• Poesia em forma de arte: artista niteroiense fala sobre seu trabalho e sua relação especial com Petrópolis

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  • Bia Lemos mora e trabalha em seu sítio, no Moinho Preto, cercada pelas montanhas e pela mata nativa da região

    Por Aghata Paredes

    O universo tem um jeito muito próprio de encaminhar tudo para o seu devido lugar. Sempre que há uma chance de agarrar algo há muito tempo desejado por nós parece natural fazer essa escolha, ainda que ela seja a mais improvável aos olhos dos demais. A artista plástica niteroiense Bia Lemos passou por isso recentemente. Durante muitos anos, ela morou no Leblon. Porém, acabou buscando refúgio nas montanhas de Petrópolis e se apaixonou pelo silêncio da serra. Agora, dedica os seus dias aos trabalhos artísticos que realiza a partir de seu olhar poético sobre a vida.

    “Eu escolhi me expressar pela arte de uma forma intuitiva, através de desenhos que representam meu universo único e lúdico. Tudo sem regras, sem preocupações técnicas e sem pressa. Não é só sobre fazer arte. É sobre cores, sensações e sobre enxergar o mundo com um novo ritmo, repleto de sentidos e significações. O meu trabalho é criado com muito afeto e expressa meu olhar poético para a vida. O meu desejo é que ele desperte emoções.”

    Fotos: Thais Monteiro

    Cercada pela natureza em seu sítio, no Moinho Preto, a artista conta um pouco sobre o início da sua história com a cidade e sobre suas criações. “Morar em um sítio em Petrópolis era um sonho antigo meu e do meu marido, mas a gente achava que era um projeto para a aposentadoria, quando os filhos já estivessem mais velhos e independentes. Mas, logo no início da pandemia, em maio de 2020, aconteceu um vazamento de água no apartamento em que a gente morava no Leblon. Uma amiga do trabalho do meu marido ofereceu a casa dela em Araras, que estava vazia, para a gente ficar durante a obra do apartamento. Viemos, e durante dez dias foi tudo tão perfeito! Meu marido conseguiu trabalhar à distância, eu pintei muito e a minha filha ficou tão encantada pela casa e pela natureza que foi embora chorando dizendo que queria morar em Petrópolis.”

    O Sítio Vila Borboleta

    Sem expectativas, o casal iniciou a busca pelo lugar ideal e acabou encontrando exatamente o que buscava. Apelidado de Vila Borboleta pela filha da artista plástica, Babi, o lugar é um verdadeiro oásis para quem busca inspiração e trabalha com a criatividade. 

    Fotos: Thais Monteiro

    As obras da artista plástica, de um colorido pulsante, são repletas de elementos encontrados na natureza, além de mulheres, animais e formas diferentes. Pergunto a ela se a mudança para Petrópolis influenciou o seu trabalho. “Totalmente! Amo o Leblon, mas lá a vida é voltada para fora, para a agitação da rua, praia, bares e restaurantes. Eu estava sempre com amigos ou em eventos e eu precisava cultivar o sossego. Me reinventar depois de ter tido a minha segunda filha, quatorze anos depois do meu primeiro filho, e ter trocado a correria das produções de moda e figurino para TV por um trabalho mais autoral e profundo. Precisava entrar no “casulo” para renascer de uma outra forma e me reconectar comigo. Esse sítio era o lugar perfeito para isso. Hoje a identidade do meu trabalho e o meu processo criativo fazem parte do meu estilo de vida. Aqui achei a minha essência, fiquei mais calma, sensível e voltada para o que a minha alma deseja. Agora vivo cercada pela natureza, trabalho no ateliê com o som do rio e dos pássaros, e isso é muito inspirador.”

