Orquestra de Câmara do Palácio Itaboraí se adaptou para produção das apresentações de Natal deste ano
A Orquestra de Câmara do Palácio Itaborai – OCPIT acaba de disponibilizar no canal de youtube do Fórum Itaboraí três vídeos de seu curto concerto de Natal de 2020, em um formato adaptado às condições permitidas pelo contexto da pandemia da Covid-19. Para não gerar aglomerações, as apresentações foram realizadas com uma formação reduzida, de nove instrumentistas, em gravações realizadas na varanda do Palácio Itaboraí, em Petrópolis. No repertório estão: “Canção Angelical”, do compositor Félix Mendelssohn, “Greensleaves”, de compositor anônimo do século XVI, e “Feliz Natal e Boas Festas”, de Heitor Villa-Lobos, todas com adaptação de Sérgio Barboza e sob regência de Celso Franzen e de Luiz Felipe Galdino.
Formada, atualmente, por 24 jovens músicos de Petrópolis, estudantes da rede pública de ensino, a Orquestra de Câmara do Palácio Itaboraí é um projeto sociocultural criado em 2013 pelo Fórum Itaboraí: Política, Ciência e Cultura na Saúde, unidade da Fiocruz em Petrópolis, cujo propósito é desenvolver o aprendizado com perspectiva profissionalizante e humanista. Os jovens musicistas vivenciam um curso intensivo e gratuito no decorrer de quatro anos, com aulas teóricas e práticas de música, masterclasses e intercâmbios com universidades de música, além de apresentações regulares de concertos para diversos públicos, inclusive em escolas da rede pública de Petrópolis, totalizando uma carga horária de 300 horas por ano.
“Este ano nosso concerto de Natal é atípico, bem diferente do que temos feito nos últimos anos, quando realizamos apresentações abertas ao público na concha acústica do Museu Imperial, na programação oficial da Prefeitura de Petrópolis e junto ao Sesc. Mas 2020 foi um ano muito desafiante para todos nós e, exatamente por isso, para buscarmos manter acesa a chama da criatividade, da superação e, sobretudo, da saúde integral, fizemos questão de presentear a sociedade com estas pérolas musicais, com o que estes jovens instrumentistas e toda a equipe da OCPIT conseguiu produzir, com tamanha entrega pessoal e qualidade, mesmo em tempos tão adversos”, celebra Felix Rosenberg, diretor do Fórum Itaboraí.
Segundo o maestro e coordenador da OCPIT, Celso Franzen Jr., apesar da pandemia ter prejudicado muito a Orquestra, especialmente por se tratar de um grupo musical, que requer o trabalho em conjunto para se manter e evoluir, é possível tirar um saldo muito positivo dos trabalhos em 2020. “Embora alguns jovens tenham tido que abandonar a Orquestra por diversas razões durante a pandemia, a maioria dos alunos conseguiu sustentar uma rotina de estudos. Isso só foi possível com a determinação pessoal, além do apoio de toda a equipe da OCPIT e dos familiares, o que permitiu aos alunos manterem o nível musical que já haviam alcançado”, explica Celso. “E tivemos também um surpreendente desenvolvimento técnico de alguns alunos iniciantes, que estavam recém-chegados ao grupo quando a pandemia começou. Por isso, terminar o ano conseguindo produzir este pequeno concerto natalino e entregar isso de volta para sociedade é motivo de muito orgulho”, comemora o maestro.
Uma dessas alunas iniciantes é Thalyta Carvalho, de 16 anos, estudante do Liceu Municipal e que toca violino. Ela conta que sentiu muita falta de encontrar as pessoas da Orquestra e que algumas limitações como a intermitência da internet, os ruídos e movimentos de todos em casa enquanto ela aprendia e ensaiava e até a dificuldade de não entender algumas questões das aulas de teoria quase a fizeram desistir algumas vezes. “Mas os professores ajudaram muito a sermos persistentes e como eu não tinha nada pra fazer, estava à toa, acabei conseguindo me dedicar aos estudos do violino. Ia pra casa da minha avó, que fica aqui do lado, para estudar e valeu muito a pena, porque aprendi muito, coisas que antes eu não sabia e até tinha dificuldades e hoje me sinto bem mais confiante”, alega Thalyta.
E os resultados positivos não param por aí. Em 2020, A OCPIT recebeu a doação de instrumentos, que são fundamentais para a continuidade dos trabalhos. Dentre eles, um violoncelo, um violão, uma flauta transversal e o tão sonhado piano, que o grupo desejava há algum tempo, tanto para apoiar no trabalho de teoria musical com os alunos, quanto para compor um ambiente mais propício para concertos abertos no Palácio Itaboraí. A doadora é Karine Chaves da Silva, professora de inglês, que doou também a flauta. “Minha avó me deu esse piano quando eu tinha 16 anos. Meu sonho nessa idade era tocar piano profissionalmente, fazer faculdade de música e sair pelo mundo afora como musicista. Mas eu não tinha muito talento e hoje reconheço isso. Acabei tomando outro caminho, mas o piano continuou tendo toda minha estima, porém sem o mesmo espaço na minha vida. Ao doar a flauta para a OCPIT, vi que era hora do piano ir também. Eu chorei muito, mas fui consolada por entender que, apesar de eu não ter conseguido realizar aquele sonho, um pedacinho dele poderia ser parte da história e dos sonhos de outros adolescentes e jovens. Alguns recomendaram que eu vendesse, mas se eu fizesse assim não teria a mesma essência”, conta Karine, emocionada.
O ano de 2020 foi também de conquista pela OCPIT do Prêmio Maestro Guerra-Peixe de Cultura, na categoria “música erudita”, pelo trabalho realizado em 2019. Trata-se do mais importante reconhecimento do cenário cultural da cidade de Petrópolis e acontece todos os anos com o objetivo de consagrar os principais artistas e iniciativas culturais do município e, também, manter viva a homenagem a um dos maiores compositores e arranjadores brasileiros, o petropolitano César Guerra-Peixe (1914-1993).
A Orquestra de Câmara do Palácio Itaboraí recebe aporte financeiro do orçamento regular da Fiocruz, além do patrocínio da GE-Celma, desde fins de 2015, e da Schott Brasil, desde 2017, ambos por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e, ainda, doações de pessoas físicas, por meio do abatimento no imposto de renda devido.