Pobres Vós Sempre os Tereis Convosco
Aspira-se uma sociedade igualitária em que se propugne pela justiça, bem comum e igualdade de direitos. Ao compulsarmos as Sagradas Escrituras, notadamente em João 12, 7, Jesus conclama aos opositores: “Deixa-a em paz; pois para o dia da minha sepultura foi que ela guardou isso. Quanto aos pobres, vós sempre os tereis convosco, mas a mim vós nem sempre tereis.”
Há referência sobre a privação em Deuteronômio-15:11. Ali, a real interpretação a completar e esclarecer a dúvida suscitada a muitos: “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por esse motivo que te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, tanto para o pobre como para o necessitado de tua terra!” O próprio Deus Filho nos chama a atenção sobre a existência da miséria. É cruel, mas, verdade. Essa dicotomia entre o ter e o não possuir, isto é, “A riqueza e a pobreza vêm do Senhor.” (Eclesiástico 11, 14). No entanto, a fé e a esperança precisam estar em harmonia a que conquistemos “um novo céu e uma nova terra”. (Apocalipse 21, 1) Em primeiro lugar devemos levar em consideração ao contexto em que Jesus falou da arrebentação durante o almoço na casa de Lázaro, em Betânia ocasião em que Maria ungiu os pés do Rabuni com um perfume raro e muito caro e os secou com os cabelos.
O texto põe na boca de Judas Iscariotes a seguinte indignação: “Por que este perfume não foi vendido por trezentos denários para se dar aos pobres?” (Jo 12, 5). Detenhamo-nos, por um momento à conjuntura em que Jesus afirmou tal coisa. A repulsa não é real. “Falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas, porque era ladrão: ele guardava a bolsa e roubava o que nela se depositava”. Jesus se dirige ao discípulo insidioso e prediz sua morte. Eleva o gesto da filha repleto em ternura e respeito. Sabemos todos que Jesus morreu por amor aos mendicantes e diminuídos. As palavras que se referem aos “pobres” foi uma denúncia. Os pequeninos sempre estiveram com Ele à mesa. Durante todo o seu ministério Jesus lutou pela dignidade tão vilipendiada. Curou o paralítico e o leproso, recuperou as vistas do cego, devolveu a audição aos surdos, ressuscitou mortos e anunciou aos desprovidos a Boa Nova. (MT 11, 5). Sua significação é anunciar a Palavra com fidelidade à missão e o compromisso com o Reino que por Ele foi confiado. Judas não o fez.
Quantas vezes nós não o fazemos. Nada adianta dissimular o interesse pelos miseráveis a exemplo de Iscariotes. Ao contrário de anunciar ele foi infiel. Pior que as trinta moedas de prata, preço pelo qual vendeu o Salvador da humanidade Judas continua nos tempos hodiernos. Está nos comícios, câmaras legislativas e fundamentalistas ainda que de Bíblia nas mãos. Salvo raras exceções essa maioria deveria usar das prerrogativas e funções para as quais foram eleitos e aquelas de que são responsáveis eles pensam em si e se esquecem dos necessitados em cultura, saúde, educação, moradia e dignidade. Somam-se os crimes contra a pessoa. E se infestam os setores, empresas e ruas, assim como nós, reles mortais ao negarmos o amor do Pai ante as ações, omissões e egoísmo. Não há que se falar só na carência material, e sim, na espiritual. Indigência é permitir o infanticídio, os maus tratos às mulheres, ao desvalido e aos idosos.
É permitir que a fome, esse holocausto silencioso continue a maltratar sem dó e nem piedade. É distribuir pela mídia que “não se deve ajudar à reconstrução da Catedral de Notre Dame destruída pelo incêndio e dizer que as doações deveriam ser distribuídas entre o povo.” Esquecem, porém; restaurar o Reino de Deus e preservar a memória e contribuir ao enriquecimento do espírito.