Para onde Vamos? A Espera.
Homilia do Mons. José Maria Pereira – XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano A
Os Textos Bíblicos da Liturgia dominical convidam-nos a prolongar a reflexão sobre a vida eterna, iniciada por ocasião da Comemoração de todos os fiéis defuntos. Sobre este ponto é evidente a diferença entre quantos creem e aqueles que não creem, ou poder-se-ia igualmente dizer, entre quantos esperam e aqueles que não esperam. Escreve São Paulo: “Não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como fazem os outros homens que não têm esperança” ( 1Ts 4, 13 ). A fé na Morte e Ressurreição de Jesus Cristo marca, também neste campo, uma linha divisória decisiva. É ainda São Paulo quem recorda aos cristãos de Éfeso que, antes de receber a Boa Notícia (o Evangelho), estavam “sem esperança da Promessa e sem Deus neste mundo” (Ef 2, 12). De fato, a religião dos gregos, os cultos e os mitos pagãos não eram capazes de esclarecer o mistério da morte, a tal ponto que uma antiga inscrição dizia: ”No nada, a partir do nada, quão cedo decaímos”. Se eliminamos Deus, se tiramos Cristo, o mundo cai no vazio e na escuridão.
O Evangelho ( Mt 25, 1 – 13 ) narra a parábola das dez virgens convidadas para uma festa de bodas, símbolo do Reino dos Céus, da Vida Eterna. O Senhor quis esboçar a situação de seus discípulos no mundo e o próprio significado de sua passagem através da vida; quis ajudar – nos a responder àquela eterna e inquietante pergunta: “Para onde estamos indo?” Meditar isso é refletir sobre nosso destino mais verdadeiro; é como olhar – se espelho da vontade de Deus. A parábola é uma imagem feliz, com a qual contudo Jesus ensina uma verdade que nos põe em questão; com efeito, daquelas dez virgens, cinco entram na festa porque, quando o esposo chega, têm óleo para acender as próprias lâmpadas; enquanto as outras cinco permanecem fora porque, insensatas, não tinham trazido óleo. O que representa este “óleo”, indispensável para serem admitidas no banquete nupcial? Santo Agostinho e outros antigos autores veem nisto um símbolo do amor, que não se pode comprar, mas que recebemos como dom, conservamos no íntimo e praticamos com as obras. A verdadeira sabedoria consiste em aproveitar a vida mortal para realizar obras de misericórdia, porque depois da morte isto já não será possível. Quando formos despertados para o juízo final, isto acontecerá com base no amor praticado na vida terrena (cf. Mt 25, 31-46). E este amor é dom de Cristo, efundido em nós pelo Espírito Santo. Quem crê em Deus-Amor tem em si uma esperança invencível, como uma lâmpada com a qual atravessar a noite para além da morte, e chegar à grande festa da vida.
O que é a vida à luz desta parábola evangélica? É uma espera ativa. Todo o ambiente criado por Jesus pela parábola é de expectativa, está dominado por este sentimento de espera. Tudo respira um ar de suspense. Sabe – se que o esposo virá (buscar a esposa da sua casa) e cada coisa se ilumina com este pensamento: os ouvidos estão grudados na porta e os olhos na janela; todas as conversas falam “dele” e se espera de um momento ao outro que se levante o grito: “Eis o noivo, está chegando. Ide ao seu encontro!”.
Assim é a vida cristã nesta terra à luz da fé: uma espera. O cristão é aquele que – certo de que um dia vai realizar – se um evento decisivo para ele – se esmera para organizar cada ato de sua vida em vista desta espera. Não se trata, porém, de uma espera inerte, uma espera para que o tempo passe, e basta, como fez o servo que enterrou o talento recebido e esperou que o dono chegasse. Para as virgens da parábola, a espera é preenchida com duas preocupações: manter a lâmpada acesa e ir ao encontro do esposo. Transposto em nossa vida, isto significa viver na “vigilância” e na “fidelidade”.
Jesus, ao falar, é seguido por esses traços característicos do verdadeiro discípulo. Compara o cristão ao “servo fiel” a quem o patrão confiou a guarda de sua casa, que não adormece, não se apodera do que está na despensa, não é prepotente com os outros servos; fica, porém, desperto e pronto, para abrir a porta a seu patrão assim que volte das núpcias ( Lc 12, 35ss).
Mas o que significa ser fiel? São Paulo o explica aos primeiros cristãos: Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé ( Gl 6, 9 – 10 ). Ser fiéis a Deus significa, portanto, ser perseverantes, não abandonar a luta, mesmo quando a espera se prolonga e o compromisso se torna mais duro.
Fidelidade e vigilância: o que torna tudo isso muito urgente é que não se sabe a hora: Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora ( Mt 25, 13). Não sabiam a hora aquelas virgens e não a sabe nenhum de nós.
Mas o que significa, a este ponto, este vigiar tão insistente do Evangelho? Ficar pensando na morte, dia e noite, paralisados com este pensamento? Pelo contrário. Significa pensar na vida e como enchê – la de conteúdo; significa agir em cada momento conforme a vontade de Deus, mas agir!
Examinemos na presença do Senhor o que é realmente o principal na nossa vida. Procuramos o Senhor em tudo o que fazemos, ou procuramo – nos a nós mesmos? Se Cristo viesse hoje ao nosso encontro, achar – nos – ia vigilantes, esperando – O com as mãos cheias de boas obras?
“Há esquecimentos que não são falta de memória, mas de amor”. Quem ama não se esquece da pessoa amada. Quando o Senhor ocupa o primeiro lugar, não nos esquecemos dEle. Permanecemos em atitude vigilante, acordados, como Jesus nos pede no final da parábola: Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.
Meditemos hoje sobre o estado da nossa alma e sobre o sentido que estamos dando aos nossos dias, ao trabalho… e repitamos – retificando o que não estiver de acordo com o querer de Deus – a oração do Salmo 62: Ó Deus, Tu és o meu Deus, desde a aurora Te procuro. A minha alma tem sede de Ti, deseja – Te a minha carne, como terra seca, sem água.
Sei bem, Senhor, que nada do que faço tem sentido se não me aproxima de Ti.
A Maria, Sede da Sabedoria, peçamos que nos ensine a verdadeira sabedoria, aquela que se fez carne em Jesus. Ele é o Caminho que conduz desta vida para Deus, para o Eterno. Ele fez-nos conhecer o rosto do Pai, e ofereceu-nos uma esperança cheia de amor. Por isso, a Igreja dirige-se com estas palavras à Mãe do Senhor: “Vida, doçura, esperança nossa”. Aprendamos dela a viver e a morrer na esperança que não desilude.