• Portas fechadas, transmissão online e apreensão: como será a Semana Santa

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  • 02/04/2021 16:48
    Por Leonardo Augusto, Especial para o Estadão / Estadão

    A Igreja Católica tenta, na segunda Semana Santa em meio à pandemia do novo coronavírus, manter a emoção das celebrações do período sem a presença dos fiéis. Igrejas de Aparecida, em São Paulo, e das cidades históricas de Minas Gerais vão encenar momentos como a Via Sacra, o Sermão das Sete Palavras e o Descendimento da Cruz de Jesus Cristo exclusivamente dentro dos templos, e com adaptações para transmissão pela televisão, rádio, portais e redes sociais.

    Padres responsáveis pela organização da Semana Santa deste ano falam em tristeza pela impossibilidade da presença física dos devotos, mas reafirmam a necessidade de manutenção do distanciamento social, da vacinação e de todos os cuidados cientificamente comprovados como eficazes para evitar a propagação do vírus.

    “Fica para nós mais uma Semana Santa que a gente faz com certa tristeza. A grande lição que nos vem é o desejo, o sonho, nem de ganhar presente, de fazer festas, nada, nada, nada. É simplesmente a grande graça de sobreviver ao coronavírus. É isso que vamos pedir ao Nosso Senhor por intercessão de Nossa Mãe Aparecida”, afirma o padre José Ulysses da Silva, porta-voz do Santuário Nacional em Aparecida.

    Em 2019, somente na Sexta-Feira Santa, eram esperados 43 mil romeiros em Aparecida. “A gente esperava que já pudéssemos contar com os fiéis participando ativamente dentro do santuário, mas infelizmente não vai ser possível”, diz José Ulysses. “Vamos viver uma Semana Santa que vai ser celebrada toda ela dentro da basílica, de portas fechadas”, relata.

    O padre diz que toda a liturgia da Semana Santa será integralmente realizada dentro da igreja, com transmissão pelos canais de comunicação próprios. Em Aparecida, a adaptação passa pela interação dos fiéis que acompanharão a transmissão. O padre pede, por exemplo, que os devotos mantenham um crucifixo próximo à televisão, rádio ou computadores, para que repitam em casa, por exemplo, o gesto do beijo na cruz, que ocorre na Sexta-Feira da Paixão.

    Tapetes coloridos de serragem apenas a porta das igrejas

    A adaptação para que a Semana Santa sem a presença física de fiéis coubesse nas transmissões de televisão e redes sociais atingiu uma das principais marcas de Ouro Preto: os tradicionais tapetes de serragem colorida. Em tempos sem pandemia, a população espalha o material ao longo de dois quilômetros de ruas da cidade por onde passam procissões.

    Este ano, os tapetes serão colocados a partir deste sábado, 3, somente na frente das igrejas da cidade, como a de São Francisco e a do Pilar, que terão as celebrações da Semana Santa transmitidas pela televisão e redes sociais. “O momento é crítico. As pessoas entenderam que há uma crise”, afirma o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo. Minas Gerais está desde o último dia 17 na chamada onda roxa, a mais restritiva quanto ao funcionamento de atividades econômicas e circulação de pessoas, para evitar a propagação do vírus.

    Também como parte das celebrações em Ouro Preto, anjos de decoração foram dispostos nas sacadas da Casa de Tomás Antonio Gonzaga, onde funciona a secretaria municipal de Turismo. Há ainda espalhadas pela cidade cruzes altas nas quais foram dispostos panos vermelhos e roxos, cores representativas da Semana Santa.

    Link de transmissão distribuído pelo padre de Congonhas

    As transmissões de celebrações pela data começaram logo cedo hoje, 2, em Congonhas. O padre Barbosa, conhecido como padre Paulinho, da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, enviava por volta das 9h o link aos fiéis para a transmissão de uma procissão realizada dentro da igreja. “Tudo será transmitido pelo canal próprio da matriz nas redes sociais e apenas com a presença do celebrante e da equipe responsável pela emissão da cerimônia, um grupo de menos de dez pessoas”, diz o padre.

    O religioso afirma não haver outra maneira de manter as celebrações, e que os fiéis também demonstraram tristeza por não poderem participar das celebrações nas igrejas. “São dois sentimentos. É o não poder estar junto na semana maior da fé, na maior expressão da nossa fé católica. Por outro lado é também uma atitude de prudência, de prevenção, porque todo mundo está acompanhando ao mesmo tempo o sofrimento dos que morreram, as perdas familiares”.

    O padre Marcelo Moreira Santiago, responsável pela Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Mariana, mas que responde também por comunidades como a de Antonio Pereira, da vizinha Ouro Preto, afirma que a grande maioria dos fiéis compreende a situação, mas lamentam a impossibilidade de por mais uma ano não poderem participar presencialmente das celebrações da Semana Santa.

    “Não podemos vivenciar como se fosse uma coisa normal o Brasil ter estatística de mais de três mil mortes por dia pelo vírus”, aponta.

    “A fé é essencialmente humanitária, é uma convivência de irmãs e irmãos. E isso implica aproximação, solidariedade e convivência no espaço religioso. “Assim como o povo, nós, sacerdotes, ficamos tristes por não podermos celebrar a Semana Santa com a comunidade perto. Mas há também uma comunhão espiritual nesse momento de dor, mas que se reverte em esperança”, crê o religioso.

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