Para ex-chanceleres, política externa vai pautar eleição
As dificuldades recentes da política externa brasileira, materializadas no entrave às compras de vacinas e insumos da China para combater o coronavírus, devem trazer o tema das relações entre o Brasil e o restante do mundo para o debate eleitoral do ano que vem. A avaliação é de especialistas que participaram ontem da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA), em parceria com o Estadão.
O painel “Política Externa” reuniu os ex-chanceleres Aloysio Nunes Ferreira, Celso Amorim e Celso Lafer, o diplomata e ex-embaixador Rubes Ricupero, a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (MDB-TO), e o cientista político Hussein Kalout. A mediação foi da jornalista Patrícia Campos Mello. As discussões abordaram as expectativas para o setor após a saída do ex-chanceler Ernesto Araújo, criticado por todos os debatedores no evento.
Para Aloysio Nunes, tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ou um aliado dele) quanto candidatos que devem surgir de partidos de centro levarão para suas campanhas propostas para as relações do Brasil com o exterior em um eventual momento pós-Bolsonaro. “A política externa será uma exigência do cardápio que os brasileiros vão examinar na hora de escolher seus candidatos, obrigando essas correntes (políticas) a dizer o que querem do Brasil em sua presença no mundo.”
O fato de o discurso de posse do chanceler Carlos Alberto França – sucessor de Araújo – não ter abordado temas como globalismo, cristianismo e conservadorismo, assuntos caros ao ex-ministro das Relações Exteriores, foi visto como um indicativo positivo para a diplomacia brasileira. “O que havia na política externa era uma coisa absolutamente louca”, disse Celso Amorim. Rubens Ricupero destacou que o único elogio feito por França ao sucessor foi dizer que ele “facilitou a transição”.
Celso Lafer, entretanto, pontuou que a política externa é uma posição da política interna. “A agenda da opinião pública é uma responsabilidade do chanceler, e ela é uma condição de sustentabilidade da política externa”, disse.
Funcionalismo
À tarde, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e a vice-coordenadora da graduação de Administração Pública da FGV, Cibele Franzese, discutiram caminhos para melhorar a gestão de pessoas no serviço público.
As propostas passaram por unificação de carreiras, criação de avaliações de desempenho e sistemas de premiação e melhor distribuição de verbas – o governo federal tem cerca de metade do orçamento público, mas Estados e municípios contratam mais da metade dos servidores que, de fato, prestam serviços de saúde, educação e segurança.
Presidenciáveis
A Brazil Conference at Havard & MIT reúne neste sábado, 17, no painel “Desafios do Brasil”, os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), o apresentador Luciano Huck, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) – todos cotados para disputar o Palácio do Planalto em 2022.
O painel tem início às 19h e encerra a edição deste ano do evento, organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA), em parceria com o Estadão. A conversa terá mediação da jornalista Eliane Cantanhêde, colunista do jornal, e do ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (governo Michel Temer) Hussein Kalout.
O painel com os presidenciáveis será transmitido ao vivo pelo portal estadão.com.br e nas plataformas do jornal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.