Para IBGE, inflação é um dos principais responsáveis por perda recente do varejo
A aceleração da inflação no País é um dos principais responsáveis pela perda de fôlego das vendas no comércio varejista, afirmou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume vendido recuou 1,3% em setembro ante agosto, a queda mais acentuada para o mês dentro da série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em 2000 pelo IBGE.
O resultado sucede uma retração de 4,3% registrada no mês anterior. Nos dois meses seguidos de quedas, o varejo acumulou uma perda de 5,6%.
“Tem alguns fenômenos, mas a inflação certamente é o mais importante, particularmente nos últimos dois meses”, apontou Santos.
Segundo o pesquisador, a inflação afeta mais o desempenho dos segmentos de combustíveis, supermercados, outros artigos de uso pessoal e doméstico, veículos e material de construção. Santos lembra que algumas atividades tiveram estabilidade na receita nos últimos dois meses, mas o deflator deixou o volume de vendas negativo.
Entre os demais fatores que têm afetado o desempenho das vendas estão a estagnação nas concessões de crédito, a alta nos juros e a falta de renda para consumo, uma vez que o mercado de trabalho vem evoluindo sem melhora do rendimento médio do trabalhador, enumerou Santos. Ele lembrou ainda que os serviços competem com o comércio pela renda disponível das famílias, e a alta recente do dólar também “diminui o ímpeto dos consumidores” por artigos importados, o que “pode influenciar em algumas cadeias” varejistas.
“Quase não há mais relatos de impacto da pandemia na receita das empresas”, acrescentou Santos.
Entre os informantes que justificaram variação na receita em setembro, apenas 2,3% relataram impacto da pandemia. No auge do choque provocado pela crise sanitária, em abril de 2020, esse porcentual era de 63,1%.
Santos reconhece que a maioria dos setores teve uma queda “muito forte” em setembro ante agosto, mas vê volatilidade elevada nos dados.
Segundo ele, depois da recuperação que levou o varejo a patamares recordes recentemente, há um movimento de acomodação no nível de vendas, por conta da base de comparação elevada.