• Pista de atletismo de Guarulhos recebe exposição de carros e revolta técnicos

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  • 11/08/2022 11:21
    Por Estadão

    Iluminado pelo brilho dos resultados obtidos por Alison dos Santos, o atletismo nacional parece que respira novos ares. O novo entusiasmo pela modalidade levou, por exemplo, técnicos e atletas a abraçarem a causa da recuperação da pista do histórico Estádio Célio de Barros, no Rio de Janeiro. Mas este movimento foi atingido severamente por uma exposição de carros na pista de atletismo da Ponte Grande, em Guarulhos.

    “É um desrespeito ao esporte da cidade, causou uma indignação total em todos os atletas”, define Wilson David dos Santos, que atualmente é colaborador da secretaria do Meio Ambiente da cidade, mas que tem toda sua vida ligada ao esporte. Foi um choque para ele ver tudo aquilo. Santos foi atleta olímpico do Brasil durante 12 anos, competindo em vários torneios nacionais.

    “Para nós, atletas e ex-atletas, a pista é um território sagrado e a utilização do local para uma exposição de carros é uma afronta”, afirmou Wilson David, que competiu nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, na prova dos 400 metros e no revezamento 4x400m ao lado de João Baptista Eugênio, Zequinha Barbosa e Gerson Andrade.

    Como atleta de alto nível em seu País, ele não se conforma com o que houve no último final de semana na cidade de Guarulhos. “Não entendo como uma instalação esportiva possa ser usada para um evento desses. E veja que no mesmo dia, o ginásio de esportes Fioravante Iervolino foi usado para uma competição de canto de pássaros. Daqui a pouco vão usar nossas piscinas para show de golfinhos ou coisa parecida!”

    A realização da exposição de carros na pista de atletismo repercutiu também entre atletas e técnicos do Brasil, inclusive no grupo “Nós, Célio de Barros”, que luta pela recuperação da pista. O professor de educação física Carlos Alberto Lancetta escreveu pesadas críticas no grupo.

    “É lamentável a importância que a Prefeitura de Guarulhos e sua Secretaria de Esportes Municipal dão ao esporte de base. O atletismo é o esporte mais democrático e de fácil praticidade, socialmente alavancando a vida de muitos meninos de baixa renda, jovens menos providos de oportunidade no mundo de hoje”, condenou. “A história do atletismo na cidade deveria ser preservada, pois aí treinaram campeões brasileiros, sul-americanos, pan-americanos e até o saudoso João do Pulo, recordista mundial do (salto) triplo”, prosseguiu o treinador.

    HISTÓRIA

    Guarulhos foi referência no atletismo. Conviveu com atletas do porte de João do Pulo, Zequinha Barbosa, Conceição Geremias, Katsuhico Nakaya, Gérson Andrade e muitos outros representantes da elite da modalidade nacional em competições fora do País. “O que aconteceu em Guarulhos foi o cúmulo do absurdo”, definiu a atleta olímpica Conceição Geremias. “Estou chocada: é como se um dos carros do evento passasse em cima da gente. Não sei quem autorizou o evento, mas é o mesmo que tivessem autorizado a invasão de nossas casas”, lamentou. Os carros ficaram expostos onde os atletas treinam.

    Da equipe olímpica atual, que competiu nos Jogos de Tóquio, no ano passado, dois atletas treinam nesta pista, agora danificada pelos automóveis.: Alecsandro Mello, do salto em distância e do salto triplo, e Thiago Moura, do salto em altura.

    Nesta pista, seis treinadores trabalham com atletas de iniciação, atletas olímpicos e de alto rendimento e outros de corridas de rua. Normalmente a pista fica lotada. No domingo passado, seria realizada uma competição da turma de iniciação. Em uma das entradas do estádio existe uma placa onde está escrito: “é proibido entrar com bicicletas na pista.”

    “No meio da semana, avisaram que a competição de iniciação teria de ser transferida para a pista do Sesi Cocaia, já causando muitos transtornos para os organizadores. Em compensação, quando o pessoal responsável pelo evento dos carros veio até a pista, houve uma orientação de uma professora para que tomassem cuidado com os bueiros do setor de drenagem”, explica o professor Wilson David. “Nossa pista foi construída nos anos 1970, só teve duas reformas e era de carvão, mas hoje seu aspecto só tem terra”.

    Para o professor, importantes orientações não foram seguidas no evento. “Foi como se não tivessem sido alertados para nada. Puseram uma fileira de carros bem em cima dos bueiros. Uma fila sobre a principal parte da drenagem. Afetaram as bordas de cimento da pista e causaram ondulações no piso, por causa dos carros que passaram pelo local.”

    Ele contou que todos os professores do atletismo estão desolados. Há inclusive uma revolta que pode impedir a equipe guarulhense de competir nos Jogos Regionais, marcados para Pindamonhangaba no fim da semana. Inconformado, o ex-atleta olímpico promete ir até a Tribuna Livre da Câmara Municipal de Guarulhos para impedir definitivamente que a pista seja utilizada para fins que não sejam esportivos.

    A Secretaria de Esportes de Guarulhos lamentou os transtornos ocorridos em nota ao Estadão e prometeu investigar os possíveis danos ao local. “O espaço foi liberado com uma série de limitações, já que naquela data não havia atividades esportivas previstas para o local. E informa que apurará as responsabilidades pelo possível uso indevido das dependências esportivas. Comunica ainda que a equipe de atletismo de Guarulhos segue treinando normalmente no local.”

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