Para analistas, BC ficou sem saída ao ver inflação e dólar altos
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de elevar os juros básicos em 0,75 ponto surpreendeu a maior parte dos analistas, que esperavam um aumento menor da Selic. Na visão de economistas ouvidos pelo Estadão, no entanto, a medida demonstra a preocupação do BC em lidar com a alta de preços e do dólar e era inevitável – embora haja divergências sobre a velocidade desse aumento.
Para José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), e ex-diretor do BC, apesar de a entidade entender que os choques recentes na economia são temporários, eles estão em uma dimensão relevante, e o quadro para a inflação se tornou preocupante. “Quando se olha o comportamento dos preços ao produtor, a alta é substancial.”
Ele completa que a questão fiscal no Brasil também é preocupante e que há uma falta de apetite pelo enfrentamento desse problema. “Principalmente para conter a evolução das despesas obrigatórias. E há sinais de traços de populismo na condução da política econômica.”
Já a consultora econômica Zeina Latif diz que o movimento do BC poderia ter sido mais modesto, para acompanhar os desdobramentos da economia. Ela também avalia que a eficácia da alta de juros será baixa. “No curto prazo, o dólar deve recuar, mas os principais fatores para o descolamento do dólar são a questão fiscal, a falta de uma agenda de governo e a incompetência para lidar com a pandemia. A tendência é termos um aperto mais forte dos juros do que se imaginava.”
André Perfeito, economista-chefe da Necton, destaca que a Selic deveria ter subido antes. “Juro mais alto, porém, pode cair mal e precisamos observar os efeitos políticos disso. Mas tudo piorou rapidamente e não adianta ter juros no lugar certo e a economia no lugar errado.”
Já Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, critica a elevação dos juros. “Foi um grande erro de análise. Não era para fazer nada agora, pois há uma inflação de custos, não de demanda. Em vez de esfriar os preços, vai esfriar a ainda frágil demanda.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.