• Precisamos respirar

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  • 19/03/2016 13:00

    É só uma opinião, mas ocorreu-me que, a cada 30 anos, mais ou menos, esse Brasil de berço esplêndido acorda em cataclismo. Essas convulsões destrutivas sobre as quais se ergue algo novo. República, Revolução de 30, Golpe de 64, Impeachment de Collor, Impeachment da Dilma.

     Tenho a impressão de que, a cada ciclo desses – sempre rompido em estrondos de fúria, relâmpagos de paixão, e torrentes de sangue e suor – vivemos processo lento, penoso, cruento, mas evolutivo. Crescemos. Não é coisa de Dr. Pangloss, de achar que vivemos sempre sucessos, no mundo ideal. Sei que há doridos retrocessos, quedas na lama e fraturas na alma. Mas acho que são dores de crescimento, o que enfrentamos, país adolescente que somos.

     Nos mobiliza, hoje, esse sentimento de abismo, típico de adolescência, em tempos de esticão, quando a aflição hormonal explode de forma incontrolável em tempestade de afetos passionais e ódios inexplicáveis. Por isso, essa atual e irracional passionalidade política, que rompe famílias e rasga relacionamentos. Mas, cuidado. Pois adolescência é quando o moleque assim descomedido se atira a vícios e paixões. E se o adolescente é um país, esta é a fase em que um país pode jogar-se na lama. Mas não esqueço que adolescências sadias, bem orientadas, são tempos de desassombro e desprendimento, que dão em virtuoso destino, adultos vitoriosos. Assim também com países. 

     Sabe-se que o adolescente precisa “matar” no pai o super-herói da infância, para ganhar asas e seguir vida própria. Um dia, já adulto, é que reencontrará no genitor referência, e até amizade. Pois precisa o Brasil desprender-se de heroísmos românticos da sua infância. O PT foi um pouco esse nosso pai super-herói por um par de décadas. Mas desandou, como o pai que trai nossa mãe. Passamos a vê-lo nu, no estrago que se tornou. Vivemos essa rejeição. Por isso, o grande líder que tomba, esfarela, não devia provocar em nós tanto lamento. É vitória da maturidade. Se precisamos de referências, bom é que não sejam elas messiânicas, populistas e autoritárias, como se tornou o Lula deste PT em falência.

     Como a criança que perde a fantasia, é triste que o Brasil perca as ilusões de paraíso que o PT oferecia. Era sonho bonito. Utopia acalentada em carinho por tantos, em lutas de tanto tempo. Mas acabou-se, há muito. Não à toa, saíram Hélio Bicudo, Heloísa Helena, César Benjamin, Marina Silva. Não à toa, o digno Olívio Dutra se declara decepcionado com este PT que viaja de jatinho, ganha dinheiro em suspeitas palestras e anda a braços dados com Maluf. Não à toa, movimento interno liderado por Tarso Genro, se chama Refundação. Quer reconhecer erros. Quem sabe, reinventar um PT com os cacos caídos da dignidade que um dia teve – porque a teve – e refazer um partido, agora sem donos, negociatas, sítios mal explicados, mensalões, nomeações ministeriais que são fugas amalucadas.

     Bem, adolescente Brasil, já te aviso. O pós-PT, duro será. Dias penosos virão. Mas a derrubada desse projeto de poder emporcalhado, ao menos dará um traço de honra aos que terão que reconstruir sobre os escombros. Quem vier, que venha, assim, muito Itamar Franco, digno e quieto, até opaco e calado, mas com humildade necessária a fazer a transição para que o país se acalme, se recomponha, e se capacite a começar novo ciclo, sem ilusões ou populismos equivocados, sem autoritarismos sectários. Porque precisamos respirar. Que Deus nos ajude.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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