Política tropical
A arte da política, como compromisso público, é exercida pelo cidadão que se candidata, que é eleito, que vota e conduz seus representantes aos palácios executivos e legislativos. Assim, o pleno exercício da democracia, compete ao povo. administrador e fiscal, único responsável pelas ações de seus parceiros eleitos. Se a escolha é feliz e o mandatário cumpre seu papel, de acordo com as leis, regulamentos, normas, a administração caminha para o alto; se, pelo contrário, entram na liça inescrupulosas criaturas humanas pretensas moralizadoras para criarem seus projetos personalistas e corporativistas, o resultado é o exercício nefasto da santa investidura que recebem nas urnas. É o que mais se pratica na atualidade, aqui e ali, sob muitas bandeiras.
Especialmente em nossa tropicalidade tem sido assustadores os atos e fatos da vida política nacional, em cada dia inserto um escândalo, alguns de proporções jamais imaginadas pelas velhas sentenças, não mais acreditadas: “a cordialidade de nossa gente (Sérgio Buarque de Holanda)” ou “o brasileiro é, antes de tudo, um forte (Euclydes da Cunha)”, teses que se esborracham sob as botas da violência e os coturnos da destemperança e, o mais grave, a omissão dos políticos ou, pior ainda, o locupletamento sob o qual eles se aproveitam para viajarem de jatinhos mundo afora, creditando bilhões em contas bancárias e bens luxuosos, alguns já idosos incapacitados do usufruir de tanta grana diante da proximidade biológica do pijama de madeira, mesmo porque a cara de pau já mantém na sua grade curricular.
E tudo circula nas áreas tanto federais, quanto estaduais e pingando nos palacetes municipais. Aliás, muitos destes últimos, vergonhosamente metendo mãos e pés nos sofridos iptus dos munícipes, gastam a rodo em favor da manutenção do poder e das sinecuras e, até, em conluio executivo-legislativo, planejam ferir a Carta Magna na invencionice de situações que beiram à imoralidade.
Não comento nada, apenas observo e me arrepio todo com a coragem de alguns políticos de carreira comprometendo idoneidades para se agarrarem aos status de hoje e em garantia de futuras situações nada condizentes com as leis sob as quais foram eleitos e empossados.
E nem quero citar o lixo e os cofres vazios, o sucateamento da dignidade pública e o caos instaurado que deixam ex-governantes, todos bradando honestidade, com a dignidade de santos homens, aptos a novas investiduras nas próximas eleições com possibilidades de retornarem porque o eleitor brasileiro está sem rumo, não conhece sua história e sua mente apaga a revolta diante das promessas novas, mesmo repetitivas, dos astutos e maneirosos aliciadores de sempre.
Uma tal de “Lei da Ficha Limpa” está em vigor. A favor do quê ou de quem? Afinal, o cumprimento dela está sob fiscalização dos muitos que compõem a nossa mais berrante idiossincrasia política : o auto-legislador… E alguns judiciários lentos e vaidosos andam permitindo que as leis se finjam mortas, sem mexer pestanas diante das armas que pespegam tiros de misericórdia.