• Obras arquitetônicas marcantes em Petrópolis: Palácio de Cristal

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  • Por Aghata Paredes

    O que mais chama a sua atenção na arquitetura de Petrópolis? A história da cidade teve início em 1822, quando Dom Pedro I ficou hospedado na Fazenda do Padre Correia, durante uma travessia realizada pelo caminho do ouro, que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. 

    O Imperador D. Pedro I comprou a Fazenda Córrego Seco em 1830, mas foi só em 1843 que Júlio Frederico Koeler iniciou o projeto urbanístico de Petrópolis e o que muitas pessoas não sabem, incluindo boa parte dos petropolitanos, é que o projeto era extremamente moderno e possuía preocupações preservacionistas e ecológicas pouco comuns à época. Incrível, não é?

    Quatorze anos se passaram quando, em 1857, Petrópolis foi elevada à condição de cidade. Em 1981, a APANDE conseguiu que fosse assinado o Decreto 80, o que impediu demolições e construções que pudessem descaracterizar o Centro Histórico. Foi quando a cidade recebeu o título de Cidade Imperial.

    A história e a arquitetura do século XIX e início do século XX, combinadas com o clima ameno e a influência dos imigrantes alemães, italianos, sírio-libaneses e portugueses, tornaram Petrópolis uma das cidades mais importantes no cenário turístico do país. 

    Neste domingo, na série da Casa & Campo: “obras arquitetônicas marcantes em Petrópolis”, destacamos o Palácio de Cristal – uma das construções mais imponentes da cidade, que fez aniversário esta semana, no dia 02 de fevereiro.

    Encomendado pelo Conde d’Eu, marido da Princesa Isabel, o Palácio foi um presente à sociedade hortícola petropolitana, da qual sua esposa fazia parte. O objetivo era construir um local que pudesse servir como pavilhão para as exposições de flores e produtos agrícolas que já vinham acontecendo desde 1875.

    Foto: Museu Imperial/Ibram/MTur

    A 1ª Exposição de Horticultura aconteceu em um pavilhão em 1875. Este pavilhão foi, mais tarde, substituído pelo Palácio de Cristal. 

    Sobre a primeira exposição de horticultura do país, a Princesa Isabel e seu marido, o Conde d’Eu, ajudaram a organizar o evento. A finalidade da festa era evidenciar o potencial da produção agrícola das terras imperiais.

    O evento, que buscava salientar toda a riqueza natural do solo das terras imperiais, e até mesmo fora do município, tinha a preocupação de reunir figuras ilustres que pudessem estar presentes na exposição e verificar a alta qualidade dos produtos naturais. O evento ganhou até medalha comemorativa!


    Foto: Museu Imperial/Ibram/MTur

    Medalha de prata da Exposição de Horticultura.

    Você sabia que a estrutura do Palácio de Cristal foi a primeira estrutura pré-fabricada do Brasil? Construída nas oficinas de St. Sauver-les-Arras, na França, sua arquitetura foi inspirada no Palácio de Cristal de Londres, tanto pela técnica construtiva, quanto pelos materiais empregados (ferro e vidro). 

    Fotos: Marco Oddone

    Sua arquitetura é um retrato vivo de seu tempo, o século XIX, da era Vitoriana e, principalmente, da Revolução Industrial. A estrutura pré-fabricada em ferro e vidro, com laterais retangulares e frente e fundos em hemiciclo, além do extenso uso da iluminação natural, marcaram uma nova era para os arquitetos. 

    Fotos: Marco Oddone 

    Sua pedra fundamental foi lançada no dia 02 de fevereiro de 1879, na Praça da Confluência – que recebeu esse nome por causa da confluência de dois rios, o Piabanha e o Quitandinha. O engenheiro Eduardo Bonjean acompanhou a montagem do Palácio até a inauguração, cinco anos depois. 

    Foto: Museu Imperial/Ibram/MTur

    Fotografia mostrando vista do Palácio de Cristal e do seu jardim na época de sua inauguração, em 1884. 

    Em abril do mesmo ano, foi realizada a IX Exposição promovida pela Sociedade Agrícola e Hortícola de Petrópolis. As exposições aconteceram anualmente até 1886. 

    Fotos: Museu Imperial/Ibram/MTur

    Fotografia à esquerda mostra o interior do Palácio de Cristal por ocasião da IV Exposição Hortícola de Petrópolis, quando foi inaugurado o pavilhão, em 1884. À direita, orquídea premiada pelo júri da Exposição no mesmo ano. 

    Em 1938, o Palácio de Cristal foi sede para o Museu Histórico de Petrópolis. Anos mais tarde, em 1957, durante as comemorações centenárias da cidade de Petrópolis, o espaço voltou a receber eventos – com a realização de uma exposição histórica e uma exposição industrial de Petrópolis. Em 1970, foram realizadas diversas restaurações, incluindo os jardins.


    Foto: Museu Imperial/Ibram/MTur

    Impresso mostrando o Palácio de Cristal e parte de seu jardim após a reforma, por volta de 1976.

    Sobre o espaço externo do Palácio e a recente hipótese do jardim ter sido projetado por Auguste Glaziou – Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial e Inspetor dos Jardins Municipais (RJ) – a historiadora, pesquisadora e presidente do Sistema Municipal de Museus, Rachel Wider, comenta que ainda não foi encontrada nenhuma prova da autoria do paisagismo. Ela ainda destaca que a intervenção da arqueologia é fundamental para qualquer atividade em jardins tombados, devido à grande probabilidade de se encontrar não só utensílios de época, como também estruturas que ajudem a explicar e a entender melhor o passado. Ainda assim, segundo ela, a simples descoberta precisa ser complementada com pesquisas históricas. 

    Devido ao trabalho de resgate da história do Palácio de Cristal, desde o ano passado, o mesmo segue fechado para visitação. De maio a setembro de 2021 foram encontradas milhares de peças do século XIX. Dentre elas, pedaços de louças inglesas e pedaços de stoneware – cerâmica que vinha, nessa época, da Alemanha, Bélgica e Holanda – faianças mais brutas, ferraduras, vidros (que podem ser originais do palácio) e até um cachimbo de porcelana.

    Desde o mês de setembro, uma nova demarcação de escavação foi realizada em frente ao Palácio. Depois da primeira etapa concluída, os arqueólogos começaram a pesquisar evidências da estrutura original do espaço – um trabalho extremamente minucioso, além de fundamental para a história de Petrópolis. Dentre elas, está a pesquisa sobre a base de um cruzeiro, que já foi identificada através de fotos do século XX.

    Sobre a relevância desse trabalho arqueológico, Rachel comenta: “Petrópolis ainda carece de um inventário completo de seus jardins históricos, e esperamos que essa situação do Palácio de Cristal dê um impulso nesse sentido.” Segundo ela, a Rede Brasileira de Jardins e Paisagens tem feito grandes pesquisas no sentido de valorizar e conscientizar sobre a questão do paisagismo e arquitetura. Rachel complementa: “Espero que nossa cidade possa buscar esse conhecimento e não só cuidar de seu patrimônio histórico como também mostrar a importância da pesquisa para a consolidação de nossa identidade.”

    Foto: Marco Oddone 

    O que chama mais a sua atenção na arquitetura do Palácio de Cristal? Poste sua foto no Instagram com a hashtag #tônatbn. As melhores fotos aparecerão no nosso feed aos sábados!

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