• Ouvir novelas, coisas do passado

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  • 14/11/2018 10:05

    Há anos, como muitos ainda devem se lembrar, as novelas eram transmitidas através de rádios, uma vez que a televisão só chegara ao país, salvo a memória esteja a falhar, na década de cinquenta.

    A propósito, uma das primeiras televisões vendidas em Petrópolis foi instalada na casa de meus pais, gesto carinhoso do proprietário da Casa Xavier – Ah!… que bons tempos! – Sr. José Carneiro Dias.

    Naquela época, meu pai já trabalhava no Rio de Janeiro e chegava de volta à casa às 19hs.

    O rádio, por sua vez, também sempre fez parte de sua mesa de cabeceira, ligado bem cedo já que gostava de tomar conhecimento das notícias tão logo o dia amanhecia.

    A TV instalada na sala de estar, um móvel grande e de estilo, foi ligada e assim que a imagem surgiu na tela, o aparelho simplesmente se incendiou.

    O fogo foi apagado mediante a utilização de panelas cheias d’água, entretanto, no dia seguinte, o Sr. Carneiro providenciou a remessa de nova TV, que funcionou como o esperado e no sábado meu pai pagou-lhe o preço cobrado e agradecido pela lembrança e gentileza recebidas.

    Em se tratando do rádio, não posso negar que eu também tivesse sido fã do mesmo; “Jerônimo, o herói do sertão” era minha distração preferida das 18hs, todos os dias. Naturalmente, a grande maioria dos leitores não se recorda deste “herói”, até porque nesta altura o personagem já passou desta para outra…”.

    Na verdade, fã mesmo das novelas radiofônicas foi minha avó, D. Floripes. Vivia a escutar rádio durante todo o dia, aliado ao crochê do qual era mestra, sem que deixasse, primordialmente, de ouvir as novelas de sucesso.

    Vó Floripes, ainda que aos oitenta anos, continuava “grudada” no rádio diariamente, sempre ciosa do que aconteceria no capítulo do dia seguinte.

    Entusiasmava-se de tal maneira com o roteiro das novelas, que em determinados momentos “irritava-se com as injustiças” que ocorriam, a juízo da assídua ouvinte. 

    Moral da história, certa vez aqui em Petrópolis, na casa de meus pais – ela era mãe de meu pai – não concordando com o desfecho de uma dessas “lenga lengas” que ouvia, tomando partido de uma situação, como se tudo que escutasse fosse real, acabou por jogar o rádio do filho no chão, destroçando-o.

    Meu pai, à noite, chegando do trabalho, assustou-se com o ocorrido e duas situações naturalmente se deram subsequentemente: a primeira, que o final da novela em nada se modificou em decorrência da atitude da velhinha e a segunda – mais certa – que meu pai acabou por “morrer”  na compra de outro rádio todavia, sem nada reclamar.

    Teve, entretanto, o filho querido, logo após o incidente, a cautela de colocar o novo aparelho em altura que vovó Floripes não alcançasse.

     Apenas questão de prudência!

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