Os tigrinhos e as raposas
O crime também se aprimora. A tecnologia a serviço da criminalidade também está globalizada. A transnacionalidade do crime é um desafio para os serviços de inteligência responsáveis pela segurança do país, não somente no que se refere à proteção das fronteiras territoriais, mas também no que se trata em proteger a população dos golpes que são aplicados por pessoas de outras nações por meio da Rede Mundial de Computadores (World Wide Web – www), ou seja, via internet.
O golpismo internacional tem se manifestado no Brasil, com mais veemência, sobre as pessoas que se lançam em busca da sorte. Contudo, deparam-se com o azar e perdem dinheiro em verdadeiros cassinos digitais. O Jogo do Tigre ou o Jogo do Tigrinho (Fortune Tiger) já se alastrou por todo o país. O Sistema de Fortune Tiger é hospedado fora daqui. Funciona como uma máquina caça-níquel digital. Até crianças e adolescentes têm sido atraídos pela ilusão de que é fácil ganhar dinheiro.
A disseminação dessa jogatina conta com a participação de “influenciadores” e “influenciadoras” que iludem os seguidores, ostentando fortunas como fruto da sorte. O esquema é montado na exploração da ideia de que enriquecer é fácil, basta arriscar a sorte no “Tigrinho” e ganhar uma “bolada de dinheiro”. Carros importados, joias, iates, bebidas caras estão sempre ao lado de influenciadores e influenciadoras que induzem à prática do jogo por meio das redes sociais. O prazer, o lazer, a diversão, o consumo, o glamour hipnotizam quem busca atalhos para fugir da realidade.
É bem verdade que há bets legalizadas que oferecem esse tipo de jogo, ou seja, existem plataformas que atuam legalmente. Mas, a meu ver, não há o esclarecimento devido sobre as lesões provocadas pelo vício, pela compulsão aflorada pelo desejo de enriquecer em passe de mágica. Já se constatou que várias pessoas que recebem auxílio do Governo Federal estão a usar indevidamente o dinheiro que recebem.
No ano passado, o Banco Central divulgou um relatório, expondo uma situação bastante preocupante: constava no referido relatório que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família tiveram acesso a apostas virtuais. Somente no mês de agosto de 2024, foram gastos R$ 3 bilhões em apostas por pessoas que recebem algum tipo de auxílio. Todos sabem que o benefício social não é concedido para movimentar jogo de azar, mas para suprir necessidades básicas.
Tem sido árduo o trabalho da Polícia Federal para evitar os golpes digitais. Por isso é de extrema importância a adoção de regras para normatizar e evitar as falcatruas que estão se proliferando pelas redes sociais. Existem muitas raposas maquiadas de influenciadores e influenciadoras.
É necessário um trabalho de conscientização de forma mais contundente para esclarecer a população sobre as diversas falcatruas que lesam, principalmente, as pessoas menos esclarecidas que são assediadas pelas redes sociais com vantagens ilusórias.
Não se trata apenas da certificação de uma notícia para saber se ela é falsa ou verdadeira. O problema é mais sério, porque pessoas são ludibriadas e caem em golpes financeiros e dificilmente têm a restituição das quantias investidas.
A vida on-line é muito vulnerável. Por isso que as autoridades do país estão preocupadas com o anúncio da “Meta”, dona de Facebook, Instagram, Threads, WhatsApp, que resolveu abandonar o programa de checagem de fatos e permitir mais conteúdos políticos. Em outras palavras, não haverá mais um “filtro”, uma checagem das informações que são lançadas nas redes sociais. A internet não pode ser tratada como uma terra sem lei.
Inquestionavelmente, o mundo hoje gira pelas vias digitais. Mas a verdade não pode ficar à mercê de quem grita mais alto. Hoje temos que ter mais cuidado com o que chega pela tela do celular. As maiores precauções não estão mais tão voltadas para as trancas das portas, para o olho mágico, para os sistemas de alarme e câmaras de segurança. Alguém pode limpar a sua conta bancária tendo acesso a uma simples senha. O conto do vigário hoje é aplicado por influenciadores e influenciadoras que postam, nas redes sociais, belas fotos em ambientes luxuosos.
Digo mais uma vez: os problemas que enfrentamos estão ligados a questões éticas e morais. Os avanços tecnológicos e científicos estão sendo usados nocivamente. O problema está na idoneidade de quem usa as ferramentas digitais. E volto à chave geral: devemos servir ao Bem. Ser ponte para que, nesta travessia, o amor esteja sempre entre nós.