Olimpíada de matemática premiará 6,5 mil estudantes de escolas públicas
As três são amigas, têm 12 anos, estudaram matemática juntas nos fins de semana e, assim que souberam do resultado, saíram para comemorar a conquista das três medalhas de ouro da 12ª edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) de 2016. Ana Júlia, Natália e Giovanna, alunas do sétimo ano de Frederico Westphalen, cidade de 30 mil habitantes no Rio Grande do Sul, estão entre os 6.502 alunos premiados na mais abrangente edição da competição desde que foi lançada, em 2005. A Obmep chegou a 5.544 cidades, o que corresponde a 99,6% do total de municípios brasileiros.
Quase 18 milhões de estudantes participaram da Obmep 2016. Dos 913.889 alunos do sexto ao nono ano e do ensino médio classificados para a segunda fase, 501 foram medalhistas de ouro, 1.500 de prata e 4.501 de bronze. A Obmep entregará menções honrosas a 42.482 estudantes. Minas Gerais foi o estado que teve o maior número de alunos premiados (1.585), seguido por São Paulo (1.222), Paraná (429), Rio de Janeiro (366) e Rio Grande do Sul (348). As cerimônias de entrega dos prêmios serão realizadas em 2017, em datas ainda por definir.
Ana Júlia, medalhista de ouro, a professora Meire Frizon e seu filho Eduardo, que recebeu menção honrosa (Foto: Divulgação)
No total, a escola onde Meire é professora recebeu 12 premiações. Ana Júlia Limberger Nedel, medalhista de bronze no passado e agora de ouro, acha matemática uma diversão: “Gosto bastante porque está em toda parte e precisamos dela para tudo na vida.” Na casa dela, a Obmep já virou uma história de sucesso. “Minhas duas irmãs que hoje estão na faculdade de medicina já foram medalhistas”, acrescenta. Ela conta que assistiu a todos os vídeos na página da Obmep e fez as provas das edições anteriores. “Sempre que tinha tempo livre ia estudar com as minhas amigas Giovanna e Natália”, afirma. Premiada por quatro vezes consecutivas, a professora de matemática Meire Frizon, há 14 anos em sala de aula na Escola Estadual de Ensino Fundamental Afonso Pena, a mesma onde estuda a medalhista Ana Júlia, conta que a conquista de premiações na olimpíada resulta de um “trabalho mútuo”, que soma o apoio da escola e dos professores ao empenho dos alunos. “Não temos tempo extra para trabalhar com os alunos à tarde, mas aproveitamos as questões das provas da Obmep em sala de aula, como complemento ao conteúdo curricular que temos que cumprir”, diz a professora, duplamente feliz porque seu filho Luiz Eduardo Frizon Caovilha, do sexto ano, é um dos oito estudantes da escola que receberam menção honrosa.
“Todas nós estudávamos sozinhas durante a semana, mas nos fins de semana a gente pegava as provas dos anos anteriores da Obmep para resolver os exercícios”, conta Natália Bigolin Groff, que frequenta a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cardeal Roncali, a mesma onde estuda a amiga Giovanna Sebben Ballen. Assim como Ana Júlia, as duas também têm seus segredos de sucesso. Giovanna é a primeira medalhista de ouro da família e motivo de orgulho. “A prova não estava fácil, mas já vinha estudando desde o ano passado, quando fui menção honrosa”, explica. Natália conquista a segunda medalha de ouro. “Segui o exemplo da minha irmã, a Mariana, que já tem quatro medalhas de ouro e estudei bastante”, conta.
Obmep foi criada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que a realiza com recursos dos Ministérios da Educação e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com apoio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). A lista com os alunos e professores premiados, e também escolas e secretarias de educação, podem ser conferidos na página da Obmep.
Única – A Obmep é a maior Olimpíada estudantil do país e tem como metas estimular o estudo da Matemática e revelar talentos. A partir de 2017, a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), competição aberta a todos os estudantes a partir do sexto ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas, incluindo universitários, será integrada à Obmep nas duas primeiras fases da competição.
Haverá, portanto, apenas uma olimpíada de matemática, aberta a todas as escolas brasileiras, públicas e privadas. A mudança não afetará a participação das escolas públicas, uma vez que não será alterado o número de medalhas entregue a estudantes de instituições públicas de ensino. A integração das duas olimpíadas numa única competição tem por objetivo racionalizar custos e aumentar a participação de estudantes de escolas privadas.
Segundo o matemático Cláudio Landim, diretor adjunto do Impa e coordenador da Obmep, de um público-alvo de 3 milhões de estudantes das escolas privadas, apenas 300 mil participam da OBM. “Acreditamos que podemos, pelo menos, dobrar essa participação”, afirma. Criada nos anos 1970, a OBM não será extinta, mas realizada como uma terceira fase da competição, a partir dos alunos melhor classificados da Obmep. “Será da OBM que sairão os estudantes que formarão a equipe para representar o Brasil em competições internacionais”, explica.
Landim adiantou também que o Impa manterá, em 2017, o curso de formação de professores para a Obmep. Realizado pela primeira vez este ano, o projeto envolveu a participação de 900 professores e 18 mil alunos em todo o Brasil. O resultado desse trabalho pode ser verificado com os resultados da Obmep 2016. “Surpreendeu-nos além do esperado porque a nota média dos alunos que participaram do projeto foi duas vezes maior do que a daqueles que não frequentaram as aulas com esses professores”, comparou.