• Pesquisa mostra ilhas fluviais criadas por Koeler em áreas afetadas por enchentes hoje

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  • 23/02/2020 16:01

    Alagamentos em algumas ruas do Centro da cidade são muitas vezes tratadas com normalidade pelos petropolitanos. Ocorrências que não deveriam ser comuns nos dias de hoje, e que foram previstas no Plano Koeler. Pesquisa do Laboratório de Cartografia (GeoCart) – Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) feita pelo geógrafo e professor Manoel do Couto Fernandes, mostra que existiam quatro ilhas fluviais na área da Planta Koeler e que foram suprimidas durante o processo de urbanização. 

    Nas três bacias Palatino, Quitandinha e Piabanha, existiam quatro ilhas fluviais. Uma na Rua Bingen, próxima à empresa Werner, outra na Rua Buarque de Macedo próxima à sede da Defesa Civil, uma na Rua Washington Luiz, entre a UPA Centro e a antiga fábrica São Pedro de Alcântara e a última, e a maior de todas, onde ocorrem o maior número de enchentes em Petrópolis, na Rua Coronel Veiga, próxima à Fábrica de Chocolates Patrone. 

    “Em 2016, por intermédio de Dom Pedro Carlos de Orleans e Bragança, um entusiasta das pesquisas que conduzimos, tivemos acesso à Planta e pudemos fazer um levantamento fotográfico da mesma com 191 fotografias (pedaços da planta) de alta resolução. O material formou um grande quebra-cabeça o qual georreferenciamos, ou seja, ajustamos o mapa às coordenadas dos dias de hoje”, explica o autor da pesquisa.

    Segundo a pesquisa, atualmente os rios que passam em áreas ocupadas têm uma configuração bastante diferente do que foi registrado na Planta Koeler. “Muito por conta das canalizações que diminuíram bastante a sinuosidade dos mesmos (só existia planejamento de canalização no centro da cidade – ao longo da rua do Imperador e do Obelisco até o Palácio de Cristal), visando evitar enchentes nos arredores do Palácio e na Villa Imperial (onde estava o Palácio e as casas de pessoas ligadas à corte). Junta-se a isto o crescimento urbano desordenado da cidade e um regime mais intenso de fortes chuvas (este pode estar vinculado às emergentes mudanças climáticas) para formar o atual cenário de enchentes e deslizamentos, que tendem a se agravar cada vez mais”, disse Manoel.

    Um levantamento feito a partir dos dados de inundações das estações fluvio-pluviométricas do Inea, feita por pesquisadores junto ao autor da pesquisa, mostram que entre os anos de 2011 e 2018, tiveram 153 registros de alagamentos nas três bacias. Cerca de 47% foram na Bacia do Quitandinha, no trecho da Rua Coronel Veiga. “A supressão das ilhas é apenas um fator dentre vários outros que influenciam na ocorrência das enchentes como a ocupação desordenada (edificações ou coberturas não vegetais com afloramentos rochosos). E a bacia do Quitandinha é o que tem esse maior índice. Além disso, esta bacia também teve muitas mudanças na morfologia dos rios com a diminuição da sinuosidade e largura dos mesmos”, explica o autor da pesquisa.

    Alternativas ligadas a um processo de ordenamento do uso urbano e um efetivo controle, com programas de reflorestamento podem contribuir para solucionar o problema dos alagamentos no município. “No meu ponto de vista, existem medidas de médio e longo prazo. De médio prazo só obras de engenharia para melhorar esse escoamento (piscinões, tuneis de vazão aumentada …) e a longo prazo seria cuidar da ocupação e diminuir a pressão urbana sobre as áreas florestadas, além de medidas preventivas de deslizamentos e reflorestamento de encostas”, disse.

    A pesquisa revela que a existência das ilhas nas bacias significa que os rios eram muito maiores, e consequentemente suportariam quantidades de água maiores em dias de grande precipitações, como os que ocorrem nos dias atuais. E por isso, haveria a necessidade de promoção de ações de mapeamento e monitoramento do município, para que a cidade seja conhecida e planejada como um todo. Seguindo o conceito de cidades inteligentes, onde as informações estão levantadas e disponibilizadas para a sociedade, como aponta a pesquisa.

    “Outra coisa importantíssima para a municipalidade é a organização das informações em um centro de controle e disseminação de dados, facilitando o planejamento e gestão do município em diversas áreas, inclusive na Defesa Civil. Com a coleta e disseminação de dados de diferentes fontes para alertar a população, fiscalizar a ocupação do solo, planejar o trânsito, isto tudo dentro de um conceito de cidades inteligentes”, disse Manoel. 

     

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