• Parlamentares vão a Roraima apurar violência de garimpeiros contra ianomâmis

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  • 04/05/2022 18:13
    Por José Maria Tomazela / Estadão

    Uma comitiva de parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados viajará no próximo dia 12 para Boa Vista, capital de Roraima, para tratar das denúncias de violência que estariam acontecendo na Terra Indígena Yanomami. Conforme o senador Humberto Costa (PT-PE), autor do requerimento aprovado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado, as diligências são necessárias para acompanhar as medidas de combate ao avanço do garimpo ilegal na terra dos ianomâmis.

    O requerimento foi apresentado depois que o senador ouviu do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari, pedido para que seja mantida a investigação das denúncias de estupro e morte de uma menina ianomâmi de 12 anos por garimpeiros. A garota teria sido sequestrada na aldeia Aracaçá, na região de Wiakás, na TI Yanomami, e levada para um acampamento junto com uma mulher e outra criança de 4 anos. Segundo a denúncia, a mulher e essa criança caíram no rio Uraricoera, mas apenas a indígena adulta sobreviveu.

    Uma equipe integrada pela Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), com apoio do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB), viajou até a região no último dia 27 para averiguar as denúncias, mas não encontrou indícios da prática dos crimes, segundo nota conjunta divulgada após as diligências. Na terça-feira, 3, cinco dias após o retorno da equipe, a Funai afirmou que os órgãos ainda estão em diligência em busca de maiores esclarecimentos.

    Júnior Hekurari, que acompanhou a equipe de investigação, disse que a aldeia foi totalmente esvaziada e tinha marcas de incêndio. Nesta terça-feira, 3, ele voltou a afirmar que os indígenas fugiram depois de terem queimado o corpo das vítimas – a menina de 12 anos e a criança – e a moradia da família, conforme a tradição ianomâmi. Os integrantes da aldeia estariam vagando pela floresta em busca de um novo local para reconstruir suas casas.

    Conforme o líder, as famílias indígenas foram coagidas e ameaçadas para ficar em silêncio. Outras testemunhas teriam recebido ouro para não denunciar a violência. Ele afirma que os garimpeiros permanecem na região, mesmo depois que a Polícia Federal queimou um entreposto comercial e um posto de gasolina clandestino mantidos pelo garimpo. Júnior reclama da demora das autoridades para retirar os 20 mil garimpeiros ilegais que estariam na terra indígena.

    A Associação dos Garimpeiros Independentes de Roraima (Agirr) e o Movimento Garimpo é Legal disseram que os órgãos oficiais já desmentiram as acusações apresentadas pelo presidente do Condisi YY sobre a morte da menina, após terem ido até o local e não terem encontrado qualquer indício de crime. As duas entidades informaram que estão adotando medidas legais para responsabilizar o autor das “falsas denúncias”.

    O Ministério Público Federal (MPF) de Roraima informou que “a investigação segue em curso” e que, assim que houver uma conclusão, ela será divulgada. Procurada pela reportagem, a Polícia Federal ainda não deu retorno.

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