Perfeição
Romualdão para os amigos e Romualdo no registro civil, era categórico quando a conversa descambava para mulher.
“ – Mulher, para mim, deve ser especial!”
“ – Como, especial, Romualdão?! Mulher é mulher…”, diziam para ele – completando “– só muda o invólucro!”
“ – Primeiro, eu não sei o que é essa palavra ai e, segundo, vou morrer solteiro se não encontrar uma deusa!” – Romualdão cortava a conversa por ai.
“ – Deusa, Romualdão?! Para com isso! Não existe mulher perfeita…” – argumentava Clodoaldo..
“ – Te cuida e arruma uma logo porque você vai morrer sozinho e querendo…” –encerrava o papo o Tancredo.
Romualdão bem que procurava, mas era exigente demais: essa muito alta; aquela baixinha; outra parecendo um homem; a Marieta, que conhecera na infância, era mal educada, desbocada, mal-amada e por ai afora. Ele assinava a revista “Play Boy” para encontrar um estereótipo para o seu gosto, porém achava as modelos fora do padrão da normalidade que apreciava na mulher; demais aqui, faltando ali, máscaras faciais parecendo arco-íris com cores de diversos tons pela cara toda, cinturas estranhas, quadris medonhos, seios competindo com jacas, cabelos coloridos demais, tudo em tamanhos despropositados…
“- Não são mulheres e sim árvores de natal onde tudo está pendurado!” – dizia.
Um dia, aconteceu. Em uma estação rodoviária viu a sua deusa.
“ – Que mulher! Perfeita! É ela!”
Romualdão deixou a cautela de lado; ensarilhou-se de coragem; abordou a desconhecida:
“ – Com licença…. princesa…” – encostou-se pelo lado em sussurro melodioso . “– Posso falar com você?”
“ – O quê? Falar comigo?! Você?!” , disse ela com uma voz dosada de sensualidade, mirando-o da cabeça aos pés.
“ – Eu mesmo, Romualdo Pereira da Silva!”
“ – Hum… Vejamos… Agradável, bonito… Gostei da sua abordagem sincera e objetiva. Mariana, prazer… Meu nome é Mariana.”
“ – Lindo nome! Mariana!”, já estava comprometido o Romualdão e ela aceitara a paquera com doçura.
Namoraram à moda antiga porque Romualdão era conservador; avanços mínimos; toques de raspadelas sem pressão; beijos só de bitoquinha.
O casamento foi contratado, marcado, como de direito em todos os condimentos.
Fim de tarde festivo, convidados, padrinhos, igreja enfeitada, padre e o casal transbordando de alegria.
Após os comes-e-bebes com baile e tudo o mais, a lua-de-mel em um hotel de boa qualidade, requintado em gosto e atendimento.
A clássica entrada do marido carregando nos braços a feliz esposa.
Vou privar a todos dos detalhes do que veio em seguida. Foi perfeita a conjunção e Romualdão e Mariana viveram uma noite de encantamento.
Pela manhã, dormindo cansados e com sorrisos perdidos no sonhar quimeras, antecipou-se Romualdão, acordando para olhar a sua deusa sob os raios da alvorada que iluminava o ambiente.
Chegou-se à amada, por detrás, enlaçando-a e beijando suas costas, quando chamou sua atenção uma pequena inscrição um pouco acima do suave cofrinho. Leu:
“ – Made in China.”