• Paraolimpíada ou paralimpíada

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  • 19/09/2016 13:05

    Embora não seja um seguidor do pensamento de Olavo Bilac, concordo com o que ele afirmara: “A pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo”.

    A preservação da identidade de um povo também está na preservação da língua pátria. Não me considero purista, compreendo o dinamismo da linguagem, a versatilidade do povo em criar códigos no processo de comunicação. Gosto de ver os neologismos, quando ganham uma conotação estética. Sou admirador da prosa de Guimarães Rosa principalmente pelo trabalho singular que ele fez com a palavra. 

    Cada vocábulo tem a sua história, antes de cair na boca do povo. Há os que se preocupam com a etimologia. A língua é viva, conhece a força do tempo. Este é imprescindível para separar o trigo do joio.

    Confesso que estou aqui armando a minha defesa antes de ser tachado de conservador, por oferecer resistência a uma “inovação”, à incorporação de um novo código: “Paralimpíada”. Tal palavra foi incorporada ao nosso vocabulário, a partir de 2011, por uma deliberação do Comitê Paralímpico Brasileiro, em obediência a uma determinação do Comitê Paralímpico Internacional. É válido ressaltar que o Comitê brasileiro foi fundado em 1995, com o nome de Paraolímpico. 

    O termo “paralímpico” provém da língua inglesa, da palavra “paralympic”, que mistura o início de “paraplegic” com o final da palavra “olympics” para se referir ao atleta “paraolímpico”.

    A palavra “paraolímpico” surgiu na junção do prefixo de origem grega “para” (de paraplegia) com o adjetivo “olímpico”.

    Uma das explicações para a assimilação desse novo vocábulo está no fato de se tratar de um nome próprio. E, como essa palavra já estava sendo usada nos outros países que falam a língua portuguesa, o Comitê Brasileiro passou a adotá-la. Eis os países que usam a “Última Flor do Lácio, inculta e bela” como falara Bilac: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste.

    A incorporação desse vocábulo passou a influenciar a grafia de outras palavras: o termo “para-atleta” (segundo a nova regra ortográfica, usa-se o hífen quando o prefixo termina em vogal e a palavra seguinte começa com a mesma vogal) está sendo grafado como “paratleta”.

    Por uma questão de obediência às determinações do Comitê Internacional, a imprensa, que faz a cobertura dos jogos, tem usado a nova palavra e suas variações: “paralímpico”, “paralimpíada” e “paratleta”.

    Há muitos vocábulos que surgiram por amálgama lexical, fusão de duas palavras para formar outra (“showmício” – show mais comício / “informática” – informação mais automática). Vários nomes próprios surgiram da criatividade dos pais. Batizam os filhos, unindo radicais de seus próprios nomes. Nessa listagem estão: Juldrene, Juldroelson…

    Em 1989, o senhor Jorge Duílio Lima Meneses mudou seu nome artístico: “Jorge Ben” passou a ser chamado “Jorge Ben Jor.” Porém manteve o mesmo balanço! Salve Jorge! Este é do bem!

    Resisto quando as coisas são impostas sem explicações convincentes. O surgimento dessa nova palavra não pode impedir o uso da outra, que tem uma consistente explicação etimológica. 

     Os para-atletas são heróis. Superam as barreiras dos preconceitos. Vencem as lutas que travam dentro de si. São exemplos de superação e perseverança.

     – Que os deuses do Olimpo nos protejam. Mesmo antes de Cristo, o povo dominante sempre procurou impor a sua cultura sobre o povo dominado.  A linguagem também sofre os reflexos do imperialismo cultural.

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