Petrópolis, minha Canaã
Hermogênio Silva, segundo distrito da bucólica e idílica cidade de Três Rios, Estado do Rio de Janeiro, o maior entroncamento rodoferroviário do país, minha terra natal. Distam setenta e quatro quilômetros, no entanto, desde tenra idade fui habituado a visitar esta encantadora Petrópolis, participava das missas celebradas na Catedral São Pedro de Alcântara, Igreja do Sagrado Coração de Jesus (ainda com todos os ícones religiosos originais), Igreja do Rosário e Matriz de Cascatinha em datas alternadas. Uma parte do dia era reservada às visitas ao Museu Imperial e demais pontos turísticos, sem falar dos deliciosos lanches na Casa D’Ângelo e não obstante o decurso de mais de meio século, estão vivos em minha memória. Eram gostosas as torradas Petrópolis e generosas as porções de queijo e os famosos caramelos. Como todo turista, passeávamos nas “Vitórias”, nós infantes dizíamos “carruagens”, à época, bem cuidadas, inclusive os cavalos, a mim pareciam saudáveis, hoje não mais fazem parte do turismo deste município. Eram para nós, e ainda o é fascinante, convivermos com a arte e a história vivas, em alcance dos olhos e das mãos presentes em cada hortênsia ou lírios espalhados pelas ruas e casarios centenários. Um privilégio. E o tempo transcorreu e chegou o momento do vestibular em 1969 e, em janeiro de 1970 aqui cheguei, mercê de Deus e sob o pálio da Mãe Maria dessa vez para ficar. Meu primeiro porto foi o Segundo Distrito. Nessa época fui convidado por Lester Carneiro, Diretor do Jornal de Cascatinha para escrever uma página naquele quinzenário, depois semanário. Ali prossegui as lides jornalísticas, assim como nas Revistas, Social, Hortênsias, Petrópolis, missão iniciada na impressa (66/67) em Três-Rios, colaborando com o jornal “O Castoróide”. Era assíduo leitor do Entre Rios Jornal, inclusive das publicações estudantis à época. Decorridos cinquenta e quatro anos continuo ininterruptamente a escrever para o nonagenário órgão da imprensa local tendo recebido fraternal acolhimento. Colaboro há décadas com a Tribuna de Petrópolis e Diário de Petrópolis, dentre outros. Seguindo esse fio condutor conciliei os escritos literários, paletas, pinceis, decoração, exposições individuais e coletivas, o ingresso nas instituições profissionais e culturais locais e das cercanias nelas exercendo os mais diversos cargos, como ocorre ainda hoje. Devo ressaltar que minha sobrevivência era e sempre foi o exercício da advocacia, inclusive, iniciei, também, contador, em cuja profissão me formei em dezembro de 1967. Rememoro os anos setenta e a ousadia de estudante sonhador ao publicar o primeiro livro individual “Silepses” pela Imprensa Vespertina do confrade João Augusto da Costa incentivador do jovem a ensaiar seu voo pelos céus petropolitanos. As memórias estão materializadas nos arquivos e em minhas retinas. Nessa oportunidade, fui levado por Célio Barbosa, consagrado músico, à apresentadora e escritora Edna Savaget e desse relacionamento elegeu-me seu afilhado. Prefaciou a mencionada obra. Dali por diante me recebeu inúmeras vezes em seus programas de TV, Tupy e Bandeirantes, para falar de arte e cultura, lançamentos literários e outras por ocasião das exposições nas searas das artes plásticas. Nesse período consolidei a amizade com o apóstolo das letras Paulo Cesar dos Santos e, desse período em diante realizamos diversas tardes e noites de autógrafos das obras individuais ou antologias. Através do cajado do mestre e por suas mãos e também, dos acadêmicos Octávio Leopoldino Cavalcanti de Moraes e Jaques Lucien de Burllet, em 1984 fui apresentado à centenária Academia Petropolitana de Letras, inscrito e eleito. Em 17 de maio de 1985, em memorável solenidade nos salões do Tribunal do Júri do Fórum local, ainda no centro histórico, sob presidência do acadêmico Joaquim Eloy Duarte dos Santos fui empossado e tomei assento na cadeira número 22, patronímica de Raul de Leoni em virtude do falecimento do ilustre poeta Silvio Júlio de Albuquerque Lima e nessa empreitada prosseguimos até hoje a missão, história e memória, realce a reais valores, passado e presente, a reverência àqueles construtores providenciais da vida a realizar seus projetos em prol da coletividade. As crônicas produzidas são, também, em ação de graças pelo dom da vida, braços estendidos ante desvalidos sem voz e nem vez. Assim elas surgem, ora tristes, ora alegres, de quando em vez um lamento, mas, em sua maioria, hosanas à mãe Santíssima, a Deus Uno por permitirem cumprir meu destino na amada Petrópolis ícone e rainha, Canaã presenteada pelo Criador, Senhor da vida na certeza de meu amor incondicional e eterno assim na terra como nos céus. Neste epílogo minha gratidão a meus familiares pelo apoio, aos colegas de trabalho no percurso de meio século tantas vezes abdicaram de suas tarefas para datilografar meus textos ainda através das máquinas de escrever, ainda hoje os digitam com paciência e carinho por vezes usam lentes, em esforço hercúleo na adivinhação de meus hieróglifos, caligrafia essa modificada pelo tempo, ilegível e apressada.