• Ocorrência de 2012 já apontava risco de deslizamentos em escola onde criança morreu soterrada

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  • Menina de 11 anos morreu após a unidade ser atingida por barreira

    29/03/2022 20:11
    Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

    A estudante Evelyn Luiza foi uma das vítimas da tragédia do dia 15 de fevereiro. A criança, de apenas 11 anos, foi atingida por uma barreira na Escola Municipal José Fernandes da Silva, no Alto da Serra. Nesta semana, a Tribuna de Petrópolis teve acesso a uma ocorrência da Defesa Civil de janeiro de 2012, uma década antes da tragédia, que apontava riscos de deslizamentos no local, porém a escola continuou funcionando, e era inclusive, o ponto de apoio da comunidade do Alto da Serra. Após a tragédia, a escola foi interditada.  Agora, a família cobra providências.

    O registro de ocorrência da Defesa Civil tem data de 28 de janeiro de 2012, foi feito após solicitação de uma moradora e aponta “pequenos deslizamentos ocorrendo, colocando casa em risco de cair sobre a escola”. Na época, o risco no local foi considerado “latente”. 

    A casa vistoriada fica na Rua Professora Hercília Henriques Moret, no Alto da Serra, perto da Escola Municipal José Fernandes da Silva. A unidade é mencionada diretamente em um trecho do documento, que diz que a ocorrência se trata de um “escorregamento de lixo e solo, abatendo-se sobre o terreno da Escola Municipal José Fernandes da Silva”. 

    De acordo com o registro, as possíveis causas para os deslizamentos da época seriam a construção estar mal localizada; a ausência de contenção no local; chuvas intensas; e lixo e entulho. O laudo também aponta que não havia nenhum tipo de drenagem no local. 

    Para que a situação fosse resolvida, os técnicos da Defesa Civil indicavam que o local deveria “receber obra de estabilização do talude (superfície inclinada de um maciço de solo ou rocha), a fim de evitar novos escorregamentos no local e comprometimento da moradia da solicitante”. O laudo ainda diz que a Secretaria de Educação foi informada para ciência e prosseguimento. 

    Dez anos depois, escola sofre novo deslizamento

    Mais de dez anos depois, no dia 15 de fevereiro de 2022, a unidade foi atingida por um deslizamento que, além de deixar alunos feridos, tirou a vida da pequena Evelyn. Na ocasião, não foi informado que havia uma morte registrada dentro da unidade escolar da Prefeitura. O prefeito Rubens Bomtempo chegou a fazer uma vistoria na escola, semanas após o ocorrido, para anunciar uma obra de recuperação e não mencionou o caso.

    A Tribuna noticiou a morte de Evelyn no dia 02 de março, após fazer contato com o pai da menina. Na ocasião, a Prefeitura confirmou, após questionamento da Tribuna, que uma aluna, de 11 anos, faleceu vítima do deslizamento que atingiu os fundos da Escola Municipal José Fernandes da Silva, no Alto da Serra. 

    A Secretaria de Educação também informou, sem dar detalhes, que todos os outros alunos e funcionários que estavam na unidade, no momento do temporal, conseguiram deixar o prédio. Alguns estudantes tiveram ferimentos leves e foram atendidos no Pronto Socorro Leônidas Sampaio no Alto da Serra. 

    Família da estudante teme que caso caia no esquecimento 

    Para o padrasto de Evelyn, Elizier Manoel Silveira, o maior medo é que a morte da família seja apenas mais um número e que nada seja feito para evitar que as vidas de outras crianças sejam perdidas em novos deslizamentos. 

    “A sensação é de estar caindo no esquecimento, de que a morte dela é só mais uma estatística. Ninguém fala nada, a Secretaria de Educação não falou nada com a gente, a Prefeitura não deu nenhum respaldo. Ela tinha a vida toda pela frente, queremos justiça por ela”, desabafou Elizier. 

    O padrasto denuncia, ainda, que houve negligência e omissão por parte do município. “Se tinha laudo falando que era necessário fazer uma contenção ali, tinha que ser feito. Talvez até descesse terra, mas não seria dessa forma, ela poderia se salvar. Houve negligência sim e perdi minha filha por isso. E também teve omissão, porque divulgaram pra todo mundo que todas as crianças estavam bem, e isso é mentira. Falaram que todos estavam em segurança, mas minha filha já estava morta. Estamos buscando todo o apoio jurídico para garantir que isso não aconteça com mais ninguém”, concluiu Elizier.

    O que diz a Prefeitura: 

    Questionada pela Tribuna sobre o laudo de 2012 emitido pela Defesa Civil, a Prefeitura disse que “a ocorrência referente a esse pedido gerou uma queda de barreira que atingiu parcialmente a quadra, não tendo causado vítimas”.

    Sobre a fatalidade que aconteceu com Evelyn. A prefeitura disse que “se solidariza com a família da vítima e com as famílias de todas as crianças que foram afetadas pelo temporal”. 

    A Prefeitura também nega que não tenha prestado assistência à família. “No dia do temporal, 15 de fevereiro, equipes da Secretaria de Educação e do governo municipal estiveram com o pai da aluna, ainda no Pronto Socorro do Alto da Serra”. 

     A direção da Escola Municipal Vereador José Fernandes da Silva afirma que todas as vítimas foram socorridas e resgatadas, inclusive Evelyn Silva, e levadas para o Pronto-Socorro do Alto da Serra. A escola alega que a menina chegou com vida à unidade, mas não resistiu.

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