Partido revolucionário virtual
Quem guardava culpa porque sabia nada fazer para mudar o mundo, achou na internet seu bálsamo. Do sofá, se for dos arcaicos que veem TV, numa das mãos terá o controle remoto, enquanto com a outra, postará a revolução. Gente que passou vida alienada, sem participar de nada, mas depois da web, se fez militante feroz. De qualquer coisa. Os poderes de um celular – na palma da mão, a mesma tecnologia que pôs gente na Lua! – tornam fácil essa rebeldia mil causas, e mais combativos os militantes desse Partido Revolucionário Virtual. Que se espalha mundo afora, mais espuma que água, mais fumaça que fogo. Mas quanta espuma e que negra fumaça! Propagadas pela Facção Twiter, pelo Comando Facebook e pelas tão radicais quanto céleres no gatilho Células Anarquistas Zap-Zap.
Se você pronunciar nessa virtual terra de ninguém qualquer verbo diferente do ditatorial e volúvel politicamente correto, comandos guerrilheiros invadirão sua caixa de e-mails (essa coisa antiga) e sua lista de comentários com impropérios sanguinários. Inocentes são crucificados em calúnias, na perversidade dos radicais especializados em demolir reputações, dar relevância ao efêmero, e celebridade ao medíocre. Há Agitação e Propaganda, como em todo organismo revolucionário que se preze. De subalterno, se fez núcleo da ação, com um Setor de Contrapropaganda que, em geral é uma Central de Boatos Inacreditáveis e a Seção de Anti-inteligência, que faz isso mesmo: propagar a burrice. Segmentos que disputam o título de “post” mais rápido do Oeste, tamanha a hiperatividade dos militantes sempre prestes a desancar alguém ou inventar alguma maluquice. Mais amenos, embora firmes, são os adeptos da Corrente Socialista Hashtag. Especialistas na ingênua repetição de palavras de ordem resumidas, sempre iniciadas pelo sinal de jogo da velha seguido de um Fora-Alguém ou um Contra-Aquilo.
Desprezam a disciplina tradicional, o discurso hierarquizado. Acham que democrático é cada um disparar na nuvem a própria metralhadora de “posts”. Único elemento de controle são os lotes de curte/compartilha angariados no mercado de miúdas vaidades que acelera a capacidade tóxica do sistema. Quando se desafia esse povo à vida real, largar a comodidade, a máscara de tela, fazem como em 2013: flashmobs, performances, passeatas extensões da internet, cada um por si, com o próprio cartaz e a palavra de ordem individualista, várias contraditórias, mas todos caminhando e cantando e seguindo a ilusão.
Gente que usa a Internet para purgar culpas e complexos, aliviar consciência incomodada, bradando contra golpistas e coxinhas, Reforma da Previdência e Bolsonaro, Lula e Temer, o goleiro Bruno e o Leandro Karnal, em radicalidade feroz, de radicais sem raiz. Sem reflexão, vão como folhas secas ao volúvel vento da opinião. Não percebem seu “Partido” infiltrado de manipuladores profissionais a soldo de empresas e partidos políticos ditando os discursos que repetem. Marciano desavisado que aportasse aqui os acharia um Soviete de Petrogrado prestes a assaltar o Palácio do Czar. Que nada. A maioria – e digo a maioria, porque obviamente há os sérios – é incapaz de ir à assembleia do sindicato, à associação de moradores, ao encontro de pais ou à reunião do condomínio. Esses lugares comuns e prosaicos onde a vida real acontece e onde, de verdade, olho no olho, sem telas eletrônicas como máscaras, as pessoas podem mudar o mundo.
denilsoncdearaujo.blogspot.com