
Porre de felicidade
Na noite de domingo de carnaval, o verde e o amarelo desfilaram em tapete vermelho, tendo como porta estandarte “Ainda Estou Aqui”. Muitos foram às ruas em “porre de felicidade”, ou, como queira, nas palavras de Nelson Rodrigues, em um “farto pileque cívico”, para “sacudir” e “zoar toda cidade” como narra os versos do samba-enredo de 1989, da querida Escola de Samba União da Ilha do Governador.
Sim, vibrei, quando ouvi: “And the Oscar goes to… I’m still here”.
O filme dirigido por Walter Salles recebeu da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica de Hollywood o Prêmio de Melhor Filme Internacional, no palco do Dolby Theater, em Los Angeles.
Em segundos, veio, à mente, uma longa-metragem que passou por: “Pagador de Promessa”, “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Cabra Marcado para Morrer”, “Macunaíma”, “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, “Eles não Usam Black-tie”, “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, “Pra Frente Brasil”, “Central do Brasil”, “Edifício Master”, “A Hora e a Vez de Augusto”, “Rio, 40 graus”… são muitos que plainaram essa estrada. E a cinematografia brasileira sempre teve a Literatura como uma grande aliada…
Indubitavelmente, muitos lutaram para que o cinema brasileiro conquistasse o reconhecimento mundial. Muito chão por esta estrada foi percorrido. Lamber rapadura é arte do saber esperar sem se amargurar. Um dia chega a hora e a vez de expor a nossa euforia com os raios da liberdade, surgindo com o Sol da manhã. Quem já chorou no “escurinho do cinema” sabe que, na ternura, é que se concentra a resistência.
Temos que erguer o berço esplêndido e mostrar o nosso valor, as nossas riquezas, a nossa Arte e romper com o “vira-latismo”, citado por Nelson Rodrigues em uma crônica publicada antes da Copa de 1958, tendo ainda em mente a frustrante, a dolorosa derrota da Seleção Brasileira para o Uruguai, em 1950, em pleno Maracanã: “por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol.”
“Ainda Estou Aqui” entra para a história como o primeiro filme brasileiro a receber um Oscar. Outros foram indicados, mas não contemplados como “Quadrilho”, “Central do Brasil”, “Cidade de Deus”, “O Menino e o Mundo”, “Democracia em Vertigem”.
Esse filme de Walter Salles foi indicado em três categorias: “Melhor Filme”, “Melhor Filme Internacional” e teve Fernanda Torres concorrendo como “Melhor atriz”. Para não ficar com os pés muito distantes do chão, estabeleci um critério para controlar a minha euforia: em primeiro lugar, fiquei na torcida para que ganhasse como Melhor Filme Internacional, em segundo lugar, para que ganhasse como Melhor Filme e, em terceiro lugar, fiquei na torcida para que a Fernanda Torres ganhasse como melhor atriz. E para ter uma noção melhor da concorrência, fui assistir ao filme “Emília Pérez”. Saí do cinema certo de que a realidade exposta em “Ainda Estou Aqui” suplantaria a ficção do concorrente citado. O Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe Saldaña foi merecido, pois ela carrega a linha narrativa do citado filme, que apresenta características de um musical. E dentro desse contexto, saiu vencedor com o prêmio de Melhor Canção Original, “El mal”. Quem se lembra dos prêmios recebidos pelo filme “Beleza Americana” em 2000, não se surpreendeu com a premiação de “Anora” como Melhor Filme.
E, para finalizar essa nossa reflexão, quero apenas dizer que a vida de Eunice Paiva exposta no filme, “Ainda Estou Aqui”, não se trata de “comercial de margarina”, como alguns tentam desqualificar a história de uma mulher, mãe de cinco filhos que luta para, pelo menos, ter o atestado de óbito do marido assassinato por um regime governamental. O filho, Marcelo Rubens Paiva, narra, em livro, essa luta heroica da mãe para obter notícia do esposo, o ex-deputado federal Rubens Paiva.
A verdade encontra o seu lugar, pois sabe vencer o tempo. Confesso que me entristece, quando vejo brasileiros torcendo contra o Brasil e cristãos desejando a morte do Papa Francisco.
– Oro pelo argentino, Papa Francisco. Que ele recupere a saúde e continue sua caminhada em busca da Paz.