Os fios da vida
Em um daqueles momentos em que é possível viver com mais leveza a vida lá fora, vi uma bordadeira. Era uma senhora na casa dos seus 60 anos. Talvez um pouco mais.
O cabelo, pintado de castanho, deixava à mostra uns fios brancos. As mãozinhas, entregues ao efeito do tempo, destino de todos nós, trocavam as linhas com rapidez e naturalidade.
Sentada, rosto relaxado, ela bordava um pedaço de pano. Enquanto assistia àquela cena, do outro lado da rua, senti vontade de me aproximar. Fui até lá, admirando a beleza daquela cena tão comum e, ao mesmo tempo, tão diferente.
Quando cheguei mais perto, vi um só colorido. O bordado era feito de muitas linhas unidas, às vezes um pouco tortas. Outras, mais retilíneas.
Fiquei encantada com a possibilidade de ver aquele bordado “nascendo”. É que enquanto ela se preparava para trocar de linha, a que estava sendo usada recebia um nó na linha seguinte. Dessa maneira, nenhuma trilhava seu caminho sozinha. Todas estavam interligadas.
Para puxar assunto, comentei “a senhora é rápida, viu?” Com um sorriso, ela olhou pra mim e, enquanto bordava, respondeu: “com o passar dos anos fica mais fácil…”
Com o passar dos anos, perceber que a vida só se constrói e reconstrói na companhia do outro, como num bordado, fica mais fácil. Com a sabedoria dos anos, encontrar força para lidar com os rumos que a vida toma é o caminho natural e menos doloroso.
“É caminhando que se faz o caminho”. Aos passos pequenos ou largos, retos ou tortos, os fios da vida se misturam para que eu, você e cada pessoa no mundo continue trilhando a sua jornada.