• Os cabelos brancos

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  • 30/jun 08:00
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Hoje trago este tema por sugestão de amigas e amigos de várias décadas. Na troca de mensagens em um grupo de aplicativo, entre felicitações dos aniversariantes do dia, caíram, na berlinda, os cabelos brancos que surgem sem pedir licença…

    No grupo, todos pertencem à chamada terceira idade, na qual, os cabelos brancos são frequentes e não medem esforços para surgir. A força do tempo é imperceptível quando se trata de segundos. Contudo, o acúmulo dos segundos vividos torna-se visível não somente pelos fios brancos que surgem nas têmporas, mas também na elasticidade e na plasticidade do nosso corpo. O tempo impõe limitações. Porém ele nos leva a estágios do viver em que o acúmulo de experiência ajuda a desvelar o verdadeiro sentido da vida.

    O envelhecimento fisiológico é inevitável. Mas quando se trata das questões relacionadas às lições de vida, às relações humanas, às produções intelectuais, são evidentes as contribuições frutíferas dessa parcela da população que já atravessou mais de 60 primaveras. Idosos, sim; inoperantes, não.

    Conceber a velhice como inócua, improdutiva é um equívoco. Precisamos vencer o estigma que associa o idoso à inoperância. Por isso aquele bonequinho curvado, segurando uma bengala para se referir a essa parcela da sociedade considerada idosa não me representa, nem representa quem ainda está no mercado de trabalho, superando as adversidades para sobreviver.

    Há momentos em que contabilizamos o tempo vivido e queremos prolongar a nossa passagem por aqui. Portanto, alguns cuidados com a saúde são imprescindíveis. Contudo, o prazer de sentir-se útil pelo trabalho que realiza funciona como tanino no vinho que, com o tempo, ganha sabor. O trabalho é rejuvenescedor. É atribuída a Cicero, que viveu antes de Cristo, a seguinte frase: “Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons”. Mas, é válido ressaltar que os vinhos e os vinagres são úteis; dependem das formas como são utilizados…

    Torna-se doloroso o conflito com o tempo, quando não se aceita o que ele impõe ao corpo. A resignação ajuda, é preciso entender o ciclo da vida. É claro que não se deve relaxar com a saúde. A longevidade depende do cuidado diário. Porém, isso não pode virar obsessão. O envelhecimento é inevitável, a Ciência ainda não venceu a morte. E, pelo meu parco conhecimento, acredito que não seja esse o propósito dela. Mas precisamos ter consciência de que a história que escrevemos neste planeta, um dia, terá um ponto final.

    A campanha “Junho Violeta” colocou em debate a violência sofrida por pessoas idosas. Como a negligência no cuidado que se deve ter com elas ocorre em diversos países, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 2011, o dia 15 de junho, como o dia mundial a favor das pessoas idosas e contra todas as formas de violência que elas sofrem. Isso se deu após a solicitação da Rede Internacional de Prevenção ao Abuso de Idosos (INPEA). O triste é que essas agressões são mais frequentes no ambiente familiar, ou seja, as cenas de violência, as negligências ocorrem, em sua maioria, nos locais em que residem.

    Responsáveis por pessoas idosas deixam de oferecer cuidados básicos como a higiene diária, a atenção com os medicamentos em horário certo, o acolhimento contra frio e calor. As negligências também estão no âmbito da gestão pública, uma vez que a proteção do Estado é precária e a saúde não tem a atenção merecida.

    Aqui, em Petrópolis, nos últimos seis meses deste ano, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), de responsabilidade do Ministério dos Direitos Humanos, foram registradas 207 denúncias relacionadas a situações de maus tratos a pessoas idosas. Comparado com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 15,64%. Fato este que merece uma atenção maior, pois reflete o que acontece nas diversas regiões do país.

    A violência ocorre tanto no âmbito econômico, quando as aposentadorias dos idosos não são usadas em benefício deles, passando pelas agressões físicas e pelo menosprezo da dignidade humanos, quando são tratados como sucatas obsoletas.

    A Lei 10.741 de 1 de outubro de 2003, que instituiu o Estatuto do Idoso no Brasil, determina, no Artigo Terceiro, que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

    Para denunciar a violência contra os idosos, disque: 100.

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