Pesquisa mostra ilhas fluviais criadas por Koeler em áreas afetadas por enchentes hoje
Alagamentos em algumas ruas do Centro da cidade são muitas vezes tratadas com normalidade pelos petropolitanos. Ocorrências que não deveriam ser comuns nos dias de hoje, e que foram previstas no Plano Koeler. Pesquisa do Laboratório de Cartografia (GeoCart) – Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) feita pelo geógrafo e professor Manoel do Couto Fernandes, mostra que existiam quatro ilhas fluviais na área da Planta Koeler e que foram suprimidas durante o processo de urbanização.
Nas três bacias Palatino, Quitandinha e Piabanha, existiam quatro ilhas fluviais. Uma na Rua Bingen, próxima à empresa Werner, outra na Rua Buarque de Macedo próxima à sede da Defesa Civil, uma na Rua Washington Luiz, entre a UPA Centro e a antiga fábrica São Pedro de Alcântara e a última, e a maior de todas, onde ocorrem o maior número de enchentes em Petrópolis, na Rua Coronel Veiga, próxima à Fábrica de Chocolates Patrone.
“Em 2016, por intermédio de Dom Pedro Carlos de Orleans e Bragança, um entusiasta das pesquisas que conduzimos, tivemos acesso à Planta e pudemos fazer um levantamento fotográfico da mesma com 191 fotografias (pedaços da planta) de alta resolução. O material formou um grande quebra-cabeça o qual georreferenciamos, ou seja, ajustamos o mapa às coordenadas dos dias de hoje”, explica o autor da pesquisa.
Segundo a pesquisa, atualmente os rios que passam em áreas ocupadas têm uma configuração bastante diferente do que foi registrado na Planta Koeler. “Muito por conta das canalizações que diminuíram bastante a sinuosidade dos mesmos (só existia planejamento de canalização no centro da cidade – ao longo da rua do Imperador e do Obelisco até o Palácio de Cristal), visando evitar enchentes nos arredores do Palácio e na Villa Imperial (onde estava o Palácio e as casas de pessoas ligadas à corte). Junta-se a isto o crescimento urbano desordenado da cidade e um regime mais intenso de fortes chuvas (este pode estar vinculado às emergentes mudanças climáticas) para formar o atual cenário de enchentes e deslizamentos, que tendem a se agravar cada vez mais”, disse Manoel.
Um levantamento feito a partir dos dados de inundações das estações fluvio-pluviométricas do Inea, feita por pesquisadores junto ao autor da pesquisa, mostram que entre os anos de 2011 e 2018, tiveram 153 registros de alagamentos nas três bacias. Cerca de 47% foram na Bacia do Quitandinha, no trecho da Rua Coronel Veiga. “A supressão das ilhas é apenas um fator dentre vários outros que influenciam na ocorrência das enchentes como a ocupação desordenada (edificações ou coberturas não vegetais com afloramentos rochosos). E a bacia do Quitandinha é o que tem esse maior índice. Além disso, esta bacia também teve muitas mudanças na morfologia dos rios com a diminuição da sinuosidade e largura dos mesmos”, explica o autor da pesquisa.
Alternativas ligadas a um processo de ordenamento do uso urbano e um efetivo controle, com programas de reflorestamento podem contribuir para solucionar o problema dos alagamentos no município. “No meu ponto de vista, existem medidas de médio e longo prazo. De médio prazo só obras de engenharia para melhorar esse escoamento (piscinões, tuneis de vazão aumentada …) e a longo prazo seria cuidar da ocupação e diminuir a pressão urbana sobre as áreas florestadas, além de medidas preventivas de deslizamentos e reflorestamento de encostas”, disse.
A pesquisa revela que a existência das ilhas nas bacias significa que os rios eram muito maiores, e consequentemente suportariam quantidades de água maiores em dias de grande precipitações, como os que ocorrem nos dias atuais. E por isso, haveria a necessidade de promoção de ações de mapeamento e monitoramento do município, para que a cidade seja conhecida e planejada como um todo. Seguindo o conceito de cidades inteligentes, onde as informações estão levantadas e disponibilizadas para a sociedade, como aponta a pesquisa.
“Outra coisa importantíssima para a municipalidade é a organização das informações em um centro de controle e disseminação de dados, facilitando o planejamento e gestão do município em diversas áreas, inclusive na Defesa Civil. Com a coleta e disseminação de dados de diferentes fontes para alertar a população, fiscalizar a ocupação do solo, planejar o trânsito, isto tudo dentro de um conceito de cidades inteligentes”, disse Manoel.