Parte dos manifestantes quer destituição de ministros do STF, diz organizador
Um dos organizadores do ato bolsonarista deste domingo, 1º, em Brasília, o youtuber e empresário João Victor Oliveira Araponga Salas, de 26 anos, admite que parte dos manifestantes irá à Esplanada dos Ministérios para pedir a saída dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O protesto tem como pauta principal a defesa da decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL) de conceder indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi condenado pelo plenário do STF a 8 anos e 9 meses de prisão.
Salas diz ter sido responsável por contratar um dos carros de som para a manifestação, no qual devem discursar a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e eventualmente a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, que pretende concorrer ao Senado pelo Republicanos.
Ao Estadão/Broadcast Político, o youtuber disse ser contra atacar a Corte no local e ter pedido aos oradores que usarem seu trio elétrico que evitem investidas contra os ministros do STF se Jair Bolsonaro estiver presente. O presidente é esperado no evento, mas aliados o aconselharam a não ir para evitar uma escalada da crise institucional.
A manifestação em frente ao Congresso vai contar com quatro trios elétricos. Salas disse que vai disponibilizar um deles para que Bolsonaro discurse, caso decida ir. “Existe uma turma que quer pedir a destituição dos 11 ministros. Eu estou fazendo uma manifestação sobre o dia da liberdade. Eu não posso chegar nessa pessoa e falar ‘olha, você não vai falar jamais a respeito disso’. É algo que você acredita, que você quer”, disse Salas. “Eu fiz somente um pedido. Que na presença do presidente Bolsonaro não fale isso jamais. Por quê? Porque se tem alguém que tem que falar algo a respeito de uma instituição, a respeito de uma pessoa, de um ministro, é o presidente Bolsonaro. Ele tem direito. Ele pode falar o que ele quiser”, emendou.
Natural de Samambaia, uma cidade-satélite de Brasília, João Salas tem 26 anos e se apresenta como empresário – no site da Receita, ele consta como dono de uma empresa de “meios de pagamento e negócios financeiros”, com capital social de R$ 10 mil e sem sede física ou site na internet, registrada há menos de cinco meses. Também aparece como titular de uma empresa de locação de veículos chamada Reino Locações, que está desativada desde fevereiro passado.
Ele também é responsável por um canal no YouTube com pouco mais de 10 mil inscritos. No perfil do canal, Salas aparece com uma blusa verde e amarela com os dizeres “Supremo é o povo”. Também costuma publicar no Instagram fotos com influenciadores bolsonaristas e autoridades – como o próprio presidente da República e o ex-secretário especial de Cultura Mário Frias.
Em 2018, João Salas concorreu a uma cadeira de deputado distrital em Brasília pelo antigo PRP (Partido Republicano Progressista), incorporado em março de 2019 ao Patriota (antigo Partido Ecológico Nacional, PEN). Teve apenas 161 votos e não se elegeu. Ele também é mencionado de passagem em um relatório de 2020 da Polícia Federal que integra o chamado Inquérito dos Atos Antidemocráticos, arquivado em meados de 2021 pelo STF – o relatório registra uma conversa dele no WhatsApp com o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. Apesar da menção, Salas não foi alvo do inquérito.
Para o entorno de Bolsonaro, o melhor seria ele não ir à manifestação. Aliados dizem, contudo, que o presidente é muito imprevisível e que é difícil saber qual decisão ele vai tomar. A avaliação é de que o chefe do Executivo teve ganhos políticos ao confrontar o Supremo no caso Silveira e agora é preciso baixar a temperatura da crise.
“Não sei se vale a pena ficar remoendo o mesmo fato. A opinião popular já está satisfeita. (O Daniel Silveira) foi inocentado, teve a graça, o Supremo não contestou, ficou na dele. Não há por que se manifestar agora”, disse o deputado Capitão Augusto (SP), vice-presidente nacional do PL, ao Estadão/Broadcast.
Neste sábado, 30, o presidente incentivou apoiadores a irem aos atos e disse que as pessoas vão às ruas porque “não abrem mão da liberdade”. Como mostrou o Estadão nesta sexta-feira, 29, a cúpula dos Poderes Legislativo e Judiciário teme uma explosão de Bolsonaro, caso ele participe de protestos no 1.º de maio. Embora ainda não haja confirmação da presença do chefe do Executivo, a manifestação é vista como um novo teste de estresse da República.