• Polícia diz que brasileiro lidera de Miami grupo responsável por fuzis no Galeão

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 03/06/2017 11:45

    O delegado Maurício Mendonça, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC), informou ontem (2) que um brasileiro que vive em Miami, nos Estados Unidos, é o líder da organização criminosa que tentou exportar 60 fuzis de alto poder bélico para o Rio. As armas foram apreendidas na última quinta-feira (1) em uma operação da DRFC e da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), no terminal de cargas do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro Galeão/Tom Jobim. O armamento estava acondicionado em aquecedores para piscinas trazidos em contêineres.

    “O indivíduo que está residindo nos Estados Unidos é o líder da organização criminosa e tinha a função de coordenar a aquisição do armamento e a remessa para o Brasil” revelou o delegado, que coordena as investigações, em entrevista à Agência Brasil. O lote apreendido é composto de 45 fuzis do tipo AK47 (origem russa), 14 do modelo AR10 (origem norte-americana) e um fuzil G3 (origem alemã).

    Para Maurício Mendonça, se os fuzis chegassem às mãos de traficantes do Rio, fariam um estrago na cidade. “Os fuzis apreendidos são de calibre 762, fuzis de guerra com alto poder lesivo”, contou, acrescentando que a remessa feita pelo grupo não seria para uma facção criminosa específica. “Eles eram vendedores de armas. Não guardavam vinculação com facções ou organizações criminosas específicas”.

    De acordo com o delegado, as apurações estão em andamento e já identificaram algumas empresas que estão envolvidas. O objetivo agora é a identificação dos sócios, para tentar estabelecer a participação de cada um no organograma criminoso. De outro lado, tentar saber quem compraria as armas no Brasil.

    Os agentes trabalham com a hipótese, bem provável, segundo o delegado, de que já houve outras remessas de armamento para o Brasil nessa mesma condição. Maurício Mendonça, destacou, no entanto, que ainda não é possível saber se na mesma quantidade de armas. “Realmente, a quantidade de armas apreendida ontem é algo muito expressivo e significativo. Seria leviano se dissesse que as outras remessas foram menores ou maiores, porque ainda não temos esse dado coletado”.

    Conforme o delegado, a cada momento, a investigação revela um novo nome que pode ter envolvimento com a atividade criminosa, mas, por enquanto, foram identificados e presos ontem, no Rio de Janeiro, quatro homens: Márcio Pereira e Costa, Luciano Andrade Faria, João Victor Silva Roza e José Carlos dos Santos Lins.

    Apoio nos EUA

    Mendonça revelou ainda que as autoridades norte-americanas foram comunicadas da apreensão e colaboram com a polícia fluminense. “As autoridades americanas se demonstraram solícitas e entenderam a gravidade da causa. Estão empreendendo todos os esforços disponíveis para prestar auxílio à polícia brasileira”, indicou.

    As investigações que permitiram a apreensão das armas, avaliadas pela polícia em mais de R$ 4 milhões, levaram dois anos. O delegado informou que, apesar de o período parecer longo, foi o necessário para que não houvesse incertezas na identificação da organização criminosa.

    “Uma investigação dessa magnitude precisa, ao final, demonstrar com um algum grau de certeza a participação dessas pessoas, porque o delito é muito grave e a questão envolve circunstâncias muito diferenciadas. Então, o inquérito foi trabalhado durante dois anos. Não é um período tão longo quanto parece, para o tamanho da circunstância que envolvia o caso e pelo tipo de organização criminosa que estava sendo investigada”, disse.

    O titular da DRFC disse que as armas estão sendo periciadas e o objetivo é identificar algum número ou característica que possa indicar a origem do material. “Se nós conseguirmos algum sinal, algum número ou algo que possibilite a identificação, será repassado à polícia americana com solicitação de cooperação para identificação do primeiro adquirente dessas armas”, contou o delegado, que não descartou a possibilidade de uma equipe da delegacia ir aos Estados Unidos, se houver necessidade.

    Para que os fuzis possam ser utilizados pela polícia, a Desarme vai elaborar uma representação à Justiça do Rio e solicitar ao Exército que conceda a autorização de uso deste tipo de armamento. Caso sejam liberados, receberão uma numeração pela polícia e inscritos no seu patrimônio.

    “Há um interesse de colaboração [do Exército] para que isso seja feito de forma tranquila e sem nenhum tipo de burocracia extraordinária, considerando que são armas novas em perfeita capacidade de uso da polícia”, destacou.

    Rota testada

    Para Paulo Storani, mestre em antropologia e especialista em Segurança Pública, que foi policial do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro (Bope), a rota utilizada pela organização criminosa, entre Miami e Rio, poderia já ter sido usada com outras quantidades de armamento em uma espécie de teste. “Na medida em que ela não é identificada, passa-se a usar aquela rota e talvez em quantidades menores e não em uma única tacada”, disse, lembrando que a presença de fuzis em mãos de traficantes no Rio de Janeiro caracteriza a violência nos confrontos ocorridos no estado.

    Storani chamou atenção de que, embora nos Estados Unidos seja permitida a compra do armamento, a exportação é vetada. “Lá nos Estados Unidos foi cometido um crime também. Não foi só em ter recebido armas fabricadas fora do país, mas a exportação dessas armas a partir dos Estados Unidos sem ter tido o encaminhamento legal é crime também. Com certeza foi cometido la em Miami um crime de competência do governo federal americano investigar”, alertou.

    Últimas