    Foto: Thais Monteiro

    Sintonia

    Ao contrário do que o casal imaginava, em Petrópolis foi possível reunir tudo o que sempre sonharam: sossego, inspiração e, ao mesmo tempo, vida social e lazer. “Foi uma grande surpresa! Achávamos que teríamos uma vida aqui socialmente isolada, que a nossa rotina seria aproveitar a calmaria do nosso sítio, mas que os amigos, passeios, médicos e relações de trabalho ficariam no Rio. E estávamos totalmente enganados, e isso é o que mais me encanta. Aqui encontramos amigos que priorizam o mesmo estilo de vida que a gente, que compartilham dos mesmos interesses. Encontrei profissionais e pessoas incríveis que me ajudam na minha busca pelo autoconhecimento e na melhora do meu processo criativo. Também achamos uma escola maravilhosa para minha filha, restaurantes deliciosos, comidas e produtos orgânicos fresquinhos entregues em casa direto do produtor local. Existe coisa mais gostosa do que ir no sábado de manhã no Hortomercado de Itaipava tomar um chope, comer pastel e ainda comprar flores lindas para a minha casa? E isso tudo sem se preocupar com violências e assaltos tão comuns da vida do Rio de Janeiro.”, conta. 

    O início de sua relação com a arte

    A artista plástica começou a pintar em 2014, quando parou de trabalhar com moda e resolveu fazer uma viagem. “Naquela época era figurinista e trabalhei dez anos no canal GNT, da Globosat, como coordenadora de figurino. Mas só tive coragem de mostrar meu trabalho para o mundo em 2016, depois que a minha filha nasceu. Mesmo com o cansaço de uma gravidez aos 40 anos e com a correria de cuidar de um bebê recém-nascido, produzi e estudei muito. Até hoje não sei como fiz isso. Acho que foi a minha válvula de escape nesse processo tão cheio de emoção e mudanças que só uma mãe sabe como é difícil passar.”, conta.

    Foto: Thais Monteiro

    Inspirações 

    Inspirada por artistas como Matisse, Frida Kahlo e as pintoras surrealistas mexicanas contemporâneas dela, além de Tarsila do Amaral e Picasso, Bia relata que costuma acompanhar, também, o trabalho de Os Gêmeos e do estilista Ronaldo Fraga, uma grande referência para ela desde a época em que trabalhou com moda. 

    Outra grande inspiração é a poesia. “Sou muito influenciada por Manoel de Barros, Fernando Pessoa, Carlos Drummond, Hilda Hilst e Adélia Prado. Os livros deles ficam em cima da minha mesa do ateliê, preciso estar sempre cercada por eles.”

    A virada de chave

    Questionada sobre a grande virada de chave em sua vida, a artista relembra uma viagem ao México. “Foi um marco na minha trajetória. Quando saí do canal GNT fui passar um tempo lá e a minha visão de mundo mudou. Lá eu entendi que era uma artista, que precisava pintar e me servir da cor como modo de expressão. Me apaixonei pela arte popular mexicana e pelos Alebrijes, figuras fantásticas e coloridas de animais feitas por artesãos mexicanos que são considerados guias espirituais. Meus bichos com formatos diferentes são inspirados neles. Lembro até hoje das cores, do cheiro e do sabor do México. Visitar a Casa Azul da Frida Kahlo, onde ela viveu e tinha seu ateliê, me deu forças para correr atrás do meu sonho de ter a minha casa-atelier.”

    Foto: Thais Monteiro – “Longe é perto de onde eu quero ficar”, de Bia Lemos.

    Mesmo com tantas obras, Bia tem um xodó especial pelo quadro Longe é Perto de Onde Eu Quero Ficar, que fez por encomenda para um casal muito querido. “Eles encomendaram um quadro meu para a casa deles, em Araras, sem nenhum tipo de exigência. Pediram apenas para que eu fizesse um trabalho que representasse profundamente o meu estilo, sem prazo para entrega. Foi a minha primeira grande encomenda.”, conta. 

    Fotos: Thais Monteiro

    “O meu trabalho é pura intuição e emoção, reflete a minha história. Representa uma ruptura com o meu antigo estilo de viver. É um mergulho do que tenho de mais genuíno. Meu olhar poético para a vida. É sobre reverenciar o lúdico que está em todos nós através da desconstrução, da falta de simetria e na busca por criar novas formas para mulheres, para a natureza e para os animais.”

    Para conhecer mais o trabalho de Bia Lemos, confira o perfil da artista no Instagram: @bia_lemos_art

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