• Partido ou seita

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 30/09/2017 12:00

    A palavra seita vem da mesma raiz grega de heresia. “Háiresis”, no latim, virou “secta”. Heresia, em religião, é algo que foge à interpretação dominante ou autorizada de uma doutrina. Mas no entendimento comum, heresia é qualquer absurdo. No futebol, seria heresia defender que o Tite escale Neymar como zagueiro. Serão sectários os que guerreiem por tal heresia, que abusa do bom senso e do entendimento dominante: Neymar é um dos melhores atacantes do mundo e não pode ser podado no que faz melhor.

     Em geral, líderes de seitas se acham portadores de revelação divina que pregam radicalmente. Muitas vezes se fazem de mártires, almas puras. Afrontam o bom senso, a realidade contrária, os fatos, a ciência, os conselhos dos sábios e vão proclamar sua heresia. Seu vigor feroz em geral lhes dá auras de profetas. Arrumam seguidores. Pessoas gostam de líderes messiânicos, ainda que falsos. Seguem sem pensar aquele que lhes dá magias, rituais e caminhos, achando que seus problemas serão resolvidos. Gostam de Terras Prometidas. 

     Há seitas de sectarismo fabricado por líderes espertalhões, conscientes da própria falsidade. Querem o poder que sua pregação proporciona, o dinheiro que suas igrejas conseguem arrecadar. Falsos profetas, a Bíblia previu, nos “últimos tempos” a Terra os daria mais que chuchu na serra. São estes, os tempos. Multidões arrastadas para abismos sectários.

    Houve a seita Templo do Povo. Quando a fundou, Jim Jones iludiu a muitos, pregando fraternidade, trabalho pelos pobres e desprendimento dos bens materiais. Mas seu comportamento ditatorial impunha a doação dos bens de seus seguidores à seita. Há relatos de castigos corporais, sequestros e doutrinação para o suicídio. Quando as falsidades da seita foram expostas por desertores acordados do pesadelo, as autoridades começaram a averiguar suas práticas exóticas. Jones, “alma pura”, posou de perseguido e pregou o êxodo à Terra Prometida. Que implantou na Guiana, na Jonestown que fundou. Sob pressão, em delírio, Jones levou quase mil pessoas, inclusive 300 crianças, a um misto de assassinatos e suicídios coletivos. Beberam uma mistura de cianureto com suco. Num trecho da gravação que subsistiu do episódio, Jones prega: “Temos de sair daqui, temos de dormir. Se não conseguirmos viver em paz, morreremos em paz! Não é um suicídio coletivo, mas um suicídio revolucionário”. Na defesa de sua heresia, Jones arrastou seguidores ao suicídio como “ato revolucionário”! 

     Palocci é um acordado do pesadelo. Sem vocação de suicida, meteu com toda a força o dedo na ferida. Em sua carta de desligamento do PT, indagou: “Somos partido ou seita?”. E mais: “até quando vamos acreditar na autoproclamação do homem mais honesto do país?”. Este mesmo “honesto” que, conforme Palocci, sofreu violento “desmonte moral”, chafurdando-se em propinas sob seus olhos.

     Já disse. Saí do PT para não ser refém do Lula. O partido democrático desvirtuou-se em seita autoritária. Sabem-no petistas conscientes como Olívio Dutra que, justamente por dizer verdades, ficou marginalizado no partido que fundou. Você que ainda insiste, ouça Palocci e saia desse Jonestown ideológico. Ou ouça Dutra, e expulse daí o Jim Jones da vez antes que ele mate o que resta de dignidade no partido. É heresia defender ladrões do Erário como revolucionários. Não afunde nessa lama. Não beba esse cianureto. Não se combate a direita podre filiando-se a uma esquerda corrupta.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

    Últimas