• Peça ‘A Lista’ reúne mulheres isoladas pela pandemia e que se encontram na amizade

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  • 11/03/2022 09:00
    Por Ubiratan Brasil / Estadão

    Lilia Cabral e a filha, a também atriz Giulia Bertolli, trilhavam caminhos distintos e nunca se cruzaram em um palco. “Até comentávamos de fazer algo juntas, mas o projeto nunca saía do papel”, conta Lilia que, ao entrar em cena neste sábado, 12, no Teatro Renaissance, não apenas vai estrear oficialmente a peça A Lista como consolida também seu primeiro encontro cênico com Giulia. “Sim, encontro é a principal característica desse trabalho”, comenta a jovem atriz.

    Afinal, foi o isolamento forçado pela pandemia da covid-19 que deu o empurrão que faltava – no início de 2020, Lilia encerrou um projeto artístico, assim como Giulia Bertolli. Cada uma planejava o próximo passo quando o lockdown manteve as duas no mesmo apartamento, no Rio, sem perspectivas imediatas. “Como todo mundo, ficamos inicialmente sem ação”, relembra Giulia.

    Ao saber que as atrizes estavam juntas, o dramaturgo Gustavo Pinheiro propôs que as duas encenassem um texto que escrevia para o projeto Teatro Já, criado em junho de 2020 com a finalidade de permitir que a classe teatral conseguisse se exercitar, ainda que diante de câmeras que transmitiam online e em um teatro com a plateia praticamente vazia.

    VAZIO

    “Eram apenas os responsáveis pelas três câmeras e alguns convidados, que aceitaram assistir presencialmente, para que o teatro não ficasse completamente vazio”, recorda Lilia. “Ainda havia muito medo, não tínhamos vacina e a solução mais prudente era o completo afastamento.” O projeto privilegiou monólogos já encenados, mas A Lista, texto afinal escrito por Pinheiro, além de inédito, trazia duas intérpretes.

    “Adoramos quando Gustavo nos convidou, pois iniciamos um processe criativo em conjunto, que permitiu que finalmente eu e Giulia trabalhássemos juntas no teatro”, comenta a atriz. Os ensaios começaram em julho de 2020, as atrizes distantes do diretor – e a estreia ocorreu em setembro. “Chegar ao teatro vazio foi como entrar em uma bola de ar”, compara Giulia.

    A Lista traz Lilia no papel de Laurita, uma aposentada trancada em seu apartamento em Copacabana, temendo se contaminar pelo vírus que obrigou o mundo a se isolar. Para ajudá-la nas tarefas diárias, Amanda (Giulia) recebe uma lista de compras a serem feitas no supermercado que vão abastecer a casa da vizinha.

    “São duas mulheres que também vivem fechadas intimamente”, explica Lilia. “Laurita é uma professora que se aposentou depois de lecionar durante 35 anos. Sua vida se resumiu a isso e agora ela busca alternativas para respirar um pouco melhor.”

    “Já Amanda é uma mulher ainda mais fechada, muito séria, dura nas atitudes, politicamente correta e se incomoda com as incorreções de Laurita”, completa Giulia, que se vê muito diferente da sua personagem. “Ela é muito defensiva, mas, do encontro entre essas mulheres, vai nascer uma variedade de sentimentos como afeto, medo, soberba, segurança e insegurança, enfim, sensações pelas quais passamos durante toda a pandemia.”

    CAMADAS

    Para a montagem online, Gustavo Pinheiro escreveu um texto cuja encenação durava cerca de 45 minutos. Para a apresentação com público, no entanto, ele precisou acrescentar outras camadas na história. Descobre-se, por exemplo, que Laurita esconde um passado misterioso com uma filha, com quem mantém agora uma relação estremecida. “O curioso é que Laurita, com seu jeito, amolece Amanda que, em resposta, a incentiva a ligar para a filha”, diz Giulia.

    “São três momentos vividos na peça”, comenta o diretor Guilherme Piva. “Além do passado e do presente, há um terceiro que mostra um futuro utópico, que deixa a trama mais aberta na compreensão do espectador.”

    Em sua montagem, Piva destaca o bairro de Copacabana, onde se passa a história e que praticamente se torna também um personagem. “É uma região muito peculiar do Rio de Janeiro, pois, embora afamada no mundo todo e com uma boa parcela de moradores mais velhos, é também descuidada, maltratada mesmo.”

    Um dos símbolos do bairro, a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, cujos óculos foram furtados inúmeras vezes, estará presente para representar a região. “E com óculos”, brinca Piva que, a partir de uma lista de compras, desperta em duas mulheres um ciclo de emoções.

    A Lista

    Teatro Renaissance

    Alameda Santos, 2.233.

    Sáb., 20h30. Dom., 18h.

    R$ 100. Estreia 12/3.

    Até 12/6.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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