• Polícia investiga troca de corpos de bebês no HAC

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  • 09/03/2017 17:05

    Como se não bastasse a dor de perder o primeiro filho, que nasceu prematuro na última terça-feira (7) e morreu horas depois, Suelaine dos Santos Andrade, de 23 anos, viveu outro drama após ser informada sobre o óbito: ela e o marido Júlio César de Souza Bastos, de 25 anos, passaram quatro horas dentro do Hospital Alcides Carneiro (HAC), onde o bebê nasceu, sem saber onde estava o corpo da criança. O pequeno João Miguel dos Santos Bastos morreu às 9h15 mas, por volta das 18h, ao retornar ao hospital após resolver os trâmites para o sepultamento do filho, Júlio percebeu que o caixão fechado tinha outro nome na etiqueta de identificação. Só quatro horas depois, por volta das 22h, a direção do hospital informou à família que o corpo do recém-nascido havia sido entregue por engano a outra família e enterrado ainda durante a tarde no Cemitério de Itaipava. 


    Na capela mortuária do hospital, o caixão com o corpo de João Miguel dos Santos Bastos foi entregue à família de outra criança, uma menina de 10 meses, que também morreu na unidade de saúde. Sem perceber o erro, a família do outro bebê já havia, inclusive, feito o sepultamento. “Minha dor está dobrada. O sofrimento de perder meu primeiro filho e, agora, a dor de não conseguir enterrá-lo. Não consigo entender como isso foi acontecer”, disse, comovida, a mãe de João Miguel. O pai do bebê, Júlio César de Souza Bastos, de 25 anos, lembrou que só percebeu o problema quase 10 horas após a notificação sobre a morte do filho. “O caixão estava lacrado, mas vimos, eu e o rapaz da funerária, que não era o nome de meu filho, era de outra criança, uma menina de 10 meses”, lamentou.

    Segundo informações da família, João Miguel estava internado na UTI Neonatal do HAC. Ele nasceu prematuro, aos cinco meses de gravidez, na terça-feira, de parto normal, pesando 450 gramas. “Meu filho morreu 9h15 da manhã. Me avisaram e disseram que eu tinha que ir ao cartório registrar para poder seguir os trâmites do enterro. Foi o que eu fiz e quando voltei ao hospital, por volta das seis horas da tarde, me entregaram outra criança para enterrar. Fiquei desesperado, como poderiam errar assim? Como poderiam entregar o corpo do meu filho para outra família?”, questionou o pai. 

    Júlio contou que, após receber o bebê errado, começou uma saga para encontrar o corpo do pequeno João Miguel. “Ninguém achava dele. Foi um desespero”, disse o pai, contando que o recém-nascido só foi encontrado horas depois. “Não tem justificativa para o que eles fizeram”, frisou Júlio, que pretende entrar com ação contra o hospital. 

    “Vão desenterrar o meu filho e eu vou ter que enterrá-lo de novo. Como vai ser isso?”, disse a mãe, que teve alta na tarde de ontem. “Minha gravidez foi de risco. Com 22 semanas entrei em trabalho de parto. Ele nasceu muito pequeninho e com os órgãos ainda pouco formados. Sei que ele morreu por esse motivo, mas o que fizeram, entregar o corpo dele para outra família, não dá para aceitar. Não quero ficar mais aqui, não consigo mais olhar para este lugar”, disse a mãe, pouco antes de sair do hospital.

    O caso foi registrado na 105ª Delegacia de Polícia (DP). Hoje à tarde, o corpo do recém-nascido foi exumado. A Tribuna tentou contato com a família que enterrou o recém-nascido por engano, mas não conseguiu localizá-la.

    Prefeitura emite nota

    Em nota, a Prefeitura informou que assistentes sociais, assim como o corpo jurídico do Hospital Alcides Carneiro, estão em contato com as famílias prestando assistência e adotando todas as medidas legais e cabíveis para tentar minimizar o transtorno e o sofrimento dos envolvidos.

    “O desenterramento do corpo e posterior exame de DNA estão sendo conduzidos pela Polícia Civil, onde foi instaurado o inquérito. O hospital está à disposição das autoridades e adotará todas as medidas para esclarecer o caso”, afirmou.

    No texto, o hospital garante, ainda, que seguiu todos os protocolos para liberação do corpo, diz que a direção abrirá um processo administrativo para averiguar as responsabilidades que ocasionaram o erro e finaliza responsabilizando a funerária. “O hospital frisa ainda que a conferência dos corpos retirados deve ser realizada pelo portador da guia de sepultamento – no caso a funerária”.  

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