Perna curta
Do noticiário pude colher publicação que relatou, até com certos detalhes, acerca de entrevero mantido entre duas senhoras que acabou por desaguar junto às autoridades policiais de uma pequena cidade.
Tudo se deu em razão da discórdia ocorrida entre ambas e o termo “perna curta”, defeito físico que uma delas possuía, uma das razões que motivou a encrenca conforme o comentário, à guiza de galhofa, por parte de um periódico diga-se de passagem, pouco discreto.
Sobre tais considerações, procurei compreendê-las com alguma restrição até porque todos vimos ao mundo sob desígnios Superiores.
Contudo, enfocando o tema sob vertente totalmente diversa, acabei por perceber que o termo em questão veio a caber como uma preciosa “jóia” no dedo de uma das senhoras, afinal “julgada hostilizada”, considerada até então amiga sincera, justamente a detentora de referida deficiência.
Depois de demorado “diálogo” mantido entre ambas, em razão do assunto objeto da discórdia, no entender da “vítima” que se julgara ultrajada, quedou que não conseguiram chegar à conclusão a respeito do que conversavam, em tom elevado, sabem por acaso por quê? Justamente por força da tão conhecida expressão perna curta – aliada à divida – a qual logo após vir à tona o seu significado jocoso, terminou que a conversa foi desaguar no “brejo”.
A mim não restou, após ler a matéria, qualquer dúvida que tudo estaria vinculado a questões financeiras, uma vez que a devedora após transcorrido longo tempo com a obrigação de quitar seu compromisso, só decidiu fazê-lo muitos meses depois da data aprazada.
Aquela que emprestara o dinheiro, inconformada com quem lhe devia, uma vez que só apresentava argumentos que faltavam com a verdade, decidiu deixar consignado o seu total descontentamento, no que foi contestada de modo desrespeitoso por parte de quem nenhuma razão lhe assistia.
Josefa, a vítima, “sangue quente” e muito franca, não suportando os desafios recebidos advertiu-a que nunca mais lhe solicitasse qualquer tipo de auxílio, especialmente de ordem financeira.
A “cara de pau”, entretanto, aduziu: “Não necessito de suas esmolas e não lhe paguei porquanto tive despesas mais urgentes para serem quitadas”. Josefa, estafada, apenas “engolindo em seco” o que escutara, de modo a evitar um confronto mais desgastante entre ambas porém, tendo ainda transmitido à “caloteira” algumas verdades, não contestadas certamente por falta de argumentos.
Findo o “diálogo”, ficou claro que cada qual seguiu em direção contrária e a amizade de tantos anos acabou, como não poderia deixar de ser, no “buraco” e mais tarde na Delegacia de Polícia, incrível que possa parecer, mas ocorreu para espanto de muitos.
O fato que ora se comenta não guarda caráter inédito, todavia quem já “matara a charada” foi precisamente o poeta quando escreveu:
“De hostilizar ao ingrato,
já ninguém, aqui se furta;
Pois, entre nós – isso é fato,
gratidão tem perna curta”