• Preço de grãos pode recuar com supersafra brasileira, mas carnes devem subir este ano

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  • 11/jan 11:22
    Por Isadora Duarte e Francisco Carlos de Assis / Estadão

    Os preços dos principais produtos agrícolas no mercado doméstico devem ter comportamentos distintos neste ano, segundo analistas de mercado ouvidos pelo Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

    Para os grãos, a supersafra brasileira, estimada em 322,42 milhões de toneladas no mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e o menor crescimento econômico global tendem a arrefecer as cotações. Já as carnes, em especial, devem subir mais de dois dígitos em meio à oferta restrita e à demanda aquecida. No caso das commodities softs (como açúcar e café), o cenário é de sustentação dos preços. Em comum entre as commodities, a principal incógnita na formação de preços é o fortalecimento do dólar, que afeta a competitividade das exportações brasileiras e a paridade interna de preços.

    Para soja e milho, principais produtos agrícolas brasileiros, a previsão é de queda dos preços domésticos, embora em menor proporção que a vista em 2023 e em 2024, avalia a analista da Tendências Consultoria Gabriela Faria, economista responsável por agropecuária e biocombustíveis. A reação recente dos preços dos grãos, segundo Faria, foi reflexo das incertezas quanto ao plantio em meio à seca histórica do Brasil e não deve se estender ao longo deste ano. “Os números mostram a tendência de uma safra recorde para a soja com a demanda continuando no mesmo nível, enquanto para o milho, considerando um período ideal de plantio, o Brasil também deve ter uma boa safra. A oferta forte e a demanda estável fazem com que os preços caíam”, explica a analista.

    Faria observa que a desaceleração da economia chinesa, maior país importador de grãos e principal destino das exportações brasileiras, pode se refletir no consumo de grãos. Do lado da oferta global também não há indicativos de sustentação para os preços dos grãos, com estoques mundiais elevados e safra recorde dos Estados Unidos. “A partir da entrada da safra nacional, os preços devem começar a cair. A velocidade e a intensidade da queda vai depender da demanda, mas tende a ser maior para a soja que para o milho”, pontua Faria.

    Na mesma linha, o sócio-diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht, não acredita em baixa generalizada dos preços com uma demanda ainda sustentada, mas também não enxerga sinais para alta. O câmbio e a eventual retomada da guerra comercial entre Estados Unidos e China também devem direcionar os preços dos grãos brasileiros, observa ele. “Não vemos riscos na oferta de grãos, sobretudo da safra da América do Sul, e nem mudanças significativas no balanço de oferta e demanda mundial, o que torna difícil a recuperação dos preços. As incógnitas são uma eventual retaliação chinesa aos EUA, que pode contribuir na precificação dos produtos agrícolas brasileiros e o patamar do dólar, se continuará ou não acima de R$ 6. São fatores que exigem cautela”, avalia Hausknecht.

    No caso do milho, a queda tende a ser menor que a projetada para a soja em virtude da demanda local aquecida, segundo o gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves. “O balanço global de milho não é tão folgado quanto o da soja, além dos estoques limitados. A grande incógnita quanto aos preços do milho é a janela ideal para plantio da safrinha com as chuvas atuais no Centro-Oeste, que podem atrasar a colheita de soja e dar suporte à estabilidade dos preços do milho”, pondera Alves.

    Já na pecuária, a tendência é de fortalecimento dos preços com demanda interna e externa aquecida e oferta restrita. Os valores da carne bovina, em especial, devem subir mais de dois dígitos, projetam os analistas. “Veremos a retenção de fêmeas ganhar tração neste ano e os preços do boi gordo e do bezerro subirem, com a forte virada de ciclo prevista para 2026”, aponta Alves, do Itaú BBA. Os preços de carne de frango e suína podem se beneficiar do aumento da carne bovina, embora em menor medida, e também subirem apoiados pelo aumento da demanda relativa. “Os números são positivos para produção de carne suína e de frango”, destaca Alves.

    Para Faria, da Tendências, o consumo firme da carne bovina deve levar a uma alta expressiva dos preços do boi gordo no mercado doméstico, que tende a ser repassada ao consumidor final. “Além da menor oferta interna, o cenário de exportações é muito relevante com queda na produção dos Estados Unidos e maior demanda do mercado internacional pela carne vermelha brasileira. Fora isso, o consumo doméstico está aquecido com melhora na renda das famílias e desemprego em nível baixo”, acrescenta.

    Os preços do açúcar e do café também devem se manter firmes e remuneradores ao produtor, ambos impulsionados por restrição na oferta. No caso do café, o ano será de bienalidade negativa, o que já indica uma produção menor, além dos efeitos climáticos adversos que afetaram parte das lavouras. “A tendência é altista para o café, tanto local quanto internacional, com expectativa de melhora na safra somente em 2026. Ainda não está claro o quanto a produção será menor e qual será o tamanho do déficit global, que pode chegar a 6 milhões de sacas. Isso pode levar a novos recordes nos preços do café no curto e médio prazo, em uma trajetória semelhante à observada com o cacau em 2024”, explica Alves, do BBA.

    Em relação ao açúcar, as queimadas registradas em 2024 e a seca recente limitam o aumento da produção nacional na safra 2025, que se inicia em abril. “A safra de açúcar vai depender do desenvolvimento do clima. Apesar de a recuperação potencial dos canaviais ser restrita, por outro lado, há uma capacidade de produção maior”, comenta Hausknecht, da MB Agro.

    Entre as demais commodities softs, a trajetória do suco de laranja também é semelhante com preços firmes neste ano após impactos da seca nas lavouras no último ano, de acordo com os analistas, assim como a conjuntura do algodão é de manutenção de preços.

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