Pessoas físicas obrigam reinvenção de RIs de empresas
O acréscimo de quase 2 milhões de investidores pessoa física na Bolsa brasileira trouxe um novo direcionamento às áreas de relações com investidores das empresas de capital aberto. Antes muito técnicas e acostumadas a falar “difícil”, em uma linguagem cheia de jargões, essas áreas estão tendo de reinventar sua comunicação e desenvolver ferramentas para atingir o novo público pouco experiente no mercado de ações. Ou seja: chegou a hora de os RIs falarem português claro.
Para o Itaú Unibanco, o investidor pessoa física não é novidade. Isso porque os investidores procuram investir em empresas que conheçam bem – daí a preferência pelos “bancões”. Na esteira da queda nos juros, porém, o número de investidores pessoas físicas no maior banco privado da América Latina saiu de 250 mil para 500 mil, obrigando uma adaptação da área de relações com investidores.
Após um ano debruçado sobre o assunto, o Itaú resolveu mudar suas ferramentas e reformou todo o site de RI para aumentar a acessibilidade, incluindo ali o uso de inteligência artificial. Criou o seu próprio dicionário, que batizou de ‘Itaúpedia’, com a proposta de decifrar termos por vezes inacessíveis. As redes sociais, segundo o diretor de relações com investidores do Itaú, Renato Lulia, tornaram-se canal vital para se chegar a esse novo investidor.
O banco possui hoje uma estrutura 100% dedicada às pessoas físicas, que têm uma demanda por informação e dúvidas muito distantes dos grandes investidores. “É preciso garantir que grandes fundos e pessoas físicas tenham acesso à mesma informação, mas de fato não é um trabalho trivial, pois o nível de conhecimento varia”, afirma.
Fenômeno semelhante ocorreu na fabricante de motores e equipamentos Weg. Do fim de 2018 até aqui, o total de investidores pessoa física se multiplicou por dez, para 300 mil pessoas. Parte desses investidores é atendido pela Wendi, assistente virtual da área de relações com investidores da empresa. “Ali é possível sanar as principais demandas. Ela responde as dúvidas mais simples. Constituímos uma base de dados e estamos recebendo um feedback positivo. A ideia é ir monitorando e alimentando o sistema, para que, com o tempo, ela consiga responder cada vez mais perguntas”, comenta o gerente de relações com investidores da Weg, André Salgueiro.
Para os itens mais comuns levantados por pessoas física – como o pagamento de dividendos -, a Wendi consegue responder na hora. A assistente virtual orienta até sobre como são feitas compras de ações. Responde que o interessado precisa procurar uma corretora e sugere, na sequência, que é importante buscar mais informações junto à própria B3 e ao regulador, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ela também responde à pergunta mais comum nesta época do ano: informe de rendimentos para o Imposto de Renda.
Na Weg, a mudança também chegou às redes sociais, pois é onde muitos investidores tiram dúvidas. Por isso, Salgueiro conta que a área também começou a fazer um monitoramento nas redes – algo que identificaram como necessário com o aumento de investidores indo buscar informações por meio dos “influencers” na internet.
O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), Bruno Salem Brasil, afirma que a área de RI está em uma curva de aprendizado para entender como esses novos investidores vão buscar informações. “As ferramentas de RI utilizadas no passado têm seu valor, mas estão sendo incorporados novos instrumentos.” Ele frisa, ainda, que é natural que a área de RI tenha cautela para ingressar em uma nova rede para fazer sua comunicação. “O RI não pode viver de modismo. A descontinuidade de um canal de comunicação é muito ruim.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.