• Pai e paternidade

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  • 19/08/2020 10:43

    Neste mês, celebramos o Dia dos Pais. Nos dias que antecedem a data, propagandas de produtos para homens infestam os veículos de comunicação com toda sorte de ofertas. Um desses reclames provocou intensa discussão acerca do significado da palavra “pai”. Será que pai é apenas aquele biológico? Resolvi, por essa razão, convidá-los a uma breve reflexão e, vou dar ênfase à paternidade, que entendo ser diferente de Pai.

     Voltemos ao período Pré-Histórico. Imaginemos as fêmeas da nossa espécie grávidas, com aquele barrigão e, de algum modo, incapacitadas de caçar ao lado dos seus respectivos companheiros. Ou depois do nascimento da cria, amamentando, como elas iriam defender a si e aos seus filhos? O homem, instintivamente, assumiu a função de prover o alimento e de proteger sua prole. Muitos animais possuem esse instinto paterno que complementa o instinto materno do cuidado e preservação da espécie. Como gosto de falar: está no DNA humano.

    Observem que não me preocupei com a questão biológica, dei ênfase ao papel natural, instintivo, dentro de um grupo de seres da mesma espécie. Esses instintos, paterno e materno, estão intimamente relacionados à sobrevivência e à preservação da espécie. À medida que evoluímos, essas duas funções foram sendo aperfeiçoadas e ganhando novos contornos.

    Como o crescimento dos grupos sociais, algumas funções foram sendo distribuídas em conformidade com as habilidades e possibilidades de cada um. Ao longo do tempo, coube ao homem funções sociais (ou ofícios) que exigissem mais força, coragem, hombridade, entre outras habilidades. À mulher, por suas características físicas e sua condição natural de dar à luz, couberam funções relacionadas aos afazeres que não exigissem tanta força e tantos deslocamentos. Vamos lembrar que ela ficou responsável pelo cuidado das crianças.

    Não estou usando a palavra “filho” porque nas sociedades mais antigas, e até aproximadamente o século XIV, as crianças eram responsabilidade de todos do grupo. O conceito de família como núcleo biológico, tal qual conhecemos hoje, surgiu quase que simultaneamente ao conceito de infância, no período renascentista. O grupo social era marcado pelo território. Por isso os nomes vinham acompanhados do topônimo: Francisco de Assis, Leonardo da Vinci, Jesus de Nazaré (apenas exemplos). Tanto a paternidade (papel social) quanto a maternidade eram, grosso modo, compartilhadas pelo grupo (clã). O grau de parentesco não era necessariamente de consanguinidade, mas, prioritariamente, de pertencimento à terra.

    Com o advento da chamada modernidade, com o aparecimento do conceito de família relacionado à linhagem/descendência (pai, mãe e filhos), com a construção do conceito de infância, com a revolução tecnológica (industrial), com a ampliação das cidades, com a formação dos Estados-Nação, com a predominância do indivíduo sobre o coletivo, todos os papéis sociais sofreram profundas transformações.

    Sei que estou sendo simplista e superficial, pois estou analisando de um único ponto de vista, mas é o que cabe aqui neste valioso espaço. Tenho consciência da profundidade do assunto. Por outro lado, penso que não podemos fechar os olhos para a realidade que se apresenta: ser PAI, assim com letras maiúsculas, não é fazer filho e jogá-lo no mundo. Assim, ao “deus dará”! É preciso responsabilizar-se pela paternidade.

    Apesar de toda evolução e progresso, o sentido e a função social da paternidade permanecem transcendendo à função biológica. Pai não é somente aquele que doa um esperma. Pai é aquele que, com hombridade, cuida. Cuidar pressupõe responsabilizar-se, interessar-se, preocupar-se com; pai é aquele que serve de exemplo, que representa a autoridade para o “filho”. É aquele que traduz o amor em cuidados.

    E, nesse sentido, o papel de pai, a paternidade tem sido acumulada e exercida por muitas mulheres solteiras, ou separadas, ou abandonadas por seus companheiros; por avós que cuidam dos seus netos; por mulheres voluntárias como mães sociais; por famílias de policiais ou bombeiros que assumem a função de família social; e, por tantos outros arranjos familiares de afeto e cuidado. Pai, mãe, família, agora como na antiguidade, é quem ama, cuida e educa!

     

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