• Planalto e embaixada não se acertam para tirar brasileiros da Ucrânia

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  • 25/02/2022 08:15
    Por Vinícius Valfré, Breno Pires e Natália Santos; Rodrigo Sampaio e Josué Seixas, especial para o Estadão / Estadão

    No mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro usou redes sociais para declarar que a embaixada do Brasil estava aberta para ajudar os brasileiros na Ucrânia, a representação diplomática deu orientações em outra direção. Quem recorria aos canais de contato da embaixada era avisado de que ainda não havia como assegurar uma saída do país em segurança. A mesma informação foi admitida pelo Itamaraty em Brasília.

    Alguns brasileiros que pediam auxílio para deixar o mais rápido possível Kiev acabaram ouvindo comentários nada diplomáticos: “se vire”, declarou um diplomata a dois brasileiros.

    No grupo criado pela embaixada brasileira no Telegram para orientar os brasileiros há uma orientação expressa para que os nacionais não compareçam ao local: “Pede-se aos brasileiros que não se dirijam para a embaixada. Orientações serão transmitidas ao longo do dia”.

    “A gente ligou para a embaixada e ouviu ‘você tem de ter paciência e esperar a coisa se resolver’. A sensação que eu tenho é que a embaixada lavou as mãos, é de descaso”, disse o empresário Marcelo Muller.

    O Itamaraty está cadastrando os brasileiros que estão na Ucrânia e desejam deixar o país. Há cerca de 500 no país. Os que estão no leste da Ucrânia, devem deixar o país o quanto antes. Segundo o embaixador Leonardo Gorgulho, o plano não tem data para ser colocado em prática.

    Bolsonaro desautorizou nesta quinta-feira, 24, seu vice, Hamilton Mourão, por ter se manifestado sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mais cedo, Mourão disse que o Brasil respeita a soberania da Ucrânia. “Quem fala dessa questão chama-se Jair Messias Bolsonaro. Mais ninguém fala. Quem está falando, está dando peruada naquilo que não lhe compete”, criticou pelas redes sociais.

    Desespero

    Brasileiros que vivem no país do Leste Europeu dizem sentir desespero, principalmente porque não há como deixar a Ucrânia. O recifense Gabriel Figueiredo, que mora há dois anos e meio em Kiev, diz que entrou em contato com a embaixada do Brasil e aguarda um ônibus que, segundo ele, foi prometido para retirar os brasileiros.

    “O principal fator agora é o medo e a incerteza que a gente vive. Do que pode acontecer, de como a gente vai sair, porque os voos foram cancelados. As estações de trem estão lotadas e as ruas para sair de Kiev, também. Então não dá pra pegar a estrada, não dá para alugar um carro. Está um pouco complicado para saber o que a gente vai fazer”, disse Gabriel.

    Sem ajuda do governo brasileiro nem do ucraniano, a saída encontrada pela brasileira Thamany Oliveira foi cruzar a fronteira para a Polônia. Quando no Brasil era início da tarde de ontem, ela chegou a uma pequena vila chamada Shloko, no oeste do país, que fica entre Lviv e a fronteira, com ajuda de amigos ucranianos. Segundo ela, essa também foi uma solução buscada por moradores locais.

    “Eles decidiram de repente correr para a fronteira sem nos dizer o motivo. Estão acompanhando os noticiários, mas não entendemos, e eles não nos contam”, disse. A saída de Thamany da Ucrânia ainda não era certa, por causa do trânsito intenso para a fronteira. Se não atravessasse até 22h (17h em Brasília) seria obrigada a voltar a Lviv por causa do toque de recolher.

    Atletas

    Jogadores brasileiros, que estão com a família em um hotel de Kiev e atuam no Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, gravaram um vídeo pedindo ajuda do governo brasileiro para voltar para casa. O atacante Fernando, ex-Palmeiras, é um dos atletas a falar no vídeo, além de Júnior Morais. Derek, Fabinho e Marlyson também têm dificuldades para deixar o país.

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