• Petrópolis pode receber líder islâmico: Ahmadia realiza ações humanitárias na cidade

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  • 02/09/2019 16:05

    A Cidade Imperial poderá receber nos próximos anos a visita de um dos maiores líderes religiosos do mundo. Este é o planejamento que está sendo cuidadosamente feito pela sede brasileira da Ahmadia – uma vertente do islã cuja sede está localizada em Petrópolis. O califa Mirza Masroor Ahmad, 68 anos, até mesmo admitiu essa possibilidade e as primeiras gestões para a vinda do religioso já começaram.

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    A revelação foi feita nesta semana pelo missionário e presidente da Ahmadia do Brasil, Wasim Ahmad Zafar, que conversou com a Tribuna sobre o assunto em sua sede, no início da Estrada da Saudade, onde também está a única mesquita islâmica da Região Serrana. Segundo Wasim, a vinda inédita do califa requer um plano que leva algum tempo, já que a sua agenda é bastante ocupada por conta dos compromissos pelo mundo inteiro.

    Desde o ano passado, já era clara a intenção de promover a chegada da liderança islâmica a Petrópolis. Inclusive, o tema foi até discutido com Mirza Masroor em mais de uma ocasião, que manifestou seu desejo de visitar o Brasil e, mais especificamente Petrópolis, onde funciona a única sede da religião no país. Neste ano, uma comitiva de petropolitanos participou da tradicional Jalsa Salana, em Londres, onde foi recebida por ele. Todavia, o assunto não foi discutido na ocasião, mas ele deixou uma mensagem aos brasileiros.

    De acordo com Wasim Ahmad, o califa acompanha alguns dos principais acontecimentos que envolvem o Brasil e mandou uma mensagem ao povo verde-amarelo, sobretudo aos políticos que comandam o destino da população. “Para o nosso califa, os líderes têm que trabalhar com honestidade e servir ao povo, encontrando a solução para as suas necessidades. Mas além disso, quer que o povo não se volte contra as leis estabelecidas e sim trabalhar com elas para o melhor, tendo em vista toda a comunidade”, disse Wasim, ao ouvir do próprio líder as palavras voltadas ao Brasil.

    Para medir a importância de Masroor Ahmad, basta ver aonde ele já foi recebido pelo mundo afora. Ele já falou na Casa Branca (Estados Unidos), no Congresso americano e para a casa do Parlamento da Grã-Bretanha, Canadá, Holanda e diversas outras nações dos cinco continentes. Normalmente, seus discursos são voltados para a paz mundial e de oferecer soluções baseadas no Sagrado Alcorão (o livro dos muçulmanos), além de pedir justiça nas relações individuais e entre os povos do mundo. 

    Quanto à vinda a Petrópolis, a sua passagem requer um planejamento que envolve até mesmo o Governo Brasileiro, já que é uma figura carismática e cuja religião tem milhões de seguidores. A sua segurança, portanto, poderá ser feita até mesmo por forças nacionais. Por outro lado, a Ahmadia do Brasil acredita que o tema já esteja na sua agenda, até porque entre várias pautas de compromissos dele, uma das principais será a inauguração da mesquita petropolitana, que apesar de já funcionar desde 2017, a sua fundação ainda não recebeu a presença do califa, como é comum na religião quando ergue um santuário religioso.

    “Queremos que a mesquita seja inaugurada com a presença do nosso califa. Nós, aqui em Petrópolis, torcemos para que esteja aqui conosco porque será um evento marcante. A sua presença será um grande marco. Quando ele vier a cidade, se Deu quiser, a casa de Deus será finalmente inaugurada”, explicou Wasim, que espera até o ano que vem uma resposta sobre a possibilidade de sua presença no Brasil.

    Mirza Ahmad é o quinto califa da Ahmadia, uma liderança inconteste dos muçulmanos de uma religião que nasceu no Paquistão. Ele foi eleito o quinto sucessor do fundador do movimento, Mirza Ghulam Ahmad, após a morte do seu antecessor, Mirza Tahir Ahmad, o então quarto califa, que faleceu no dia 22 de abril de 2003. A santidade viaja pelo mundo afora pregando a paz e a harmonia entre os povos, sendo um duro crítico dos radicais islâmicos e de outras religiões que veem na violência a solução para os problemas. 

    ONG realiza ações humanitárias

    A Ahmadia do Brasil fundou, no ano passado, uma ONG chamada Humanity First (primeiro a humanidade), que visa centralizar ajudas aos mais necessitados através da distribuição de alimentos, material para estudos e cursos livres. O objetivo é propagar a benevolência e a ajuda ao próximo através de ações concretas que tragam alívio em um momento de crise econômica vivida no país. O trabalho recebe recursos da sede da vertente islâmica do Canadá.

    O trabalho da ONG está centralizado em Petrópolis, onde algumas ações já aconteceram. Em uma delas, a instituição recebeu um farto material escolar que foi distribuído para crianças da comunidade da Estrada da Saudade. Outras 100 cestas básicas foram distribuídas neste ano para moradores próximos a sede da Ahmadia. No entanto, tem planos também para fazer o mesmo com uma escola do distrito de Secretário.

    A ONG mira também contribuir em outras áreas tão importantes para Petrópolis. Um ponto anunciado é desenvolver projetos na parte de desastres naturais. Como Petrópolis tem problemas com as fortes chuvas, o estado de atenção do município é grande e a entidade sem fins lucrativos poderá ajudar naquilo que for preciso, como até mesmo envio de uma equipe de especialistas em desastres naturais do Canadá para o município. Outra questão que poderá receber atenção é com relação a cirurgias de cataratas. Médicos especialistas do país da América do Norte poderiam contribuir para que pessoas sem condições financeiras possam realizar o tratamento.

    Com o objetivo de mostrar transparência em suas ações, a “Humanity First” trabalha com rigoroso controle financeiro e qualquer atividade tem um controle externo. Wasim Zafar frisou que tudo tem recebido auditorias para que o trabalho seja o mais honesto possível. “Temos recebido muitos pedidos de ajuda e até oferecimento de colaboração. Por causa disso, trabalhamos dentro dos princípios da religião, dando amor para todos, ódio para ninguém. A humanidade em primeiro lugar”, pontuou a liderança local.

    O trabalho da ONG, além de ajudar petropolitanos, pavimenta o caminho para que Petrópolis possa receber, provavelmente a partir do ano que vem, os primeiros refugiados do Paquistão, que são vítimas de perseguição religiosa. Apesar de a Ahmadia ter nascido no país, a maioria islâmica que domina o país é formada por sunitas, que já resultou em ataques aos ahmades e as suas mesquitas. São ataques terroristas que já mataram centenas da população que segue a minoria islâmica. Sobre isso, Wasim ainda não sabe quando começará a receber essas pessoas e que haverá todo um trabalho para que elas se adaptem aos costumes locais. Certamente, o auxílio virá com uma estrutura básica de residência e aulas em português.

    A família de Wasim será a referência no que diz repeito a adaptação ao Brasil e a vida em Petrópolis. Chegou em 1994 a Cidade Imperial após passar anos desenvolvendo um trabalho filantrópico da Ahmadia na Guatemala. O líder local admitiu que o começo não foi fácil, devido aos costumes e tudo mais que se relaciona a chegada em um país de diferente cultura, mas atualmente abre seu coração para falar de sua casa atual. “Eu falei para mim: se Deus me escolheu para este local, é sinal de que tem algo grandioso para mim. No início da minha chegada, foi um pouco difícil, mas hoje eu amo Petrópolis, o povo daqui que me recebeu muito bem”, finalizou ele.

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