• Para forçar baixa nos juros, PT vai ampliar pressão sobre o BC

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  • 09/02/2023 17:15
    Por Vera Rosa, com colaboração de Iander Porcella e Eduardo Gayer / Estadão

    A cúpula do PT quer enquadrar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e há quem defenda até mesmo sua substituição, sob o argumento de que a atual gestão à frente da autarquia pode levar o governo a uma crise política incontornável. Agora, dirigentes do partido não apenas endossam a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Banco Central para reduzir a taxa básica de juros como avaliam que é preciso defender a reorientação da política monetária.

    Enquanto ministros tentam amenizar o confronto entre Lula e o BC, deputados e senadores do PT aproveitam a controvérsia em torno da política monetária para disputar os rumos do governo com siglas aliadas de centro e centro-direita, na tentativa de impor uma linha “desenvolvimentista” à condução da economia.

    “O fato de o presidente do Banco Central ter mandato não dá a ele autorização para a irresponsabilidade”, disse ao Estadão a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), ao defender uma posição que será levada à reunião do Diretório Nacional do PT, na segunda-feira. “Ter mandato não significa ser imexível.”

    No encontro desta quarta-feira, 8, com o Conselho Político da Coalizão – composto por partidos da base aliada do governo -, Lula recebeu apoio na ofensiva contra o atual patamar de juros, hoje em 13,75% ao ano. “A gente não tem que pedir licença para governar, a gente foi eleito para governar”, afirmou Lula, no Palácio do Planalto. “A gente não tem que tentar agradar a ninguém (…), tem que agradar ao povo brasileiro, que acreditou num programa que nos trouxe até aqui. E é esse programa que nós vamos cumprir.”

    ‘Instabilidade’

    Gleisi pediu a palavra para cumprimentar Lula pelas cobranças ao Banco Central. “Não há justificativa para um juro de 13,75% e uma meta de inflação inexequível. Não temos risco fiscal. Tudo isso vai trazer recessão e desemprego”, insistiu a presidente do PT. “O Brasil tem o juro real mais alto do mundo. Em segundo lugar está o México. A postura do Banco Central joga o País na instabilidade. Se a economia der errado, a democracia estará ameaçada”, completou ela.

    Para o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, Campos Neto ficou “à mercê” da Faria Lima. “O Banco Central não pode ser o Vaticano, que está dentro da Itália, mas quem manda é o papa”, provocou Paulinho da Força, como é conhecido o ex-deputado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou do encontro e observou que, com juros de 13,75%, não há como fazer a economia girar.

    “A temperatura está alta lá fora. Aqui em Brasília está quente, mas há um debate. Tenho certeza absoluta de que o presidente Lula tem e sempre terá uma relação harmônica com o Banco Central. Todos no País querem juros mais baixos”, amenizou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

    Efeito

    Embora não tenham manifestado reparo à posição de Lula durante a reunião, integrantes do MDB e do União Brasil – partidos que, juntos, ocupam seis dos 37 ministérios – avaliam que culpar o Banco Central pela crise econômica pode ter efeito contrário, interferindo tanto nas expectativas de inflação como no câmbio. “Eu defendo a autonomia do Banco Central como proteção contra ideologias e até contra mercados”, destacou o senador Renan Calheiros (MDB-AL). “Mas nenhum presidente do BC pode se manter atrelado ao governo que o nomeou.”

    Nas redes sociais, Gleisi comparou a administração da autarquia à “última trincheira do bolsonarismo no poder”. Ao Estadão, a deputada disse ser preciso enfrentar esse debate. “O preço do dólar está sempre oscilando, com Lula falando ou não. O Brasil tem reservas internacionais. A nossa dívida é interna e não há risco de não pagá-la. Estão doidos?”, perguntou Gleisi, ao rebater críticas de quem vê a estratégia de Lula como muito radical.

    A presidente do PT também defendeu uma reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para reorientar a política monetária de acordo com a realidade econômica do País, “que exige estímulo para crescimento, investimento e criação de emprego”. Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, integram o CMN.

    O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou requerimento de convocação de Campos Neto à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara para que ele explique a manutenção da taxa de juros em 13,75% e “erro contábil” no fluxo cambial em um cenário de desaceleração da economia.

    “Lula foi eleito presidente da República e vai deixar um cara com freio de mão puxado na economia?”, questionou Lindbergh. “Se isso continuar, estaremos liquidados e haverá uma imensa crise política.” Na mesma linha, o ex-senador Paulo Rocha (PT-PA), que terminou o mandato em dezembro, publicou nas redes sociais a seguinte mensagem: “Renuncia cidadão! O Brasil não aguenta mais o presidente bolsonarista do BC ‘autônomo'”.

    Mandato

    A lei que prevê autonomia para o Banco Central, com mandato de quatro anos para presidente e diretores da autarquia, foi aprovada pelo Congresso há dois anos, no governo de Jair Bolsonaro (PL). O presidente do BC pode ser dispensado em caso de “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos” da autarquia. A exoneração, no entanto, precisa passar pelo crivo do Senado. Os aliados do governo não têm votos suficientes para aprovar a saída de Campos Neto.

    “Estamos fazendo um embate político para demarcar um campo e mostrar que temos outra linha de política monetária”, destacou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). “O Centrão e a base do governo deveriam apoiar essa política do presidente Lula sobre o Banco Central, já que a maioria é ligada aos pequenos empresários.” Para Zarattini, o mercado “nunca” quer perder dinheiro. “Tudo aqui no Congresso é um estica e puxa. Nenhum projeto é aprovado na moleza”, observou.

    Na avaliação do secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP), o partido não pode abrir mão de pressionar o Planalto. “O PT tem de ser a cara e a voz do povo no governo Lula. O Banco Central não deixa diminuir a desigualdade social. Então, não podemos aceitar essa situação e vamos discutir isso na reunião do partido, a primeira depois da eleição do Lula”, afirmou o deputado.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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