• Padilha e Lira acumulam divergências desde o começo do governo Lula; relembre

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  • 12/abr 19:15
    Por Gabriel de Sousa / Estadão

    O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deflagrou um novo embate com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao chamá-lo de “incompetente” e “desafeto pessoal” nesta quinta-feira, 11. Em resposta, Padilha disse nesta sexta-feira, 12, que “não vai se rebaixar ao nível” de Lira. Esse não foi o primeiro atrito entre os dois, que acumulam rusgas desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Lira definiu Padilha como ‘centralizador’

    Nos dois primeiros meses de governo, em 2023, Lula ainda não havia conseguido consolidar a base de apoio na Câmara, e deputados responsabilizavam Padilha por “não entregar” o prometido e por “não ter boa vontade para conversar”. Nesse cargo, o ministro é responsável pela articulação política entre o Planalto e o Congresso.

    A falta de diálogo entre os Poderes motivou a primeira crítica pública de Lira a Padilha, em abril de 2023. Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da Câmara afirmou que a pasta de Padilha precisava de maior organização e definiu, em um tom mais ameno, que o ministro atuava como um “centralizador”.

    “O governo precisa se organizar, mais especificamente a Secretaria de Relações Institucionais. Padilha é um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades. Não tem se refletido em uma relação de satisfação boa. Talvez a turma precise descentralizar mais, confiar mais. Se você centraliza, prende muito”, afirmou.

    No início de maio, Lira se reuniu com Lula e reclamou que os acordos firmados entre os Poderes não estavam sendo cumpridos. O presidente, então, decidiu solucionar o problema e determinou que os seus ministros liberassem R$ 10 bilhões em emendas para deputados e senadores.

    As emendas também motivaram o rompimento da relação entre Lira e Padilha, no final do ano passado. A decisão partiu do presidente da Câmara, após o governo editar uma portaria que estabeleceu que as emendas parlamentares na área da Saúde deveriam passar por um colegiado composto por gestores estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS).

    A partir disso, o deputado decidiu que procuraria o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para discutir assuntos envolvendo o Executivo. As mensagens de Padilha, por sua vez, passaram a ser transmitidas por interlocutores do Planalto, como o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).

    Padilha de fora dos agradecimentos da reforma tributária

    Em dezembro, quando o Congresso Nacional promulgou a reforma tributária, Padilha não foi mencionado nos agradecimentos, nem sequer na nominata do evento. Segundo a Coluna do Estadão, o discurso de Lira expôs a crise na articulação política do governo.

    A situação refletiu a ausência de Padilha nas negociações da reforma e mostrou que ele não conseguiu estreitar uma relação de diálogo com deputados e senadores. Os méritos sobre as tratativas da reforma ficaram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe.

    Lira tentou convencer Lula a trocar Padilha

    Em fevereiro, durante a abertura do ano legislativo, Lira deu um duro recado ao governo. Em discurso, o alagoano cobrou do Planalto o compromisso com “a palavra dada” e afirmou que o Congresso respeita os acordos políticos firmados. O presidente da Câmara também disse que o Orçamento da União “pertence a todos, não apenas ao Executivo”.

    “Boa política se apoia num pilar essencial: no respeito a acordos firmados e compromisso a palavra empenhada. Por nos mantermos fiéis à boa política é que exigimos como natural contrapartida respeito a decisões e fiel cumprimento a acordos firmados com o Parlamento”, disse o deputado.

    Naquele dia, Padilha tentou minimizar publicamente os atritos com Lira e cumprimentou o parlamentar em dois momentos distintos. Os dois, porém, não trocaram palavras durante a sessão.

    Nos bastidores, o presidente da Câmara ameaçava impedir a tramitação de propostas de interesse do Planalto enquanto Lula não trocasse o ministro das Relações Institucionais. O presidente, por sua vez, decidiu não ceder às pressões de Lira e decidiu manter Padilha no cargo.

    Relação entre Lira e Padilha não melhorou

    Lula e o presidente da Câmara se reuniram no Planalto após o discurso e fizeram uma promessa mútua de melhorar a relação entre os Poderes. Para interlocutores, o deputado disse que o resultado da conversa no Palácio da Alvorada ia além de um armistício e que garantiu ao petista que o jogo estava zerado.

    Padilha, por sua vez, tentou minimizar as divergências que foram expostas pelo presidente da Câmara. Com afagos ao deputado, o ministro afirmou que esperava repetir uma “dupla de sucesso” com a Câmara e o Senado em 2024 e que o governo Lula “não rompeu e nunca romperá” com o Legislativo.

    “O governo em nenhum momento rompeu nem nunca romperá a relação com o Congresso Nacional. Este governo, sob a liderança de Lula, não gera conflito, não entra em conflito”, afirmou.

    Três semanas após a abertura do ano legislativo, Lula organizou um happy hour no Palácio da Alvorada, onde convidou Lira e outros líderes partidários e cinco ministros para tentar melhorar a relação entre o Congresso e o Planalto. Padilha estava no encontro, mas, novamente os dois não conversaram.

    Presidente da Câmara esticou a corda publicamente

    Durante um evento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em Londrina, no Paraná, nesta quinta, Lira foi questionado sobre notícias de que ele teria se enfraquecido após a votação da Casa que decidiu manter preso o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018.

    “(A notícia) foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto além de pessoal, incompetente”, afirmou Lira. “Não existe partidarização, eu deixei bem claro que ontem (quarta) a votação era de cunho individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver, não teve um partido que fechasse questão, os partidos liberaram, na sua maioria (as bancadas para que votassem como quisessem)”, emendou.

    Padilha, por sua vez, reagiu às falas de Lira durante o Fórum Brasileiro dos Líderes de Energia, no Rio de Janeiro. Citando uma música do rapper Emicida, o ministro disse que “rancor é igual tumor” e afirmou que preferia considerar as declarações de Lula sobre o seu trabalho.

    “Sobre rancor, a periferia da minha cidade (São Paulo) produziu na grande figura do Emicida, que: ‘mano, rancor é igual tumor, envenena a raiz, a plateia só deseja ser feliz’. Eu sou deputado e converso com todos os deputados e deputadas, senadores e senadoras, e sei que todo mundo ali quer ser feliz”, disse.

    Deputados vinculados a Lira tem a convicção de que a reação do presidente da Câmara foi motivada por interferência de Padilha na votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão, “um assunto interno do Parlamento”.

    Governistas, por outro lado, acreditam que as declarações do parlamentar foram motivadas pelo enfraquecimento da candidatura do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), à presidência da Câmara, após Brazão ser mantido preso. Ele é o candidato de Lira ao cargo, que será disputado em 2025.

    A estratégia do Centrão, segundo a base aliada do Planalto, era soltar Brazão como um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que também mostraria fragilidade do governo. Depois, a ideia seria cassar o mandato do deputado no Conselho de Ética e, com isso, agradar à opinião pública.

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