• Para entender Bolsonaro

  • 05/01/2019 13:45

    O fenômeno Bolsonaro acabou por surpreender a todos, em especial à grande mídia, TVs e jornais de circulação nacional. Foi uma campanha feita ao largo dos canais tradicionais da mídia, apoiando-se fortemente nas redes sociais. Fernando Gabeira o identificou inicialmente como o comandante de um grupo de extrema direita que tenderia a morrer de morte natural. Aos poucos, até mesmo em função dos filmes de curta metragem que vinha produzindo, em que entrevistava pessoas nas mais diferentes regiões do Brasil, ele começou a perceber que Bolsonaro estava conseguindo captar os sentimentos e a indignação do Brasil profundo. O inconformismo das pessoas mais simples com a total inversão de valores que tomou conta do País na era petista.

    O discurso de seus oponentes ou era mais da mesma insanidade, como foi o caso de Fernando Haddad, o novo poste (apagado) do Lula, ou oriundo do cardápio requentado da esquerda social-democrata incapaz de traçar novos rumos para sairmos da marcha lenta de quase quatro décadas. Daí, o espaço aberto para o crescimento da direita no vácuo de poder percebido pela população em geral que queria mudança para valer. Bolsonaro soube reagir aos novos tempos desejados pelos eleitores, fazendo uso inteligente das redes sociais, o que lhe permitiu chegar lá sem assumir compromissos espúrios.

    Mas, afinal, quem foi e quem é Jair Bolsonaro? À guisa de comparação imperfeita, podemos relembrar o debate sobre o jovem Marx, que estaria na trilha certa, e o Marx maduro, de O Capital, que teria “sacrificado a filosofia à economia, a ética à ciência, o homem à história”, nas palavras do marxista francês Louis Althusser. No caso de Bolsonaro, as posições se invertem: o jovem é tipicamente um destemperado ao passo que o Bolsonaro maduro passou a medir as palavras com atitudes equilibradas, mais ainda após eleito. Seu superior na época de quartel, o coronel Carlos Alfredo Pellegrino, descreveu sua incapacidade de liderar os oficiais subalternos advinda “do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, bem como à falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos”.

    Por sua vez, a mídia impressa e televisiva passou batida na questão de ressaltar o forte componente político de sua personalidade. Esse aspecto não escapou a outro superior seu, na década de 1980, que o avaliou como dono de uma “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”. Óbvio que essa ambição não é típica de um militar conhecedor das limitações que a caserna impõe quanto a esse tipo de ambição. Em termos de disciplina militar, Bolsonaro não pode ser considerado um modelo face à atuação política desenvolvida ainda nos quartéis reivindicando aumento do soldo. Foi essa linha de ação que o elegeu vereador no Rio de Janeiro e depois lhe deu sete mandatos consecutivos como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro.

    Também não foi levado em conta o fato de Bolsonaro ter tido 15 anos de vida militar e quase 30 anos de vida civil como político profissional, após sua ida para a reserva como capitão, se somarmos os dois anos de vereador aos 27 como deputado federal. É evidente sua vocação política, muito em linha com o que ocorre com os civis, que compõem a vasta maioria dos políticos. Não obstante, ele se definiu como pertencente ao baixo clero na Câmara Federal. Essa sua atuação modesta provavelmente o ajudou, inclusive por questões de princípios, a não se envolver em esquemas corruptos nada republicanos que levou o Brasil a ser corretamente rotulado de uma réu-pública, tal o grau de corrupção sistêmica que imperou no País, consolidado no período petista.

    Merecem ainda registro a forma como conduziu sua campanha sem assumir compromissos políticos inconfessáveis e a coragem de reconhecer, por exemplo, que não entendia nada de economia, tendo convocado Paulo Guedes para ser ministro da Economia com amplos poderes para arrumar a casa. Montou um ministério com pessoas qualificadas sem o toma-lá-dá-cá usual do Patropi. Um bom indicador do sucesso de um governo é a qualidade de sua equipe. Isso ele conseguiu. O fundador da Camargo Correia dizia que sempre trazia para trabalhar com ele gente mais competente do que ele. Bolsonaro, pelo jeito, leva isso a sério. Que o Ano Novo, caro leitor, nos traga boas novas!gastaoreis@smart30.com.br // gaastaoreis2@gmail.com
















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