• Planejamento urbano sem mistérios II

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 26/03/2018 08:50

    Dando seguimento à série iniciada no domingo passado, primeiramente vamos tecer comentários sobre alguns conceitos básicos. Uma definição precisa do que seja o planejamento urbano, necessariamente passa pelo trabalho de localizá-lo, enquanto disciplina, em relação ao urbanismo. Tanto o planejamento urbano quanto o urbanismo são entendidos como o estudo do fenômeno urbano em sua dimensão espacial, mas diferem notadamente no tocante às formas de atuação no espaço urbano. 

    O planejamento urbano é atividade, por excelência, multidisciplinar, enquanto que o urbanismo, ao longo da história, se caracterizou como disciplina autônoma (especialmente do ponto de vista profissional). Porém, os limites entre o planejamento e o urbanismo são pouco claros na prática: intervenções urbanísticas na cidade são comumente tratadas como "obras de planejamento", enquanto que atividades típicas do planejamento (como a criação de um plano diretor), são eventualmente tratadas como "obras de urbanismo". 

    A questão da definição clara e distinta das duas disciplinas complica-se de fato quando se procura a sua história: é um consenso, no meio acadêmico, que o Urbanismo seja tratado apenas como disciplina autônoma a partir do século XIX e que o planejamento urbano surja como matéria de interesse acadêmico apenas no século XX, mas também é fato que as cidades são planejadas e desenhadas desde o início da civilização. Desta maneira, a história das cidades (ou da urbanização, para ser mais preciso), ocorre paralelamente com a história do homem em sociedade, embora o estudo da intervenção do homem na cidade seja mais recente. A partir do momento em que se considera que o planejamento

    urbano lida basicamente com o conjunto de normas que regem o uso do espaço urbano (assim como sua produção e apropriação), sua história seria bastante diversa daquela referente ao desenho das cidades. Quando pensamos no planejamento de uma cidade temos por objetivo torná-la sustentável. Sustentabilidade é uma característica ou condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo. Ultimamente, este conceito tornou-se um princípio  segundo  o qual o uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. 

    O conceito de sustentabilidade é complexo, pois atende a um conjunto de variáveis interdependentes, que devem ter a capacidade de integrar as questões  sociais, energéticas, econômicas e ambientais. Alguns críticos argumentam que planejadores urbanos se importam primariamente com a estética e com o comércio da cidade, ao invés de se concentrar em propostas para a solução de problemas sociais como trânsito ou poluição, ou que certos planos tendem a aumentar problemas sociais já existentes, como, por exemplo, a autorização de construção de parques e prédios de apartamentos de luxo, que muitas vezes substituem residências de baixo custo. 

    O foco principal deve ser a satisfação do seu principal cliente, ou seja, os moradores da cidade, dando ênfase, no caso da aprovação de um projeto ou evento, ao estudo de impacto de vizinhança. Outra crítica que pode ser salientada é que alguns planejadores urbanos põem ênfase demais no futuro das cidades, e não o suficiente para a solução de problemas sociais já existentes, e outros criticam planejadores urbanos que buscam solucionar tais problemas a curto prazo. Achamos que dois planejamentos devem ser elaborados: um para três anos e outro para quinze anos. No próximo artigo continuaremos.

    achugueney@gmail.com

    Últimas