• Papo de Pescador

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  • 23/12/2016 16:35

    Bom dia aos pescadores e contadores de “causos”. Estamos aqui em nosso encontro semanal, para contar mais uma breve e emocionante história…

    Hoje vamos falar um pouco da pescaria de água salgada, lembrando de uma passagem pelo nordeste. Cada lugar que visitei tem suas peculiaridades, como por exemplo, o nome dos peixes que pode ser diferente dependendo da região do país, este não seria diferente. 

    Há pouco mais de um ano, fiz uma pescaria nas águas da querida Pernambuco. Na ocasião, estava visitando um casal de amigos que tenho muito carinho, e fui convidado para o casamento. A viagem sempre começa dias antes, com a empolgação ao arrumar as malas… Foi quando me lembrei de uma pequena varinha, desmontável, que comprei exatamente pela praticidade, pensando nas viagens e que já não usava há tempos. Não poderia faltar é claro, pois qualquer oportunidade de pescar jamais deve ser desperdiçada, além do que, ela cabia ali, em baixo das roupas, sem atrapalhar em nada… Separei meia Dúzia de iscas, uma carretilha e mais alguns apetrechos, que eram tão importantes quanto o terno que iria usar no casamento. Chegado o dia, parti bem cedo para o aeroporto Santos Dumont, rumo a Recife, animado para rever os amigos e comemorar uma data tão especial, mas também pensando em toda a fama do nosso lindo nordeste pela incidência e pelo tamanho avantajado dos robalos, o qual já havia lido inúmeras repostagens. Fui com expectativa de curtir os amigos e aproveitar o passeio, meio despretensioso com relação à pesca, mas lá no fundo, existia uma imensa curiosidade de conhecer as águas da região.

    Chegando lá, me dirigi à pousada, conheci minhas instalações e fui até o Recife Antigo, uma parte de Pernambuco que conta um pedacinho de nossa rica história. Visitei os lindos pontos turísticos e museus do local, mas um deles me marcou bastante: Memorial de Luiz Gonzaga. 

    Este museu, conta a história deste ícone da música brasileira, cujas canções marcaram minha infância, falando não apenas de música, mas também da história do homem nordestino, suas dificuldades e o lado guerreiro admirado por todos. 

    Dentro do museu, há um rio artificial que corta o cenário da caatinga, com alguns peixes da região: fiquei encantado. Passei horas admirando e escutando o barulho das águas. Mas o que mais me chamou a atenção ainda estava por vir. Já ao fim da visita ao museu, subi ao segundo andar e me deparei com uma enorme vidraça: Que paisagem linda! Vi de lá o encontro dos rios Capibaribe e Beberibe, um espetáculo a parte para um amante das águas como eu! 

    Naquele momento, percebi o grande potencial de pesca daquele lugar maravilhoso. No mesmo instante, comecei a pesquisar e perguntar nos pontos de informação sobre pesca e guias, buscando contatos ou alguma dica… Nada!

    Descobri algumas pessoas que trabalhavam fazendo a travessia de turistas pelo canal e comecei a conversar, até que encontrei um louco que como eu, apaixonado por pesca. No mesmo instante ele se prontificou a largar os passeios por algumas horas e me levar para pescar um “camurim”. Curioso, porém focado, disse a ele que não queria pegar este peixe, mas que vim atrás do robalo, o qual ele não conhecia.

    Não pude pescar no dia seguinte, pois era a data do casamento, e eu queria curtir meus queridos amigos que vejo tão pouco. Mas marquei na manhã do último dia de viagem com Mozart, o tal “guia”. Sabia que seria corrido, mas não poderia deixar de tentar e na esperança que conseguiria fisgar meu robalo.

    Partimos então para a pescaria bem cedo, eu e meu “guia” de pesca. Ele com camarões vivos falando sem parar desse tal camurim e eu já curioso de tanto ouvir, arrumando minhas iscas artificiais. Fomo para a água e saímos pelo encontro dos rios em direção ao mar, que estava bem agitado naquela ocasião. Depois de alguns arremessos uma forte batida. Um peixe mordeu a isca, mas soltou logo em seguida. Mozart da um murmúrio, reclamando que o peixe já havia roubado quatro iscas.

    Troquei a meia-água para um camarão artificial de silicone, comecei a trabalhar a isca no fundo perto da encosta quando de repente, uma puxada violenta. Lá estava meu peixe, fisgado e brigando bastante. Depois de muita força, o peixe cansado vem à superfície e mesmo que pequeno, lá estava o meu troféu: um lindo ROBALO!

    – Mas que belo camurim – grita Mozart incrédulo – e não é que essas iscas de mentira funcionam mesmo!

    – KKKKKKKKKKKKK – dei uma gargalhada – é verdade, funciona mesmo, mas este é o robalo.

    – Nãããão. Este é o camurim! – disse Mozart.

    Neste momento comecei a perceber minha ignorância.

    O CAMURIM do Mozart era o meu ROBALO. No fim das contas, era o mesmo peixe… fiquei alguns segundos parado pensando no ocorrido. Devolvi o peixe para a água, apesar de Mozart querer levá-lo para o almoço, e ainda refletindo sobre o minha arrogância pedi desculpas.

    Passamos o resto da tarde pescando e dando boas risadas. Mais alguns “camurins” ou “robalos” foram pegos ali, além de pequenos Xaréus. A pescaria foi produtiva, além de uma experiência maravilhosa e um aprendizado sensacional. Deixei de presente algumas iscas artificiais, me despedi de Mozart, que a esta altura já estava mudando seus conceitos sobre elas. Corri para o aeroporto, já com saudades de casa, mas ao mesmo tempo querendo ficar mais uns dias.

    No voo, repensei sobre toda a viagem: a convivência com meus amigos, minhas expectativas de pegar um peixe bruto e toda a minha arrogância de achar que conhecia de fato a pesca. Prometi nunca mais imaginar que sabia das coisas mais que qualquer outro ser, e comecei a observar muito mais o ambiente e tentar aprender sempre com as pessoas e com a própria natureza. 

    Agradeço a Deus por esta experiência!


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    Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Jornal Tribuna de Petrópolis.



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