Post tenebras spero lucem
Olho o céu. Olho a terra. Olho a árvore. Quanto tempo espero ainda poder olhar. Porém cada vez mais vivos eles parecem e, cada vez mais próxima está a luz. Alguns caminhos percorridos e algumas passagens passam pela minha mente. Assim, minha filha recitando um poema de sua autoria. “O Tempo / Preciso de tempo para aguardar as respostas. / Mas de qual o tempo preciso…? / O meu? / O seu? / Ou o Dele? / Viver sabendo que existe uma outra realidade… / É no mínimo intrigante. / Amar alguém sabendo desta outra realidade… / É muito, mas muito complicado. / Porque ela vive / Em outro Tempo. / Mas as respostas existem, é fato. / Só que estão em outra dimensão. / No irreal / No imaterial / Assim como as conseqüências das minhas atitudes / Das minhas palavras. / Elas já existem / E se expressam com toda força no mundo real / Sou simplesmente… / Joguete do destino / Mas não sinto medo do que pode acontecer / Simplesmente me entrego / Como se eu fosse uno com o universo / E é, nesse momento / É neste Tempo / Que encontro / Todas as minhas Respostas”. – Juliana Hugueney. Meus olhos seguem a linha do horizonte, cheios de lágrimas. O verão, o outono, o inverno, a primavera. O tempo não para, já dizia Cazuza. Hoje, como nunca, desejei que meu dia tivesse algumas horas a mais. Tantos afazeres: compromissos – que não serão cumpridos; tarefas que não serão executadas – leituras obrigatórias, leituras deleitosas, família, filhos, sorrisos, criação em verso e prosa. Costuma-se dizer que o tempo é objeto de luxo. Temos, constantemente, a sensação de que ele, de alguma forma, sempre nos falta. A rotina diária ilude nossa mente, condiciona-a a fazer coisas, automaticamente, roubando-nos a percepção do próprio tempo. Precisava distrair a mente. Peguei uma poesia, que abordava a questão do tempo, e dediquei alguns minutos, os quais teriam de prestar contas mais tarde, a meditar sobre sua mensagem. Lembrei-me de quando eu tinha tempo para não pensar em nada. Minha riqueza era sua complacência e não importava o quanto se tinha a esperar ou perder, o tempo me fazia entender. O que importava era o agora e o caminho a seguir, sem receios do que viria à frente. Mas o tempo é paciente, mais do que todos nós, que somos tão de repente. Nós crescemos, ele não; às vezes, nos perdemos; não do seu olhar. Permitimos por nossas mãos escapar e tentamos o aprisionar, ingenuamente, numa máquina de registrar. Porém, ele é que nos torna reféns de máquinas que nos aprisionam. Agora, zomba de nós, dia a dia, sem parar. E nessa batalha inglória, o vemos, sempre para frente andar, enquanto ele observa, paradoxalmente, em nós, o tempo sempre voltar. Como se nos oferecesse uma nova chance de recomeçar. “Se te comparo a um dia de verão / És por certo mais belo e mais ameno / O vento espalha as folhas pelo chão / E o tempo do verão é bem pequeno / Às vezes brilha o Sol em demasia / Outras vezes obscurece com frieza; / O que é belo declina num só dia, / Na eterna mutação da natureza. / Mas em ti o verão será eterno, / E a beleza que tens não perderás; / Nem chegarás exausta ao triste inverno: / Nestas linhas com o tempo crescerás. / E enquanto nesta terra houver um ser, / Meus versos ardentes te farão viver.” -William Shakespeare. Assim, com o passar do tempo: “Depois das Trevas espero a Luz”.
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