores do Fed votariam contra a decisão da maioria”, disse o diretor-gerente e economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Marcello Estevão, ao Estadão/Broadcast.

    Menos “dovish” (jargão usado pelo mercado para indicar uma política monetária menos restritiva), o Morgan Stanley projeta apenas Miran votando pelo corte de 50 pontos. “Não esperamos outros dissidentes”, diz o economista-chefe do banco para os EUA, Michael Gapen. Quem também teve a presença garantida, ao menos por ora, foi a diretora Lisa Cook. Um tribunal de apelação rejeitou o pedido de Trump para destituí-la do Fed na segunda-feira, um dia antes do início do encontro. A diretora se tornou alvo do republicano após ser acusada de fraude hipotecária.

    PREVISÕES. Independentemente do tamanho do corte, os analistas americanos devem olhar com atenção as projeções econômicas do Fed. O Bank of America espera que o BC dos EUA continue apontando a expectativa de um corte total de 0,5 ponto, neste ano, e outra redução de mesma proporção em 2026. Mas os riscos apontam para chances de um corte total de 0,75 ponto em 2025, diz.

    Outro ponto de atenção do mercado é a entrevista coletiva que Powell costuma conceder após a decisão de juros. Para economistas, Powell deve manter tom parecido com o discurso no Simpósio de Jackson Hole, no mês passado, quando ele mudou o tom e reforçou o alerta para o aumento dos riscos no mercado de trabalho. O Fed divulga a decisão de política monetária nesta quarta, às 15h (horário de Brasília). Powell comentará os resultados da reunião em entrevista à imprensa, que ocorre 30 minutos depois.

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