• Presidente carne fraca

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  • 01/04/2017 12:00

    Nos anos 1970 correu que um funcionário da Coca-Cola sofrera infarto, morrendo num tanque do refrigerante. Teria ficado dias, derretendo e indo para as garrafas de líquido negro. As pessoas teriam macabramente degustado refresco de cadáver. Era mentira. Mais recentemente, o mesmo refrigerante foi acusado de conter ratos, cujos restos teriam adoecido o consumidor que processou a empresa. Perdeu, pois fiscalizações e laudos desmentiram a história.

    Vivemos os efeitos da Operação Carne Fraca, na qual, tudo indica, ressalvadas irregularidades reais e corrupção efetiva, conclusões apressadas e atabalhoada divulgação levaram o mundo a crer que comíamos papelão na carne moída, filés cancerígenos e até, conforme a piada da internet, pelos do Tony Ramos em nossos churrascos. Fez-se pânico internacional, vendas caíram e, justo em tempos de crise, empregos estão evaporando.

     Neste contexto viralizou o vídeo sobre pombos como matéria prima de cervejas brasileiras. Detetives de internet atestaram que o vídeo em que pombos são moídos com cevada, infelizmente, é real. Mas nada tem a ver com cerveja, e sim com pão. Foi gravado por empregados de uma panificadora russa, para fins de denúncia contra os donos da empresa às autoridades da futura sede da Copa do Mundo.

     Mas há casos comprovados de baratas no pão de forma, coisas estranhas em embalagens de leite, pedras no feijão, bichos na salada, e por aí vai. Não é de se estranhar que se acredite em farinha de pombos na cerveja, suco de cadáver e churrasco de papelão. Mas daí a se imaginar toda uma indústria delinquente, toda a carne produzida no Brasil, podre e cancerígena, como se acreditou, vai um abismo. Que só pode ser vencido pela evidente, colossal e crônica descrença geral nas instituições, nas empresas, nas autoridades, no capitalismo, no socialismo, no Temer, na Dilma, no Lula. Acho que hoje o Brasil só acredita no Tite, e um pouco no Neymar.

     Mas com papelão, cancerígenos e pelos do Tony Ramos, de verdade, quem está é o governo, que se provou carne fraca. Após o impeachment e da fugaz esperança de que fizesse o tal governo de notáveis (nomes acima de qualquer suspeita), Temer se entregou aos medíocres e peemedebistas pecados da carne e até, pasmem, carícias de amor com Lula. Além disso, a Terceirização aprovada pela Câmara é exagerada e cruel, como exagerada e cruel a Reforma da Previdência proposta. Uma e outra, noutros termos, a meu ver, são necessidades. Mas do jeito que fizeram, darão num exército de brasileiros subempregados nas terceirizadas, onde trabalharão até a morte, pois que pagarão previdência sem possibilidade de usufruto. Ademais, estará dada a hipótese surreal de, por exemplo, uma agência bancária funcionar apenas com uns três gerentes do quadro efetivo impondo medo em metas a todo os caixas e escriturários, precários terceirizados. Terceirizados serão vítimas de alta rotatividade e minguada empregabilidade, em tempos de contração do mercado de trabalho. Se a diferença entre veneno e remédio é a dosagem, estão postos os venenos de Temer.

    E, já com hematomas, digo serem ridículos os que apedrejam críticos de Temer que foram pró-impeachment. Como se as coisas fossem excludentes! Como se não tivesse sido a grossa incompetência petista o que nos meteu no buraco em que estamos. Ora, o PT, a gente aprendeu a custo muito alto, se tornou – ética e ideologicamente – grande papelão em carne fraca.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

     

     

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