• Pedras: medo e ameaça

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  • 04/05/2022 14:43
    Por Fernando Costa

    Carlos Drummond de Andrade em sua rica produção nos presenteou com belos poemas, um deles “No meio do caminho”.  Inesquecível obra-prima. Uma joia da literatura brasileira. Esses versos foram publicados em 1928 na Revista Antropofagia, enumeram vários obstáculos com os quais nos deparamos nos diversos ciclos da existência.  “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/ tinha uma pedra/no meio do caminho tinha uma pedra.” Por ocasião das recentes catástrofes ocorridas em Petrópolis, duas no ano de 2022, uma em 15 de fevereiro (mais de duzentas mortes) e, a segunda em 20 de março, (cinco mortes), portanto, em curto espaço de tempo, nos revelaram que os empecilhos continuam a rondar nossa imaginação e as “retinas tão fatigadas.” E as mesmas pedras agora, a da Rua Nova e do morro da Rua Vinte e Quatro de Maio a todos amedronta e apavora. Inúmeras pessoas se afastaram de suas famílias, casas, pertences,  lojas e viram, de repente, estagnarem seus sonhos em meio à dor e sofrimento. O Brasil e países do mundo disseram presente, sobretudo, as igrejas, em clara demonstração de solidariedade, mas, com o tempo as cestas básicas, remédios, e vestuário acabarão. Uns lutam pelo aluguel social, outros acabam, sem alternativa a se instalarem sob marquises ou pontes. Privilegiados conseguem casas de parentes. E de resto a cidade ainda está a conviver com o pó, ruas destruídas, calçadas e jardins danificados, enfim, resquícios de lama e dor. De joelhos o povo clama por solução e restabelecimento da saúde e equilíbrio social, comercial e humanitário da cidade. Ficaram lições de solidariedade entre a população daqui e de fora que acorreram em socorro na esperança de que o sofrimento fosse amenizado.  Retornemos ao fio condutor para dizer que a relevância de tais acontecimentos são suas pedras e a nossa pedra de cada dia a ser superada.  A repetição das  “pedras” pode parecer monótona, mas, soa como um mantra a nos lembrar da genialidade do poeta que para alguns à época o interpretaram como enfadonho. Retornando ao mundo real, em Petrópolis,  temos recebido notícias em jornais, televisão, rádios e outros veículos de comunicação de que elas estão sendo monitorada, a Defesa Civil tem pedido aos residentes e comerciantes o afastamento das áreas de risco, porém, a municipalidade precisa trazer urgente solução. Enquanto isso a maioria dos comerciantes tem suas portas fechadas, proprietários de imóveis, sufocados pela crise que assola o país, sobretudo na Imperial Cidade motivada pelas enchentes, antes pela pandemia, agora, mais que nunca precisa resistir. A comunidade e os poderes constituídos, unidos em esforços e ações concretas haverá de buscar a solução pra que esses obstáculos que amedrontam e trazem à boca o fel, gosto de sangue e tragédia, nesse mesmo diapasão os bueiros, as encostas, o assoreamento e desassoreamento sejam realizados. Parafraseando as palavras do Evangelho, em João, Capítulo 20, versículo 1 ali diz: “… e viu que a pedra tinha sido tirada do túmulo” . Nas Sagradas Escrituras se encontra o texto, “A escuridão da madrugada desaparece e desponta a Luz que dá início à nova Criação e à nova história.” “Depois do silêncio, renasce a Palavra. Parecia o fim e, no entanto, aquele silêncio era o mesmo que precedeu à Palavra criadora: “Faça-se a luz!”  Aproveitemos, também, durante essa faxina da cidade, dos morros e das ruas e retiremos as pedras que se mantêm inarredáveis na entrada do nosso coração, servindo de entrave à vida e elas, acabam por serem as responsáveis pelo trauma, fracasso, tristeza e a crise cotidiana. Esse é o desfecho desejado? Claro, não! Nascemos para a felicidade, afinal, viver é uma dádiva celestial.

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