Políticos tentam se aproveitar de protesto antivacina no Canadá
Os protestos de caminhoneiros contra a vacinação obrigatória em Ottawa, capital canadense, invadiram a política local e causaram um racha entre os conservadores. Ontem, apesar dos pedidos da polícia e de autoridades, muitos manifestantes se recusaram a deixar a cidade, que permanece sitiada.
Caminhões pesados continuaram bloqueando os principais cruzamentos do centro de Ottawa, com muitas empresas, lojas, hotéis e centros de vacinação forçados a fechar as portas pelo terceiro dia consecutivo. Os paramédicos solicitaram escolta policial depois que uma ambulância foi apedrejada por manifestantes.
Pierre Poilievre, um dos nomes que brigam pela liderança do Partido Conservador, se reuniu com alguns caminhoneiros, a quem elogiou. “Acabei de conversar com centenas de canadenses alegres, que fariam qualquer coisa um pelo outro. Eles escolhem a liberdade em vez do medo”, disse.
Poilievre é um dos cotados para ocupar o lugar do líder conservador Erin O’Toole, que corre o risco de cair por tentar levar o partido mais ao centro. Ele recebeu críticas não apenas por perder uma eleição para o primeiro-ministro, Justin Trudeau, mas também pela forma como lidou com vários problemas nos últimos meses.
Violência
Apesar da declaração de Poilievre, o governador de Ontário, o também conservador Doug Ford, criticou os manifestantes. Ele disse que ficou extremamente desconcertado ao ver as pessoas profanarem os monumentos e acenarem com suásticas e outros símbolos de ódio e de intolerância durante as manifestações.
“Há um milhão de pessoas que vivem em Ottawa. Eu ouvi os manifestantes, a província ouviu os manifestantes, o país ouviu os manifestantes”, disse Ford, que foi eleito com um discurso populista. “Agora, é hora de deixar os habitantes de Ottawa voltarem à vida normal.”
Nas ruas, o que começou com um comboio de caminhoneiros protestando contra a obrigação de se vacinar se transformou, nos últimos dias, em bloqueios que isolaram a capital e obstruíram uma passagem na fronteira com os EUA. O tráfego ao redor de Parliament Hill, centro do poder político do Canadá, foi completamente interrompido. Alguns urinaram e estacionaram no National War Memorial. Um dançou no Túmulo do Soldado Desconhecido. Outros carregavam placas e bandeiras com suásticas.
Investigações
O maior protesto pandêmico do Canadá, no entanto, não foi suficiente para angariar simpatia para os manifestantes, principalmente porque mais de 80% dos canadenses estão vacinados. Muitas pessoas ficaram indignadas com alguns comportamentos grosseiros.
O chefe de polícia de Ottawa, Peter Sloly, disse que várias investigações estão em andamento para identificar possíveis crimes cometidos durante os protestos e uma linha para denúncias de casos de crimes de ódio, ameaças e agressões relacionadas à manifestação foi aberta. Sloly disse que uma pessoa foi presa em conexão com as manifestações.
Trudeau chamou os manifestantes de “minoria marginal” e disse que eles refletem a proliferação de “desinformação online, teóricos da conspiração sobre microchips, combinados com chapéus de papel alumínio”, em referência aos chapéus feitos com a crendice de proteger o cérebro de ameaças como campos eletromagnéticos e controle da mente.
Apoio americano
Os organizadores, incluindo um líder supremacista branco, arrecadaram milhões para o protesto, batizado de “Comboio da Liberdade”. O movimento atraiu o apoio do ex-presidente dos EUA Donald Trump e do bilionário da Tesla, Elon Musk.
A insurreição foi considerada tão estranha para os padrões do Canadá que um cientista americano se sentiu compelido a se desculpar pelo que ele retratou como “influência dos EUA”. “O Canadá nos deu bondade, tolerância, poutine (prato típico de Quebec) e hóquei. Por outro lado, exportamos esse terrível movimento falso de liberdade da saúde ligado ao extremismo de direita que causou tanta perda de vidas sem sentido na América e agora pode fazer o mesmo lá”, tuitou Peter Hotez, especialista em doenças infecciosas do Baylor College of Medicine, do Texas. “A eles, nossas desculpas.” (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.